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quarta-feira, 11 de julho de 2012

O início do fim da farsa

Boquirroto, Lula jactava-se de fazer "o melhor governo da história dessepaiz", uma inverdade que nem ele nem dona Marisa jamais acreditaram. Apesar disso, a falácia ainda é esgrimida pela militância — a ignorante e a oportunista — como o marco político deste século. Pois bem, a farsa começa a ser desmascarada e já não sem tempo.

Uma das publicações mais sérias do mundo, o Financial Times, publicou ontem uma matéria sobre o Brasil. No oba-oba do crescimento fácil, o país esteve presente como destaque no Desfile de Carnaval (palavra usada pelo FT), mas a maquiagem borrou, as plumas estão quebradas, o cisne se transforma no Patinho Feio e o carro alegórico virou abóbora. Só os ratos não se transformaram até porque nunca deixaram de sê-lo. Ratos — a única coisa autêntica do lulo petismo!

Repasso a vocês o texto da Exame Online sobre a matéria do Financial Times. Se quiserem lê-la no original, usem o link Brasil: After the carnival. Pode ser necessário fazer sign-in, mas é gratuito. Grifos meus.

"Depois do carnaval", Brasil deve repensar sua direção, diz FT

Com um crescimento menor no governo Dilma, o jornal Financial Times analisa que o país deve se perguntar "que tipo de economia será" e "qual deve ser o papel do Estado"

Bandeira do Brasil: segundo o FT, o governo brasileiro é responsável
por boa parte dos problemas de investimento no país, o que
gera debate sobre como a economia deve crescer.

São Paulo - O Brasil está num "ponto de virada" depois do "carnaval" do crescimento no governo Lula, afirma uma análise publicada no jornal britânico Financial Times desta terça-feira. Depois de crescer 7,5% em 2010, a economia brasileira expandiu 2,7% no primeiro ano do mandato de Dilma Rousseff e é esperado uma alta de apenas 2% para este ano, segundo o texto de Joe Leahy. Por isso, segundo o FT, o momento é para debater para onde o Brasil deve levar esse "modelo estatal" de desenvolvimento.

De acordo com o jornal, essa discussão não é "preocupante somente ao Brasil, mas a todos os mercados emergentes", porque, com a Europa, o Japão e os Estados Unidos estagnados, há poucos padrões econômicos para guiar os países nas "nuvens de tempestade" da crise econômica global.
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Segundo o Financial Times, mesmo com a crise é consenso que o país precisa de investimento, principalmente em infraestrutura e educação. E, nesse caso, o governo brasileiro é responsável por boa parte dos problemas, porque ele "taxa como os europeus, mas gasta boa parte de seus ganhos com salários, pensões e pagamentos de juros".

O texto do FT afirma também que o governo Lula foi responsável pelo crescimento notável do Brasil nos anos anteriores, que permitiu mais renda para que os pobres chegassem na classe C, principalmente através do acesso fácil ao crédito. Diferente desse estilo de gestão, a "tecnocrata taciturna" Dilma Rousseff derrubou o desemprego para o nível de 6%, além de elevar o salário mínimo.

As palavras-chave no texto são carnival, turning point, state-led model, troubling e storm clouds, como já salientado na breve sinopse acima (recomendo encarecidamente a leitura do original — link acima). Passado o carnaval, atingimos o ponto de inflexão, onde a velocidade inicial do governo FHC perde para força gravitacional do pensamento esquerdopata mais retrógrado e o estado provedor começa a nos puxar para o buraco do atraso, atormentando nossos cidadãos e parceiros internacionais diante das intempéries que se avizinham.

Pode parecer repetição do mesmo tema, mas é inconcebível que esta massa de ignaros que tomou o poder desde 2002 não tenha se dado conta que o Muro de Berlim já caiu faz tempo. Não existe essa coisa de "socialismo salvador" a não ser em cabeças doentes. Não existe um único caso de sucesso socialista no mundo — independente de qual seja sua linha. O único produto real do socialismo é o dissidente.

