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sábado, 26 de maio de 2012

Da coxia


Vocês verão no texto a seguir que a informação que repasso a vocês é "velha", isto é, já se transcorreu um bom tempo desde que foi escrita. Ainda assim, não deixa de ser interessante lê-la e constatar que há fogo de onde sai a fumaça. Tomei a liberdade de grifar algumas partes.

Depois eu comento.

Até quando?

Será que vamos chegar ao fundo do poço?

Sábado fui ao aniversário de 50 anos do Chico Otávio, repórter do Globo. Lá estavam, entre outros, o Rubens Valente, da Folha, outros “jornalistas investigativos”. Estava também o Wagner Montes, cuja assessora de imprensa na Alerj é amiga do Chico. Soube de informações interessantes:

  1. Coisas mais graves do que as apuradas pela operação Monte Carlo (da PF, criada para investigar Demóstenes e Cachoeira) foram apuradas na operação Las Vegas, que trata de ligações do Cachoeira com a cúpula do Judiciário. Haveria material incriminando (em maior ou menor grau) nove ministros do STJ e quatro do STF. Só que o STF requisitou toda a documentação a respeito, determinando que a PF não ficasse com cópia, e sentou-se em cima da papelada. Isso era sabido não só pelo Chico Otávio (Globo) e pelo Rubens (Folha), mas (pasmem!) pelo Wagner Montes.
  2. Como a área de atuação de Cachoeira é perto de Brasília e ele tem desenvoltura e poder de articulação, ele atua como representante de um pool nacional de contraventores que exploram bingos, caça-níqueis, videopôquer e afins. Não fala só por ele. Daí sua desenvoltura (e seu dinheiro).
  3. Cachoeira é um arquivista compulsivo. Tem gravações telefônicas e em vídeo que comprometem todos os grandes partidos e inclusive gente graúda do governo federal. Tem um vídeo em que dá R$ 1,5 milhão a uma alta figura ligada à campanha da Dilma. O Globo e a Folha tem a informação, mas não sabem quem recebeu o dinheiro. E não têm provas.
  4. O contador de Cachoeira, cuja foto está nos jornais, está em Miami, com cópia de tudo o que ele tem gravado. Se algo acontecer com o patrão, vem tudo à tona.
  5. Cachoeira está chantageando o governo federal. Diz que não vai aceitar a prisão. Diante disso, o PT está pagando os honorários de Márcio Tomaz Bastos (R$ 16 milhões), que o defende e vai de jatinho à penitenciária de segurança máxima de Mossoró, onde Cachoeira está preso.(*) Folha e Globo têm a informação de que é o PT quem paga Márcio, mas não a publicam por falta de provas.

    (*)N.B. Cachoeira foi transferido para o Presídio da Papuda, no Distrito Federal, em 18 de Abril deste ano.


     
  6. Todo mundo está com medo de investigações sobre a Delta. Parece que ela – que contratou Dirceu como “consultor”, o que ele não nega – tem tido uma atuação muito mais agressiva do que as demais empreiteiras e cresceu de forma vertiginosa. Tem “negócios” com PT, PMDB, DEM, PSDB...
  7. Ninguém entendia muito bem porque Lula teria dado força à criação da CPI. Detonar Marconi Perillo parecia pouco para explicar uma CPI que pode abalar a República. Os jornais de hoje já dizem que o PT já pensa em recuar. De qualquer forma, como se vê, a Cosa Nostra chegou aos trópicos.


Meu pitaco:

O Brasil virou mesmo um caso da Máfia.

No seu famoso romance “O Poderoso Chefão”, Mario Puzo retrata como deveria ser “a nova visão do crime” na concepção de Vito Corleone. Para ele, o poder político era a chave e ele tudo faz para consegui-lo.

Don Corleone até mesmo abre mão de excelentes negócios, como o nascente (e promissor) comércio de drogas — rejeita a oferta porque sabe que poderia perder os políticos e juízes que tem no seu bolso — e a trama se inicia daí.

