domingo, 30 de outubro de 2011

O exame da OAB e minha pitada de mostarda

Escuto essa conversa desde que cursei Direito há uns bons anos. Não, eu não me formei. Descobri na segunda metade do curso que advocacia não seria a minha praia. Certas profissões exigem algo além do mero conhecimento e advocacia é uma delas — faltou-me estômago. Medicina é outra. Passar seis anos numa faculdade — por melhor que seja — não faz do aluno um bom médico, menos ainda um especialista. Para piorar o quadro, em cada porta de garagem surge uma nova "faculdade". Sem medo de cometer uma injustiça, a imensa maioria delas, senão a sua totalidade, meras arapucas para tomar dinheiro de incautos.

É bom que se diga que a OAB, que não exigia qualquer exame de proficiência, foi forçada a adotá-lo pela péssima qualidade dos formandos que obtinham o registro para advogar. Muitos não sabiam sequer escrever o Português, menos ainda redigir uma inicial. Juízes recusavam petições e recursos simplesmente por não conseguir entender o que estava escrito no papel. Pergunto: você gostaria de ser representado por um "advogado" desses? Creio que não. Assim, o Exame da Ordem surge como uma medida profilática e sanitária, nada mais.

Pois bem, a OAB vem sendo bombardeada com ações em várias instâncias contra o tal exame. Uma, questionando sua constitucionalidade (ADI), foi julgada pelo Supremo. O exame foi considerado constitucional; fim das querelas. Mesmo assim — e como diz o título — Ich möchte für meinen Senf (quero por minha mostarda; dar meu pitaco).

Na ADI movida pelo advogado Ulysses Vicente Tomasini, em nome do bacharel João Volante, sustentava-se que "o exame limita o exercício livre da profissão" e "a OAB não tem legitimidade para exigir uma prova de quem já se formou", isto é, para ele "a educação é que qualifica, não uma prova imposta pela organização de classe". Está assim na imprensa.

Na minha imodesta opinião de leigo, uma tremenda bobagem! Primeiro, porque o exame não limita ninguém de trabalhar. Existem milhares de bacharéis trabalhando por aí, auferindo postos e rendimentos compatíveis com sua formação superior. Assim, logo de cara, a afirmação não se sustenta. O que a Ordem qualifica e outorga é a prerrogativa de um bacharel em Direito representar pessoas e seus interesses perante um juízo. Ponto.

Vocês perceberam que a diferença nem mesmo é sutil; é bem clara! A instituição de ensino, devidamente licenciada e fiscalizada pelo MEC, qualifica o aluno como bacharel não como advogado. A ele é permitido auferir todas as benesses do posto, mas, para falar em nome de outra pessoa em juízo ele precisará provar que está à altura da responsabilidade.

Ressalte-se, ainda, que à minha época prestávamos o exame com o conhecimento obtido na faculdade — não existiam esses "cursinhos" que pululam por aí — um claro sinal de que a qualidade dos formandos e/ou das escolas vem decaindo consistentemente, razão ainda maior para a manutenção do exame.

Exames como este são comuns em vários países e as razões são quase sempre as mesmas. Eu entendo que profissões regulamentadas (se há regras há limitação, outra premissa que desautoriza o advogado do Sr. Volante), deveriam sempre ser submetidas a exame de proficiência pelos seus pares, principalmente aquelas cuja imperícia na prática possa causar dano a terceiros. Como bem disse o ministro Celso de Mello no seu voto pela manutençao do exame (grifos meus),
"Não é, portanto, qualquer profissão que se expõe a possibilidade constitucional de intervenção regulativa do Estado, pelo contrário. Vê-se pois que profissões, empregos ou ofícios que não façam instaurar perigos à vida, à saúde, à propriedade ou à segurança de terceiros não têm necessidade de requisitos mínimos. Isso já é mostrado aqui desde a década de 10 e 20 do século passado assim como recentemente, em pleno terceiro milênio, quando votada a regulamentação da profissão de jornalista"
Este "quase bacharel" acompanha o brilhante voto do relator.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Não se mude do Brasil — mude o Brasil!