Não é à toa que a China mudou completamente sua orientação econômica ou seria hoje uma enorme Cuba. Aliás, era assim mesmo nos tempos de Mao, até o advento de Deng Xiaoping. Nem mesmo o modelo de estado provedor a China quis adotar e a Europa deve estar pensando se segue nessa linha. Porque o país de maior sucesso na Europa — a Alemanha — abriu mão do modelo de welfare state desde o governo de Gerhard (Fritz Kurt) Schröder, aliás, o grande responsável pela pujança da sua economia e seu baixíssimo desemprego, apesar de pagar os melhores salários da zona do Euro.

Mas voltando ao texto, uma ressalva: não deixa de ser impressionante como se deixam enganar mesmo à luz dos fatos. Não é verdade que o Brasil cresceu enormemente na Era Lula (2003-2010). Também não existiu o que o FT chamou de "Lula model". O correto seria dizer que o Brasil cresceu a despeito de Lula e do lulo-petismo. Na verdade, nosso desempenho foi até mesmo pífio comparado aos demais países emergentes. A fabulosa inclusão social de 30 milhões de almas ao mercado de consumo, causa da imensa inadimplência atual, foi uma brincadeira lúdica quando comparada aos feitos de governos passados como mostrei aqui, aqui e aqui, principalmente quando em relação à população total (< 15%).

Essa tendência pueril de tentar exacerbar o real valor dos feitos se chama extrapolação. Não, não falo do processo matemático mas da interpretação dos fatos. Extrapolar (exceder) é generalizar com base em dados parciais ou reduzidos; estender a validade de uma afirmação ou conclusão além dos limites em que ela é comprovável.

Assim posto, basta refletir para ver que o que de bom ocorreu na "Era Lula" foi muito mais o que gostaríamos que tivesse acontecido e não o que de fato ocorreu. Vivemos um faz-de-conta — como pueris que somos — das fábulas e lullabies desse lulo-petismo que tarda em partir. Ou crescemos logo ou voltaremos às fraldas.

Publicado originalmente em 10/Jul/2012 às 17:55


sábado, 23 de junho de 2012

¿Por qué no te callas?

Para acabar com o marasmo que foi a semana do Rio+20, a concretização do fracasso anunciado, eis que o Paraguai rouba a cena e resolve por a correr aquele ex-bispo tarado que era seu presidente. Bateu aquele clima de barata voa na Rio+20 e ninguém mais sabia o que estavam fazendo lá, alguns sem mesmo saber onde estavam.

Num último grande gesto para salvar as aparências, reuniram-se os chanceleres da Unasul presentes para — capitaneados pelo nosso Patriota — ir ao Paraguai em socorro a Lugo. Foi como disse: barata voa!

Quase que imediatamente, inúmeras declarações contra o processo de impeachment foram repercutidas pela mídia local, talvez o maior conjunto de estultices que já tive oportunidade de presenciar. Por exemplo, a frase do professor Mario Sacchi, em entrevista ao Estadão, "explicando" (?) que o acordo de respeito à democracia no Paraguai fora quebrado. Sei...

O professor Sacchi usou frases como "Um dos problemas mais graves [com o impeachment] é a relação com o Mercosul porque existe um acordo de respeito à democracia que está sendo quebrado", uma visão muito particular dele, acredito.

Eu digo "particular" porque nós — e me refiro ao nosso governo aqui — temos o mau hábito de achar que somos a quintessência da pureza democrática, quando não passamos de um arremedo de democracia, uma farsa se preferir. Nossas instituições são frágeis, até porque são fruto da ignorância de nosso povo; nossos governantes, populistas despóticos; nosso processo político, uma mentira. E apesar de tudo isso, nos julgamos no direito de ensinar aos outros o que e como fazer. Repito, refiro-me aos governos, aos quais um pouco de humildade e reconhecimento de sua própria pequenez não faria mal algum.