Assim como no livro de Puzo, o que assistimos é a mesma trama novelesca. Jogo, drogas, tráfico de influência, etc, tudo demanda conexões nos três níveis do Poder — Executivo, Legislativo e Judiciário — e Cachoeira está presente em todos eles. Nada mais eloquente que ter para sua defesa o portentoso doutor Márcio, o preferido por dez em dez dos escroques endinheirados de Banânia. Estão entre sua seleta clientela os Lula da Silva, os EbatistaX, além de várias figuras mensalônicas. Pode aposentar-se agora que não consegue queimar seu pé-de-meia.

Será uma cachoeira (e não um rio) que lavará as cavalariças de Brasília? Duvido. A tão cantada república brasileira não nasceu, foi um aborto desde a primeira hora. Uma piada sem graça que contaram para um marechal doente e demente, contada por uma meia-dúzia de “patriotas” insatisfeitos. Seus pés tortos estão podres; balançam sobre o solo instável onde se assentou.

Mas tranquilizem-se, nada acontecerá; nossa república de pés-de-barro está salva. Já se sente ao longe o cheiro do orégano e do molho de tomates, a mozarela tostada faz bolhas; quem talvez não sobreviva ao cardápio sejamos nós.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Muita esperteza

Aqui em Minas se usa dizer que "esperteza quando é muita vira bicho e come o esperto". Dizem que quem gostava muito da frase era o finado Tancredo Neves, avô e mentor do hoje senador Aécio Neves, virtual candidato à Presidência da República em 2014. Lendo a matéria publicada no Estadão, tenho dúvidas se Aécio ouviu a tal frase do avô. Repasso trechos, grifos meus.

Aécio fala em aliança com PSB em 2014

Embora reconheça que sigla seja aliada do governo federal petista, senador tucano diz que 'as coisas podem estar diferentes' até a eleição

MARCELO PORTELA, BELO HORIZONTE

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) admitiu ontem a possibilidade de o partido tentar uma aproximação com o PSB para a corrida pela Presidência da República em 2014. Cotado como um dos principais nomes do tucanato para disputar a sucessão presidencial, o senador lembrou que os socialistas atualmente integram a base do governo, mas ressaltou que "em 2013 ou em 2014 as coisas podem estar diferentes".

[...]

Aécio ressaltou que é preciso "respeitar a posição" do PSB, hoje um partido aliado do Palácio do Planalto, mas lembrou que o PSDB já tem proximidade com os socialistas em várias cidades, como em Belo Horizonte, onde os tucanos devem reeditar a coligação em torno da reeleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB), cuja vitória em 2008 também teve apoio do PT. Para expandir essa aliança ao cenário nacional, porém, o senador acredita que os tucanos precisam apresentar "um projeto que signifique expectativa de poder, um modelo novo para o Brasil".

"Vamos definir cinco ou seis grandes bandeiras que vão emoldurar as nossas candidaturas, inclusive nas eleições municipais", afirmou Aécio. "O PSDB tem que ir definindo, clareando essas suas ideias e, em 2013, vamos ver aqueles que queiram se unir em torno desse projeto. E o PSB tem conosco relações importantes em vários Estados. Temos de dar tempo ao tempo. O PSB hoje participa da base de governo, mas em 2013 ou em 2014 as coisas podem estar diferentes", observou.

O tucano voltou a defender a realização de prévias para a escolha do nome que disputará a Presidência pelo PSDB, daqui a menos de três anos. "Ninguém é candidato de si próprio. Acho que o PSDB tem nomes colocados e, lá na frente, vamos definir quem é o melhor."