Há algum tempo eu ouvi do jornalista José Nêumanne Pinto uma frase que eu digo e repito desde 2002 quando Lula foi eleito pela primeira vez: "Lula é o presidente que melhor representa o Brasil". Uau!

Vindo de uma pessoa que dedica boa parte do seu tempo a defenestrar tal figura, seu partido e "copanhêros", não deixa de ser inusitado. Mas é a pura verdade, Lula é mesmo "a cara" de nossa sociedade. Você pode até não concordar com isso — eu até me envergonho de dizê-lo — mas o fato é que a maioria de nossa sociedade é de baixa qualidade, seja no quesito educação/formação ou no ético/moral. Assim, sem meias palavras, uma gentalha.

E como disse há muitos posts atrás, este é um dos males da Democracia: se a choldra é quem faz a maioria, então teremos a governança da choldra. Mas não é sobre Lula — ou a caterva que o elegeu — a razão do post; oportunamente voltarei a este assunto.Eu quero mostrar um vídeo bem curtinho, ao mesmo tempo explicativo e educativo, que mostra bem como as coisas são e como podem ser mudadas para melhor e para o bem. Vamos a ele!


Viram?! Não é nenhum bicho de sete cabeças. E mais: nem mesmo novidade é! Usado e aprovado pelos países desenvolvidos do mundo, o voto distrital pode ser uma realidade aqui também, aproximando o eleitor do eleito. Mutatis mutandi, como diz aquela propaganda de pneus, "O cidadão não é nada sem controle."

O deboche do escárnio

No último post eu me alonguei um pouco sobre a corrupção. Neste serei sucinto: corrupção no Brasil é tão visceral que virou deboche. O escárnio pela coisa pública vem de vereadores e vai até a Praça dos Três Poderes em Brasília. Prestem atenção no que uma dessas "figurinhas" disse:


E não satisfeito em nos esculhambar, ainda se acha no direito de cuspir na nossa cara. Ficam falando que Gaddafi, Saddam e que tais exploraram seus compatriotas por décadas e tal... Eu pergunto a você, cidadão, há quantos anos você acha que essa corja aí nos explora? Perceberam, né? Nós damos o duro aqui, nos matamos de trabalhar, estudamos, pagamos impostos e o nosso sangue vai para um crápula sem vergonha desses.

E ele é apenas um vereador! Imaginem se um safardana desses chega a uma prefeitura ou cargo ainda maior. Pois fique sabendo que o número deles vai aumentar! Dos atuais 57748, o Brasil contará com 59500 vereadores a partir de 2012. Vá pensando aí quantos dessa malta serão da fina extirpe do bandido acima. Eita!

É muito difícil não se indignar com tanta desfaçatez; algo precisa ser feito e já! O problema é que a Lei Orgânica que rege o sistema político permite tais distorções. Em breve eu postarei um pequeno vídeo mostrando como é e como pode vir a ser a política e a democracia representativa no Brasil.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Bons tempos em que a saúva era o que preocupava o Brasil

64% dos brasileiros acreditam que a corrupção aumentou nos últimos três
anos, ou seja, de cada 10 pessoas, seis acreditam que a corrupção cresceu.
Desde que iniciei este blog, a tag "corrupção" não sai do primeiro lugar. "Dilma" vem logo a seguir, mas também ela é a bola da vez, o foco de todas as luzes, apesar de sempre dar sua contribuição para a outra tag. Ontem, por exemplo, caiu mais um ministro do seu enorme ministério — o sexto em seu primeiro ano de governo, o quinto por denúncia de corrupção — um recorde. Já "corrupção", não dá tréguas; é campeã inconteste dos assuntos tratados aqui e tudo indica  ficará assim por um longo tempo.

Se vocês me acompanham há algum tempo, lembrarão que o mote aqui sempre foi a crítica. Desde o primeiro post, malhamos o ferro mesmo frio. Mais que isso, o que faço aqui é a crítica indignada, porque tenho a clara percepção que os governos Lula e Dilma/Lula passaram dos limites. Chega!, o copo transbordou. Já não basta franzir o cenho quando do coaxar do Sapo Barbudo ou daquela narrativa monocórdia e sem alma da Dilma. Aliás, ela sempre me passa a ideia de outra pessoa falando. Como um boneco de ventríloquo ela empresta a estampa canhestra, os gestos desengonçados e a voz desagradável ao Sapo — sabemos bem quem lhe puxa os cordéis.