Seguindo a linha do professor Sacchi, o Brasil já interferiu desastradamente nos assuntos de Honduras onde Manuel Zelaya, o Saddam Hussein da América Central, em eterno papel de vilão mexicano, também fora destituído do cargo a mando da Suprema Corte daquele país, justamente por a haver desrespeitado; a mesma que jurara respeitar e defender. Coerente com o chavismo daqueles dias, acoitamos o mariachi borracho em nossa embaixada onde ele pode desfrutar dos nossos impostos por meses. Bestial!

Mas não me lembro de nenhuma frase de Sacchi naquela época como "Foi um golpe de estado aproveitando a Constituição que o país tem. O artigo 225 prevê o julgamento político do presidente por mau desempenho de suas funções". Qual é a autoridade da qual este professor se acha investido para taxar de "golpe" um artigo da Constituição paraguaia? É muita presunção e muito desrespeito, para não dizer muita ignorância.

Ora, nos regimes parlamentaristas um governo pode ser destituído por ato discricionário do Chefe de Estado. Não é golpe, é prerrogativa do modelo político. No presidencialismo, a destituição de um governo é feita pelo seu impedimento, impeachment em inglês. Assim foi no Paraguai (como foi em Honduras), sendo que o professor citou até o artigo da Constituição que determinava a razão do seu julgamento político. Não há — como na declaração de chanceleres da Unasul — "ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática", apenas e tão somente o cumprimento da Lei.

Mas teve mais. Também disseram que não se estava respeitando a vontade do povo paraguaio. Mentira! Se Lugo foi eleito pelo povo, também o foram seus representantes no Parlamento, ou será que estes foram eleitos pelos marcianos? Se lá como cá o que se tem é uma democracia representativa, foram os representantes do povo, portanto, o próprio povo, que destituiu Lugo do poder. Tudo o mais é conversa.

Uma das poucas vozes de clarividência na mídia foi a de Marcos Guterman, também do Estadão, de onde obtive esta curta nota (grifos meus):

Realismo fantástico: Paraguai inventa o “golpe dentro da lei”


A presidente Dilma Rousseff sugeriu que o Paraguai fizesse um acordo político para que o presidente esquerdista Fernando Lugo ficasse no poder até o final de seu mandato. Fico aqui imaginando o que Dilma e os petistas diriam se algum governante estrangeiro, digamos o americano, sugerisse um “acordo político” para manter o direitista Fernando Collor na Presidência.

De qualquer maneira, Lugo não é mais presidente do Paraguai, destituído estritamente segundo as leis do país. No entanto, tem gente dizendo [Sacchi] que foi “golpe” apesar de ter “amparo legal”.

Então é isso: a América Latina, pródiga em realismo fantástico, acaba de inventar o “golpe que respeita a lei”.


Obviamente sarcástico, Guterman lembra a Dilma da inconveniência de se apontar o dedo a alguém, como fiz em relação a Marina Silva. Mas tem mais: precisamos ficar atentos à atitude que nosso governo possa tomar em relação ao bispo-tarado. Será que Dilma oferecerá os confortos da nossa embaixada local como Lula fez com Zelaya ou oferecerá uma paróquia-sinecura a ele aqui mesmo? Eu já nem sei bem o que pensar, porque as possibilidades do lulo-petismo parecem ser infinitas...

Mas o que nosso governo deveria fazer e dizer, o governo espanhol já fez:

Madri, 23 - O governo da Espanha defendeu neste sábado o pleno respeito à institucionalidade democrática e ao estado de direito, e manifestou a confiança de que o Paraguai conseguirá resolver a atual crise política, assim como garantir a segurança de seus cidadãos após o impeachment do presidente do país, Fernando Lugo.

"A Espanha defende o pleno respeito à institucionalidade democrática e ao Estado de direito, e confia que o Paraguai, em respeito à sua Constituição e aos compromissos internacionais, conseguirá pôr fim à atual crise política, assim como garantir a convivência pacífica do povo paraguaio."

O que a nota oficial acima diz — e o que Dilma deveria ter dito — pode ser resumido assim: "O problema é de vocês e confiamos que vocês o resolverão a contento para todos." Qualquer coisa além disso é passível de um "¿Por qué no te callas?"