[...]
Após encontro com o governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB), na manhã de ontem, Aécio afirmou que adotará a mesma posição em relação à sucessão na capital mineira. Apesar de classificar como "natural" a reedição da aliança com o PSB de Lacerda, o senador disse que a "negociação vai ser conduzida pela direção municipal" do partido, já que a parte majoritária do PT mineiro, que também defende a coligação com os tucanos em torno do socialista, reivindica a indicação do vice, como ocorreu em 2008.

Aécio é político hábil e sagaz, isto é inquestionável, mas acho que ele pode estar julgando o PSB nacional pelo PSB de Márcio Lacerda, atual prefeito de Belo Horizonte e pessoa de seu relacionamento. Não é não — e digo mais — Aécio não devia se sentir tão à vontade em meio aos socialistas — esse pessoal "de esquerda" tem uma forma bem peculiar de fazer alianças e de "cobrar" contrapartidas —, basta ver no balcão de negócios que se transformou o governo petista.

O PSDB foi bastante feliz na aliança celebrada com o antigo PFL — hoje o Dem — e juntos criaram um governo sério, comprometido com a higidez fiscal, o investimento produtivo (ainda que pequeno para o tamanho e a necessidade do país) e claramente favorável à livre iniciativa, à redução da interferência estatal na economia e à redução de impostos (infelizmente, o maior esforço foi feito na desoneração das exportações, quando podia ter sido mais amplo).

Tudo posto à mesa, é de se perguntar se não é passada a hora de um governo de direita assumir o Brasil. Fala-se da "direita" como se fosse o outro nome do Demônio e isso após 9 anos de governos "de esquerda" cuja maior façanha foi a produção de escândalos, a formação de quadrilhas, o aparelhamento do Estado e da coisa pública para seus interesses privados. Se eu sou contra tudo isso, então sou "de direita", não há porque ter vergonha, pelo contrário, é motivo de orgulho ser reto, probo e honesto.

E como imagens valem por mil palavras, passo a vocês uma boa imagem do que é a esquerda e o que é a direita. As imagens falam por si, eloquentes. Abaixo de cada uma delas um breve texto explicativo.

As duas Coreias, a do Norte (em vermelho) acima e a do Sul (verde) abaixo


As Coreias vistas à noite por satélite
Só pelo uso de energia elétrica sabe-se quem é "de direita"


Tira-teima: montagem das duas imagens

Voltando ao tema, é preciso perguntar ao cidadão brasileiro o que ele deseja ver acontecer aqui, porque o projeto político das esquerdas — em qualquer lugar do mundo onde ocorreu — é um projeto de Poder, nunca um projeto político que vise o bem estar social, o progresso e o crescimento, como pregam. Aécio devia se perguntar com qual discurso venderá seu peixe, porque esse peixe "das esquerdas" já tem discurso e vendedor, o PSB entre eles.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Quem precisa de inimigos com tais amigos

Está lá, no Estadão de hoje (grifos meus):

Jovens reeditam embate Serra versus Aécio
AE - Agência Estado

O congresso nacional da Juventude do PSDB, que começa hoje em Goiânia, promete se tornar um microcosmos do racha tucano entre apoiadores do senador Aécio Neves (MG) e do ex-governador de São Paulo José Serra. Ambos são esperados no evento e devem usar suas falas para tentar mobilizar os militantes em seu favor. Os líderes jovens do PSDB estimam que atualmente a maioria dos diretórios estaduais é comandada por aecistas. O afastamento de Serra desta ala do partido teria se intensificado com o bate-boca, em novembro, entre o ex-governador e o presidente da juventude do tucanato paulista, Paulo Mathias. Serra deve aproveitar o discurso de amanhã para elogiar Mathias e diminuir sua rejeição.

Os militantes mais alinhados ao ex-governador de São Paulo, contudo, tentam minimizar a briga entre ele e Mathias. "Não houve briga! Isso já foi resolvido", diz enfaticamente Wesley Goggi, secretário nacional de juventude do PSDB. Ele pertence ao diretório do Espírito Santo, hoje visto como um dos mais serristas. Foi dele o convite para que Serra e Aécio participassem do evento. "Não tem desconforto nenhum", garante, reiterando que o debate sobre o candidato à Presidência só deve ser feito em 2013.