O lulo-petismo é como uma Hidra venenosa
Não é de se admirar então que todos os ministros achados em desgraça sejam de sua indicação direta. É bastante inusitado que um ex-presidente indique ao sucessor ministros para o seu Gabinete. É preocupante que desse Gabinete, seis ministros caíram em desgraça em menos de um ano (o primeiro!) de governo — cinco por corrupção e um por insubordinação. Dilma, qual a um cão, se mostra mais fiel ao dono que a si mesma — tocante, não fosse por demais alarmante. É preciso também reconhecer a criatividade do lulo-petismo para "aparelhar" nossas instituições. Em todos os níveis do Poder eles cravaram sua bandeira, em cada repartição existe um tentáculo, como se fosse uma Hidra de muitas cabeças, hálito venenoso e quase impossível de se matar.

Já não é mais possível mudar o canal da TV ou a estação de rádio; deixar de ler jornais ou revistas também não é opção — a corrupção desses governos, o escândalo, a bandidagem oficial insistem em chutar nossa porta, a bater em nossa cara e a nos encher de vergonha. Já é passada a hora de bater de volta, devolver os insultos e retomar um pouco do nosso amor próprio. Eu digo aqui e lá fora, todos os dias, "Não! Não! Não!, vocês não podem! Chega! Basta! Fora!"

O Brasil está entre os países mais corruptos do mundo.
O que me parece é que este estado de indignação vai lentamente tomando conta da população. É verdade que este sentimento não é de todos — "a voz rouca das ruas" ainda é de uma pequena minoria — mas cresce a cada dia. Já promoveram atos públicos contra a corrupção em várias cidades. Apesar do número de pessoas nessas manifestações ser ainda pequeno, seu número cresce a cada dia. Cresce porque vão tomando conhecimento da rapinagem que se pratica lá no Planalto. Cresce porque os tributos que pesam em nossas costas é insuficiente para satisfazer a ganância e a voracidade dos ratos encastelados no Executivo, no Legislativo e no Judiciário; e o pior, quase nada daquilo que nos tiram retorna a nosso favor. Você já pensou o que seria possível fazer com esses 724 bilhões?

Dizem que o movimento contra a corrupção é coisa de uns poucos burgueses, filhinhos de papai e que tais. Pode ser, mas não devia ser. A campanha pelas eleições diretas também começou assim. No início, uns poucos populares em comícios em Abreu e Lima, PE e em Goiânia; algum tempo depois milhões e milhões por todo o Brasil. Quem de vocês não se emocionou ao ver aquelas ruas e avenidas de Belo Horizonte, São Paulo e Rio tomadas pela multidão pedindo Diretas Já! em alto e bom som? Aliás, é bom que se diga que essas eleições diretas se encontram em risco pela proposta do PT e com o aval de Lula e Dilma. O projeto de lei (inconstitucional, é bom que se diga) pelo voto em lista fechada decreta o fim desse mesmo voto direto, o mesmo voto que elegeu Lula, Dilma e a única forma de tirá-los do poder. É por desejarem se perpetuarem lá que eles preparam mais essa violência contra o povo.

"Por este y otras cositas..."
Não falta muito não. Cedo ou tarde acontece aquela coisa inesperada — o elemento catalisador — e o rastilho se acende. No lugar de Lula e Dilma estaria muito preocupado. A força de uma população esbulhada e aviltada contra seu opressor chega às dimensões de uma catástrofe natural. É algo incontrolável. Como num sismo, a montanha que inerte por séculos se movimenta, acendem-se vulcões e entornam-se rios de lava, arrasa-se a superfície e suas entranhas. Os episódios recentes da África e do Oriente Médio são bastante eloquentes. Estará o lulo-petismo disposto e pagar para ver?

Houve um tempo em que a praga dessa terra era a saúva; até se dizia "Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil". Pois bem, acabamos com ela, ou melhor, a saúva está sob controle. Ela existe aqui e ali, mas já não destrói nossas plantações nem afeta nossas colheitas. O Brasil venceu aquela saúva, temos outra a vencer.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

E eu a-cre-di-teeei!!!

