Inconfidência

Uma breve reflexão sobre o Governo Bolsonaro, o povo e o Brasil

Em tempos de quarentena, a maior estupidez de que tenho notícia, vi-me compelido a retornar aos meus escritos abandonados há um bom tempo.

Como já dito no passado, não escrevo para público algum. Meus escritos são meros desabafos, observações e conjecturas sobre apertos do coração e da alma, cuja única forma de aliviar é externando-os. Escrever é apenas uma forma ordenada e conveniente de fazê-lo, já que simplesmente falar pode nos levar a mão à cumbuca.

Acompanhei com certo distanciamento as manifestações ocorridas recentemente, neste 21 de Abril de 2020, data que se comemora a Inconfidência Mineira e seu herói maior Tiradentes. Joaquim José da Silva Xavier foi executado na forca em 1792, neste mesmo 21 de Abril. Tinha 45 anos de idade e completa noção dos deveres e responsabilidades de um CIDADÃO, ao ponto de por a vida a serviço desta Sociedade. Bom, isso foi há 288 anos...

Uma frase dita por Benjamin Franklin em 1755 emoldura bem nosso momento: "Those who would give up essential Liberty, to purchase a little temporary Safety, deserve neither Liberty nor Safety." que tomo a liberdade de traduzir assim: "Aqueles que abrem mão da essência de sua Liberdade, para obter breve e temporária Segurança, não merecem nem a Liberdade nem a Segurança."

Eu nunca encontrei uma frase que descrevesse melhor a sociedade brasileira. Como pequena e mesquinha ela é. Vejo manifestações de jovens e velhos brandindo bandeiras — e nem me atenho às cores que vestem e agitam — mas não vejo ali patriotas. Vejo uma multidão de bebês-chorões pedindo a essa ou aquela instituição que vá lá tirar as castanhas do fogo para eles. Claro, há também patriotas entre eles, mas a turba não tem a menor noção sobre o que fazer para se ter o que quer.

Pedem agora intervenção militar. Trocando em miúdos, querem abrir mão de sua Liberdade, muita ou pouca, para obter um pouco de Segurança. Vão acabar como no final dos anos 70, pedindo o fim daquilo que pediram e obtiveram em 1964. Ainda não aprenderam NADA. Chorões!

As palavras ditas pelo Presidente Bolsonaro, em que pese sua pobre oratória, foram eloquentes. Tendo o povo a sua frente e o Quartel General do Exército às costas, o presidente deu um puxão de orelhas nos seus "apoiadores" (aspas intencionais): "… tem que ser patriota e fazer a sua parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece."

Noutro momento, na entrada da residência oficial, uma cortada num arroubo de manifestante. Admoestado por um grito de "Tem que fechar o Supremo!", ao que ele retrucou: "Esquece essa conversa de fechar. Aqui não tem que fechar nada. Aqui é democracia. Aqui é respeito à Constituição Brasileira. Aqui é a minha casa e a sua casa também. Eu peço, por favor, que não se fale mais nisso. Supremo aberto, transparente; Congresso aberto, transparente." Perfeito!

Muitos de vocês já sabem o que penso da Constituição e não vou gastar tempo e espaço repetindo aqui. Pesquisem no blog. O mesmo vale para o Supremo, o Congresso, e não apenas eles. Nosso problema é que estamos sempre entregando aos mesmos sacripantas o trabalho de reformar ou dirigir nossas instituições. Isso é NOSSO DEVER. Nós precisamos recuperar a ESSÊNCIA DE NOSSA LIBERDADE e parar de delegar aos bandidos da Pátria aquilo que é nosso e nossa responsabilidade.

Eu já fui mas não vou mais a manifestações. Também não assino petições, manifestos, nada. São meros placebos para aliviar nossa consciência, para nos dar a sensação do dever cumprido. NÃO DÃO! Nada disso traz qualquer resultado prático. Quando muito obtemos migalhas enquanto a corja de biltres continua encastelada no Poder. Faça um breve exame de consciência e verá que tudo aquilo que você PENSOU TER se esvai lentamente pelos seus dedos. Tudo aquilo que você sonhou se evapora no momento em que acorda, abre os olhos e vê que ainda está no Brasil.

Lembro-me agora uma frase de Percival Puggina, uma das poucas pessoas admiráveis nesses dias. Percival termina seus pronunciamentos com a frase: "Meu nome é Percival Puggina e estou tendo o meu país de volta!" Bravo! É isso! Precisamos agarrar o que é nosso, nosso País, com nossas mãos, e tomá-lo de volta para nós e nosso uso, ainda que ao custo de nossas vidas como há 288 anos atrás.