O presidente da Juventude do PSDB, Marcelo Richa - que os outros tucanos veem como um articulador de seu pai, o governador do Paraná, Beto Richa, e alheio à disputa entre Serra e Aécio -, também nega qualquer conflito entre os dois líderes partidários: "A juventude tem batalhado muito pela unidade".

Acho que deu para notar, pelos meus grifos, que não vi nada de bom na notícia acima e não vi mesmo! É impressionante que o PSDB — outrora um grande partido — tenha se transformado num partideco de baixa categoria. Vá lá, ainda tem algum tamanho e influência, mas é um arremedo da sombra que fazia antes.

O partido se enveredou nessa disputa entre Serra e Aécio e ainda não percebeu que só fazem o jogo do PT e do PMDB. Ninguém ainda percebeu que se trata do clássico "dividir para conquistar"? A coisa já está ruim a partir do atual presidente do partido, que nem tem força para enfrentar os grupelhos que se formam aqui e ali. Olhem novamente para a matéria acima e vocês verão que existem "serristas", "aecistas", e pasmem!, "richistas" também. Ora, não há partido que resista a tantas divas; acabará queimado às cinzas nesta fogueira de vaidades.

O que o PSDB precisa é assumir seu papel — como bem ensinou o ex-presidente FHC — e este lugar é a DIREITA. Isso mesmo! Existe um imenso vazio na ala conservadora e o PSDB insiste em arrumar lugar na esquerda entulhada pelo PT e outros partidos da linha esquerdista. Deixem as esquerdas com eles. Tem mais: não se preocupem com o PMDB — ele se alinhará automaticamente com a proposta vencedora. Dito isto, o PSDB, Dem, PSD e, acho, o PPS, devem compor um projeto eleitoral, uma meta a ser perseguida, aliás, como fez o PT. O PSDB herdou o Poder a partir do sucesso do Plano Real do governo Itamar, então, nunca precisou fazer muita força para nada. Agora é diferente.

Definida a meta, selecionar os melhores quadros (pessoas) para o cargos eletivos. Vamos esquecer aqueles pré-requisitos idiotas como "ele é o mais competente", "ela é a melhor preparada" e que tais. Não é isso que ganha votos. Política não é a escolha de um CEO para uma empresa, não é a contratação do melhor funcionário para um cargo. Política é o convencimento do eleitorado. Para uma parte dele, de se ter a melhor proposta; para outra, de ser a melhor resposta; e assim vai. Então, em política ganha quem convence mais e melhor. Simples assim!

Com isso, quero dizer que não importa as qualificações técnicas de um Serra se um Aécio for capaz de arrumar mais votos. Escolher Serra para concorrer a uma eleição seria/é dar um tiro no pé. Como disse uma vez o Juca Chaves, "Tem todas as qualidades que desprezo e nenhum dos vícios que admiro." O eleitorado é mais ou menos assim; não votam olhando o currículo de ninguém, votam olhando sua estampa. Alguém aí se lembra da eleição do Collor? Pois é... Então, se o eleitorado quiser Aécio, dê Aécio a eles, porque se vocês derem Serra vão perder com Serra, novamente, pela terceira vez.

Grosso modo, não é preciso ser um "mauricinho", mas é preciso ter estampa. Também não precisa ser competente, basta falar bem e com desenvoltura. E mais importante: não precisa ser uma unanimidade (posto que são burras), apenas que tenha baixa rejeição. Tudo o mais que faltar ao candidato, os partidos que o apoi(ar)am certamente proverão, não necessariamente com pessoas, mas com boas indicações para os cargos certos. Isto é um projeto de Poder duradouro e vencedor.