Há uns 18 anos atrás eu era um feliz proprietário de um Ford Escort a álcool. O motor era o velho Ford 1.6 CHT, derivado dos Renault dos Ford Corcel de antigamente. Para quem viveu naquela época, esses motores equipavam os Renault Dauphine/Gordini trazidos pela extinta Willys Overland do Brasil, também fabricante do Aero Willys, da Rural Willys e dos Jeep Willys, posteriormente adquirida pela Ford que dela herdou o Projeto M (o Corcel). O tal motor, muito problemático no Gordini e no esportivo Interlagos, revelou-se maravilhosamente no Corcel, "culpa" — dizem — de um radiador selado de maior capacidade. Na versão original, complicada ainda pela montagem na traseira dos carros, o motor superaquecia e quebrava com frequência.

Esse mesmo motor converteu-se no melhor "motor a álcool" do mercado, aquele que permitia as maiores taxas de compressão e o melhor aproveitamento das características do "novo" combustível nacional. Era a pura verdade. Relevada a pequena inconveniência das partidas em dias mais frios, o carro era uma beleza. Tudo conspirava a favor do novo combustível não fosse a crise de abastecimento do produto que sobreveio, o que nos deixou literalmente à pé. Eu perdi a conta das vezes em que precisava levantar às 2 ou 3 horas da madrugada, a tempo de sair para entrar numa fila de um posto qualquer que esperava pelo produto. Era uma loteria. Um posto podia receber, quando muito, uns 5 ou 10 mil litros de álcool hidratado para toda a semana ou mais, quantidade que acabava em um par de horas. Eu jurei que nunca mais teria um carro a álcool — promessa que acredito, todo "feliz proprietário" de um desses veículos tenha feito também. O Proálcool foi para o vinagre, como bem sabem...

As razões do fracasso são controversas, mas na minha modesta opinião, faltou governança, administração. Grosso modo, tanto a matéria prima quanto as instalações industriais, que servem para produzir o etanol (nome correto para o álcool etílico) ou o açúcar, deveriam contribuir para o sucesso do empreendimento. Visto pelo lado dos produtores, quando o preço do açúcar — uma commodity — é maior ou mais atraente que o do etanol, a indústria privilegia sua produção e dá-se o desabastecimento do combustível. Em que pese que o governo tenha financiado (crédito subsidiado) muitas dessas usinas para a produção de etanol, não de açúcar, não há como ir contra as leis de mercado; seria suicídio.

Faltou, como já disse, melhor gestão, ou melhor, administrar melhor as características sazonais (safra) e mercadológicas (demanda interna/externa) dos produtos, por exemplo, pela formação de estoques reguladores. Nada disso foi feito. Alguém pensou que com o advento dos motores flex a coisa se resolveria. Não resolveu! Ao contrário, a coisa piorou. Vejam um trecho da Coluna do Ming no Estadão de 24/Out/2011, grifos meus:

A diretoria da Petrobrás faz um jogo contraditório. De um lado, defende a atual política de preços dos combustíveis, como fez todos esses anos seu presidente, José Sérgio Gabrielli. De outro, avisa o governo que, enquanto pagar um pedaço da conta do consumidor (subsídio), suas receitas não custearão investimentos.

Há cinco anos os preços pararam no tempo. Quando do último acerto, o barril de petróleo Brent, referência da Petrobrás, valia US$ 63. Hoje estão na faixa dos US$ 110.



Matéria publicada nesta segunda-feira pelo Estadão relata que o Centro Brasileiro de Infraestrutura calcula perda de faturamento pela Petrobrás, em oito anos, de R$ 9 bilhões. Mas dentro da empresa, conta a reportagem, avalia-se o rombo em mais do que isso.

Além de minar as finanças da Petrobrás, essa política está esvaziando o Programa do Álcool. Fácil entender por quê. O álcool tem apenas 70% do poder energético da gasolina comum. Se seus preços sobem para acima desse nível, proprietários de carros flex (40% da frota nacional e mais de 80% dos carros novos vendidos hoje) optam pela gasolina. Ou seja, o teto dos preços do álcool corresponde a 70% dos da gasolina. O problema é que os custos da produção do álcool subiram cerca de 40% nos últimos seis anos – conforme os cálculos da Unica, instituição que defende interesses do setor. E tanto a produção de álcool como a de açúcar estão caindo (veja o gráfico). Isto é, o álcool já não consegue competir com a gasolina subsidiada às atuais proporções.

Há três semanas, o governo federal diminuiu de 25% para 20% o teor de álcool anidro na mistura com a gasolina para baixar o consumo do produto, escasso em plena safra. A principal consequência será o avanço da importação de gasolina pela Petrobrás, para suprir um consumo que cresceu 19% no ano passado e deve avançar mais 7% neste ano.

Gabrielli tem justificado a política de distribuição de subsídios com o argumento de que é melhor para a Petrobrás trabalhar com preços estáveis a longo prazo. Nesse caso, não está defendendo a Petrobrás, mas, sim, razões do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que não quer um aumento da inflação. Gabrielli vem dizendo que a Petrobrás “não tem problemas de caixa”. Mas, ao mesmo tempo, não consegue esconder a hemorragia em suas finanças. Outros diretores reconhecem informalmente que podem faltar recursos quando a Petrobrás mais precisa deles, para tocar os projetos do pré-sal.

Com o intuito de reduzir perdas, a diretoria da Petrobrás defende a redução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), tributo aplicado sobre o preço do combustível com a função de dar flexibilidade à política de combustíveis do governo. Em cada litro de gasolina, cobra-se hoje uma Cide de R$ 0,19.

Aparentemente, Mantega se recusa a baixá-la para não perder arrecadação. Se for isso, a motivação é equivocada. A Cide não existe com objetivos arrecadatórios. Tem características regulatórias.

Caso o governo concorde em diminuir a Cide, estará dando uma solução precária para um problema provocado por uma política que gera mais distorções do que benefícios.

Então, parece-me que dessa vez os últimos governos têm conseguido se superar. Depauperam as finanças de uma sólida empresa nacional — posta assim à custa de décadas de monopólio de mercado — e condena ao seu segundo fracasso um modelo de energia renovável que até copiado foi — o gráfico acima é bastante eloquente — nesse ritmo alcançaremos os níveis de 2005 em mais três anos, ou seja, uma década de estagnação no setor.

A incompetência com que ele (governo) administra o abastecimento de combustíveis é tamanha que hoje importamos etanol dos Estados Unidos da América, aquele país que outro dia mesmo — nos copiando — se iniciou na produção de etanol (lá usam milho ao invés da cana, com menor produtividade e maior custo) e que hoje já é o maior produtor mundial. Nós, que temos terra, clima e cana, compramos deles aquilo que nos falta por culpa da preguiça, incúria e nenhuma gestão governamental.

Àqueles que sempre condenam FHC por ter feito privatizações, eu digo que lamento ele não ter tido a coragem ou oportunidade de ter privatizado a Petrobrás. Vendo o que aconteceu com a Vale, que trabalha com commodities tão pobres como os minérios, fico a imaginar onde estaria hoje a Petrobrás se tivesse sua sorte. Certamente, muito melhor do que está hoje, e sem ter que aturar um Gabrielli na sua presidência. A Petrobrás, o Proálcool e os brasileiros estariam muito melhores sem o governo — o atual e os antecedentes —, até sobrevenha um que tenha coragem de fazer política séria de abastecimento ao invés de combustíveis.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O que foi que mudou?

Vivo a política desde criança. É interessante dizer isso assim mas é a pura verdade. Nossos pais levavam os filhos a participar da vida política desde muito cedo. Vocês, que eram "gente" antes da ditadura militar, devem se lembrar dos comícios em praça pública, do corpo a corpo pelo voto do eleitor, ou apenas das conversas em praças e bares. O extinto Café Pérola, na Praça Sete de Setembro em Belo Horizonte, era um desses points. Político em campanha tinha que passar no Pérola para um café — obrigatório —, fora de campanha também. Eram outros tempos...