Para terminar, a campanha de 2014 começa agora, na campanha de 2012. Se, por exemplo, o PSDB perder São Paulo, dificilmente poderá se lançar para a Presidência da República. Garantir a cidade de São Paulo é uma daquelas metas que falei há pouco. O estado já está com o partido, então manter a cidade é a meta imediata a ser cumprida. Serra é um bom nome, mas se ele não quiser, tem que ser o de um aliado forte, no caso Afif do PSD. Lamentavelmente, o PSDB paulista parece não ver as coisas assim ou simplesmente não vê.

First things first! Já é mais do que hora do PSDB se entender, nem que seja à custa de uns puxões de orelha e palmadas, ao menos enquanto a lei permitir. FHC está certo quando diz que tanto Lula quanto o PT podem ser batidos. Aécio e Serra também dizem a mesma coisa, só que eu creio que o eleitorado não acredita em Serra, afinal, já disse isso a ele três vezes. Será preciso desenhar? Vamos lá, cortem logo o baralho porque jogo é para ser jogado e a fila precisa andar.

Eis minha receita para uma campanha vitoriosa. De volta ao Poder, (re)fazer as coisas que o País precisa, como privatizações, investimentos em infraestrutura, educação e saúde; porque, até hoje, o PT ainda não desceu do palanque.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Por um pouco de conservadorismo

Não faz assim tanto tempo, o Brasil tinha partidos conservadores, ou "de direita". Hoje, eles estão entre as espécies em extinção e isso não é bom. Na verdade é péssimo! Dentre a miríade de partidos que povoam a fauna política do Brasil, apenas dois se identificam, envergonhadamente, como conservadores: o PP (Partido Progressista, ex-PDS e ex-ARENA) e o DEM (Democratas, ex-PFL — Partido da Frente Liberal). Todos os demais se dizem "de esquerda", centro-esquerda ou de centro (e.g. o recém criado PSD — Partido Social Democrático, mais conhecido como o Partido do Kassab — PK —, uma agremiação de dissidentes do DEM e outros partidos. A nossa Política, assim distribuída, é animal coxo, isso se já não estiver irremediavelmente perneta.

A política nacional, já um ente pouco representativo da sociedade, consegue se tornar ainda menos representativa. Afinal, é lícito assumir que a sociedade tenha representantes de todas as alas, não apenas de "progressistas". Para ser bem honesto, a política nacional só tem representado a si mesma, especialmente (ou descaradamente) desde o advento da Era Lula. A meritocracia incipiente foi substituída pelo assistencialismo populista, os compromissos de Estado pelo discurso fácil e fátuo. Quanto ao povo, a maioria ignara comprou e pagou a farsa. Um artigo do Estadão retrata bem esse vácuo social. Grifos meus:

'PSDB precisa assumir-se como partido de centro-direita'
Estudiosa americana diz que a própria legenda fez essa escolha nos anos 90 e que retomá-la seria um bem ao debate político
GABRIEL MANZANO , ROLDÃO ARRUDA - O Estado de S.Paulo

No momento em que o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) expõe publicamente, via Twitter, a carência de um rumo claro para o seu PSDB, a professora americana Frances Hagopian, uma estudiosa dos partidos brasileiros, se arrisca a oferecer um norte aos tucanos: ocupar o espaço da centro-direita no espectro ideológico.

Hagopian não está sozinha. "Ela disse a verdade", endossou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao ser informado pelo Estado da entrevista concedida pela americana.

"Acredito que eles (os tucanos) podem se destacar nesse espaço de centro-direita, se tiverem coragem para fazer isso", afirma a professora da Universidade Harvard. "Precisam mostrar o que fizeram, ser fiéis a si mesmos", completa ela, referindo-se às transformações capitaneadas pela PSDB na gestão FHC (1995-2002)

A receita, no entanto, não é novo, avisa ela. "Na Inglaterra, Tony Blair levou os trabalhistas para o centro e deixou os conservadores sem chão. No Chile, a Concertación criou uma ampla agenda que confundiu os partidos."