Eu digo isso com certa mágoa porque eu vi um dia um helicóptero pousar na Praça Barão do Rio Branco, aqui na minha cidade, então apenas uma grande área de terra vermelha batida. Lá tinha apenas o prédio novo da Prefeitura,  da Câmara, as oficinas e a administração da Auto Mecânica e algumas residências. Perto ficavam a Cia. Telefônica e o Mercado Municipal. Naquele dia a praça estava cheia, era dia de comício do PSD (não, não era o PSD do Kassab) para as eleições municipais. Baixada a poeira, surge o personagem esperado: JK em carne e osso. Nada menos que Juscelino Kubitschek vinha dar seu apoio ao candidato local do seu partido. Comício feito, uma fila enorme de populares se formou para cumprimentar o ex-Presidente — nós lá no meio. JK cumprimentava a todos com sorrisos; pedia votos, dava e recebia abraços. A muitos chamava pelo primeiro nome, perguntava pela família. Este era JK, de infinito carisma e proverbial memória.

Findo os cumprimentos, JK embarcou no helicóptero e decolou rumo a outras cidades, outros comícios, até a escala final em BH. Naquele dia, ainda muito menino, dei meu primeiro aperto de mão num Grande Homem. O candidato apoiado por ele não venceu as eleições. Ganhou um outro — outsider —, pela extinta UDN. Eram aqueles ventos loucos de Jânio e da vassourinha (Varre, varre, varre vassourinha...) que todos sabemos no que foi dar.

Eu me encontraria com JK uma outra vez apenas, já nos meus dezesseis anos, numa das suas andanças por essas bandas. Foi numa fazenda aqui, onde passava alguns dias para descansar. A família toda foi até lá. Naquela ocasião hospedávamos uma estudante estadunidense que também foi ao encontro. Após os cumprimentos, abraços e mesmo algumas lágrimas (JK fora — e ainda estava — cassado pelos militares), ele falou conosco e com a estudante estrangeira por vários minutos. O porquê da construção de Brasília, diferenças e semelhanças com Washington/DC, crescimento demográfico, industrialização, etc. Deu uma aula de política e administração pública, assim, assim... de graça! Falou dos seus projetos futuros — ele se preparava para voltar. Só não contava com a "má sorte" no futuro próximo.

Algum tempo depois, recebemos da família daquela estudante estrangeira efusivos agradecimentos pela oportunidade única proporcionada a sua filha — aquele encontro com JK. Nós, acostumados a sermos reconhecidos no exterior apenas por Pelé, encontramos povos que reconheciam a grandeza e a importância de Juscelino Kubitschek, antes de nós mesmos. Incompreendido até hoje por muitos, JK será sempre um marco na nossa História. E hoje, vendo a choldra que transformou Brasília num esgoto a céu aberto, sinto saudades de JK e lamento que ele não tenha podido voltar à Presidência nos braços do povo.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Pense nisso quando achar "válido" o governo cobrar CPMF e outros impostos

Talvez por ser mineiro —  e dizem que mineiros não gostam de pagar impostos — mas tenho sido um crítico feroz da CPMF desde que foi criada, lá atrás, ainda como IPMF, pela ingenuidade de um certo Doutor Bocó e de outros tributos e taxas. Muito já se falou sobre este imposto e, recentemente, sobre o IR. Mas a verdade é que o grosso da carga tributária não ocorre aí. Veja a tabela de alguns produtos e o percentual de tributos que compõem o seu preço. Prepare-se, a lista é grande e os impostos um horror. No final eu arremato.



Percentual de Tributos sobre o Preço Final
PRODUTOS / SERVIÇOS
%

DE CONSUMO

Passagens aéreas
8,65%
Transporte rodoviário interestadual de passageiros
16,65%
Transporte rodoviário interestadual de cargas
21,65%
Transporte aéreo de cargas
8,65%
Transporte urbano de passageiros - metrô
22,98%
Medicamentos
36,00%
Conta de água
29,83%
Conta de luz
45,81%
Conta de telefone
47,87%
Cigarro
81,68%
CD
47,25%
DVD
51,59%

MÓVEIS E UTENSÍLIOS

Móveis (estantes, cama, armários)
37,56%
Mesa de madeira
30,57%
Cadeira de madeira
30,57%
Sofá de madeira ou plástico
34,50%
Armário de madeira
30,57%
Cama de madeira
30,57%
Vassoura
26,25%
Tapete
34,50%