Em São Paulo, onde participou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de um debate no Centro Ruth Cardoso, ela falou ao Estado semana passada: "Por toda parte há muita insatisfação com a política, mas isso é parte do jogo. As coisas ficaram assim por causa da rapidez da globalização. Não temos um governo mundial, mas temos uma economia mundial, em que as soluções nacionais são lentas e ineficazes".

Há uma grande insatisfação, no Brasil, com os partidos e os políticos. O governo tem uma aliança de 14 partidos, manda demais, domina o Legislativo...

É a mesma queixa que se faz no Chile, em países da Europa, até nos Estados Unidos. Lá a Casa Branca envia uma reforma da saúde, ou leis para o meio ambiente, e elas ficam 18 meses, até mais, encalhadas. Isso de fato complica a democracia, pois os governos acabam não dando respostas a questões urgentes da sociedade. Mas acho que, no geral, a democracia amadureceu por aqui, está melhor do que há 20 anos. Os partidos, pelo menos os grandes, se fortaleceram. Refiro-me a dois ou três, os âncoras, com grandes bancadas e com presidenciáveis.

Um desses âncoras, o PSDB, vive um momento difícil. O PT incorporou as bandeiras da social-democracia e ele perdeu espaço, votos e o discurso. De que modo deveria reagir?

Nos anos 90, na Inglaterra, ocorreu o mesmo. Tony Blair levou o Partido Trabalhista para o centro e os conservadores ficaram sem chão - e isso durou 15 anos. Também no Chile se fez a Concertación e foi a mesma coisa. Isso é parte do jogo.

Mas aqui o PSDB precisa encontrar um rumo. De que modo?

O que a democracia social viveu aqui foi interessante. Por razões ideológicas, que eu entendi, o partido deu um primeiro passo à direita, para reformar o Estado. Perceberam que não dava para avançar em saúde ou educação com um Estado desestruturado, na bancarrota. Precisavam recuperar a solvência fiscal, vender as empresas de aço, depois outras, fazer uma reforma administrativa, a previdenciária. E veja, foi o PSDB que deu essa guinada para a centro-direita. Pois agora devia assumir o que fez, valorizar metas como os investimentos na infraestrutura, sanear o sistema fiscal. Acredito que eles podem destacar-se nesse espaço, de centro-direita, se tiverem coragem para fazer isso.

Mas uma guinada para a direita, por menor que seja, é política e eleitoralmente arriscada. No Brasil 'é proibido' ser de direita...

Não estou dizendo que um partido da social-democracia deva "se reinventar" como partido de direita. A coragem de que falo é para debater metas concretas, ousadas. Seria um bem para o País. O debate político aqui tem áreas de consenso, como melhorar a educação, que é tarefa urgente para se chegar à justiça social. Mas você pode ter um grande projeto, que inclua novas reformas, modernizar portos, atacar de fato toda a infraestrutura. Isso pode ser feito de diferentes maneiras, e uma delas é diminuindo o tamanho do Estado, para recuperar recursos e destiná-los, aí sim, às urgências sociais. Como se vê, estas são causas da social-democracia. Sei que isso nos leva a outra questão, que é a de definir o que é uma social-democracia em 2012. É um bom debate. Sabemos que ela é certamente diferente dos anos 90 ou dos anos 70. O País teria muito a ganhar abrindo essa discussão.

Como fica o PT nesse cenário?

O problema das esquerdas, como já se viu na Europa, sempre foi descobrir como se manter fiel às suas bases e moderar o discurso para ganhar eleições. O PT fez isso em 2002. No longo prazo, esse movimento para o centro pode matar sua identidade como partido de esquerda. Se isso se agravar, aparece outro partido de esquerda e lhe toma o lugar. A propósito, lembro-me de um artigo do Thomas Friedman, que veio ao Brasil e escreveu que Lula e FHC faziam uma dança do tipo nado sincronizado. E atribuiu essa dança à globalização.

Marina Silva tentou criar uma alternativa, em 2010, e chegou aos 20% do eleitorado. Há os indignados na Espanha e protestos de jovens por toda parte. Para a sra., o que isso representa?

Não acho que a crise seja no modelo político. Eu não ligaria os votos de Marina aos indignados da Espanha. Se há uma crise, é econômica, uma crise de globalização. Não temos um governo mundial, mas sim uma economia mundial. A economia muda mais rápido do que os governos conseguem regular. Pactos vão caindo e as pessoas se sentem inseguras. Mas não vejo como superar isso com políticas nacionais ou de partidos.

Enfim, a sra. acha que a insatisfação política no Brasil é apenas parte de uma crise maior?

Eu não acho que o Brasil esteja vivendo uma crise. Há diferenças de opinião, dentro da normalidade. E olhe que, hoje, a normalidade não é pouca coisa.

Optei por reproduzir todo o texto para não comprometer a ideia contida nele. Certas coisas que foram ditas, na minha modesta opinião, são verdades cabalares. Primeira, a de que o PT deu um passo em direção ao centro para viabilizar sua eleição.Pode-se dizer que foi uma prestidigitação sem a qual o partido de esquerda "batia na trave" mas nunca fazia o gol. A daqui se chamou "Carta ao Povo Brasileiro". Fizeram o mesmo no Peru para a campanha do Ollanta Humala, aliás, sob supervisão do petista Felipe Belisario Wermus, vulgo Luis Favre. Engraçado como militante esquerdista sempre tem mais de um nome... 

A segunda, foi o movimento à direita do PSDB, isto é, para viabilizar o atendimento "às urgências sociais", precisou-se "sanear" o país através de uma política conservadora. O efeito benéfico das privatizações foi eclipsado pela política de juros e de responsabilidade fiscal. O PT e demais partidos "progressistas" aproveitaram-se disso para satanizar a "direita", isto é, o PSDB e o PFL, logrando êxito. Estranhamente, nenhum político desses partidos (PSDB/PFL) manifestou-se em defesa dos próprios atos — FHC foi deixado à própria sorte. Ainda hoje, passados mais de oito anos, peessedebistas se envergonham daquele "passo à direita".

Isso é incompreensível para mim. Afinal, o país deu um salto qualitativo sem par em sua história. Alguém aí se lembra do quanto custava uma linha telefônica? O quão difícil era comprar uma, pagando-se por anos a fio e esperando mais um par de anos antes de poder contar com a linha. E os celulares? Chegou a comprar algum quando a operadora era uma estatal? Lembra-se de como eles quase nunca funcionavam porque eram poucas as antenas repetidoras? De quatro montadoras de veículos passamos a quatorze em poucos anos — aumentou-se a oferta e a competição; e muito mais.

Ainda hoje eu vejo pessoas criticando a privatização da Vale, para citar apenas a joia da coroa. Ela hoje paga de impostos, anualmente, mais do que o valor pelo qual foi privatizada. Os empregos saltaram de 13 mil para 41 mil (antes, mais "cabides" que empregos de fato), seu faturamento em 2009 foi de US$ 46,5 bilhões e seu valor atual de mercado é de US$ 160 bilhões. Pela Bolsa, a Vale que valia R$ 1,28 por ação ordinária e R$ 1,30 por ação preferencial, quando vendida, vale agora R$ 41,98 (ON) e R$ 38,79 (PNA), em plena época de baixa nas bolsas de todo o mundo. Mesmo descontando-se a inflação do período, obtém-se uma valorização real de 1.262,32% nas ON e de 1.139,44% nas PN. Estivesse ainda sob gestão governamental, ela jamais alcançaria tais níveis. Isso — para mim — é que é ser Progressista; o resto é firula e proselitismo barato.