VEÍCULOS E CORRELATOS

Automóvel
43,63%
Motocicleta de até 125 cc
44,40%
Motocicleta acima de 125 cc
49,78%
Bicicleta
34,50%
Gasolina
57,03%

ALIMENTÍCIOS BÁSICOS/INSUMOS

Carne bovina
18,63%
Frango
17,91%
Peixe
18,02%
Sal
29,48%
Trigo
34,47%
Arroz
18,00%
Óleo de soja
37,18%
Farinha
34,47%
Feijão
18,00%
Açúcar
40,40%
Leite
33,63%
Café
36,52%
Macarrão
35,20%
Margarina
37,18%
Molho de tomate
36,66%
Ervilha
35,86%
Milho verde
37,37%
Biscoito
38,50%
Chocolate
32,00%
Achocolatado
37,84%
Ovos
21,79%
Frutas
22,98%
Fertilizantes
27,07%

BÁSICOS DE HIGIENE E LIMPEZA

Sabonete
42,00%
Xampu
52,35%
Condicionador
47,01%
Desodorante
47,25%
Aparelho de barbear
41,98%
Papel higiênico
40,50%
Pasta de dente
42,00%
Álcool
43,28%
Detergente
40,50%
Saponáceo
40,50%
Sabão em barra
40,50%
Sabão em pó
42,27%
Desinfetante
37,84%
Água sanitária
37,84%
Esponja de aço
44,35%

EDUCAÇÃO E MATERIAL ESCOLAR

Caneta
48,69%
Lápis
36,19%
Borracha
44,39%
Estojo
41,53%
Pastas plásticas
41,17%
Agenda
44,39%
Papel sulfite
38,97%
Livros
13,18%
Papel
38,97%
Agenda
44,39%
Mochilas
40,82%
Régua
45,85%
Pincel
36,90%
Tinta plástica
37,42%
Brinquedos
41,98%
Mensalidade escolar (ISS DE 5%)
37,68%

BEBIDAS

Refresco em pó
38,32%
Suco
37,84%
Água
45,11%
Cerveja
56,00%
Cachaça
83,07%
Refrigerante
47,00%

LOUÇAS

Pratos
44,76%
Copos
45,60%
Garrafa térmica
43,16%
Talheres
42,70%
Panelas
44,47%

DE CAMA, MESA E BANHO

Toalhas (mesa e banho)
36,33%
Lençol
37,51%
Travesseiro
36,00%
Cobertor
37,42%

ELETRODOMÉSTICOS

Fogão
39,50%
Micro-ondas
56,99%
Ferro de passar
44,35%
Telefone celular
41,00%
Liquidificador
43,64%
Ventilador
43,16%
Refrigerador
47,06%
Videocassete
52,06%
Aparelho de som
38,00%
Computador
38,00%
Batedeira
43,64%
Roupas
37,84%
Sapatos
37,37%

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO

Casa popular
49,02%
Telha
34,47%
Tijolo
34,23%
Vaso sanitário
44,11%
Tinta
45,77%


Fonte: IBPT - Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário

Considere ainda que você paga de 15 a 27,5% de IRRF, paga plano de saúde complementar, escola particular, IPVA, IPTU, INSS, DPVAT, TRLAV, Taxa do Lixo, etc. Ufa!, e ainda tem gente que acredita que pobre não paga imposto no Brasil. Lula — aquele prometeu reduzir impostos —, aumentou violentamente a carga deles em nosso lombo; Dilma vai pelo mesmo caminho e pior. Até quando vamos suportar tamanho esbulho e humilhação?

Nós mineiros somos mesmo arredios a tributos — todo mundo no fundo é. Nossos conterrâneos mais antigos fizeram uma revolta por conta da Derrama. Pois eu leio sobre a Derrama e sinto inveja! Fizeram uma revolta contra um imposto de 20%, com penas variadas que incluíam o degredo e execuções na forca, mas fizeram! Nós somos escravos do Estado por quase seis meses do ano e ainda fazemos salamaleques para aqueles pulhas. É revoltante!

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