¿Por qué no te callas, Dilma?

domingo, 17 de junho de 2012

Este "mea culpa" deve ser visto como um aviso — Ou: Não há país que resista a um oba-oba — Ou: Dinheiro não aceita desaforo

Botar o dedo na ferida dos outros pode parecer maldade, mas não é. Ao menos aqui não; serve de alerta. Nós, brasileiros, já comemos o pão que o Diabo amassou com o rabo, por mais de uma vez, e conseguimos sair dessa. O aperto pelo qual estão passando gregos e espanhóis já foi passado aqui. Ao fundo desse poço já descemos mais de uma vez e hoje estamos em relativa segurança. Estamos?!

O vídeo que mostrarei a seguir é uma versão sintética e bem humorada da crise espanhola, ou o reflexo da crise do Euro na Espanha, ou ainda, na verdade, aquela "marolinha" da qual o Lula fez troça e pouco caso. Esta é a razão das minhas dúvidas. Será que estamos mesmo seguros? O Lula pode achar que sim — pobre diabo — mas não é com a sua carteira que ele está brincando; é com a nossa. Mas vamos ao vídeo. Você, leitor, verá muitos pontos em comum com a nossa realidade aqui. Lá, a razão foi a bolha imobiliária, e aqui? Depois eu comento.


Bom, como você pode ver, não é a bolha imobiliária que está por detrás da crise. A bolha foi apenas o efeito aparente da crise. O que realmente causou o problema foi a farra, a irresponsabilidade de governantes e agentes econômicos (e.g. bancos). Aqui também a coisa vai para o mesmo caminho. Existe, por exemplo, um excessivo protecionismo para com a indústria automobilística — para citar um caso —, além do incentivo desbragado ao consumo, ambos com oferta de crédito farto e endividamento irresponsável da população (ou seria "da população irresponsável?"), especialmente da tão cantada "nova classe média". Que eu saiba, as classes "C", "D" e "E" estão vivendo pelo carnê, enquanto que bancos e lojas fomentadoras do consumo encontram-se em estado pré-falimentar, resultado do aumento sempre crescente da inadimplência.

Será que estamos querendo voltar ao fundo daquele poço? Olha, eu acho que será apenas uma questão de timing. Se Lula acertar seu relógio, é bem provável que venha a ser o próximo presidente do Brasilstão, o país que caminha para a merda. Afinal, a Madri da qual se ri pode estar bem aqui. Ui!

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O mau dos nossos governos é nossa falta de vergonha

Recebi há pouco do Roque Sponholz, aquilo que ele denominou ser um "desabafo" seu, mas que bem poderia ser uma bofetada em nossa cara... Como de hábito, grifos meus.

REDUÇÃO DE IPI; NÃO É POR AÍ !!!


Nenhum país do mundo combate crise econômica vendendo carros, exceto o nosso.

"Estúpida paixão pela máquina de quatro rodas
que substitui duas patas."
Incentivar a compra de veículos para o transporte individual através da redução de impostos e de financiamentos com juros baixos e prazos longos para atender ao lobby de montadoras em detrimento ao transporte coletivo, é medida demagógica, inconseqüente e criminosa com nossas cidades e conseqüentemente com seus cidadãos.

Desde a sua invenção, a propaganda glamourizou o uso do automóvel dando-lhe a falsa conotação com o status social. Daí a estúpida paixão do brasileiro pela máquina de quatro rodas que substitui duas patas.

Hoje o maior problema de nossas cidades é o tráfego. Nossas ruas não mais comportam o excessivo número de veículos que a cada dia nelas são despejados.

Nossas vias interurbanas transformaram-se em campos de batalha onde, a cada ano, morrem mais de quarenta mil brasileiros e outros tantos sofrem danos físicos irreparáveis.

A solução? Uma só: transporte coletivo eficiente, com canaletas exclusivas, com conforto, com rapidez...

Mas priorizá-lo e subsidiá-lo parece não ser a vontade deste governo.

Sua vontade é fazer com que o brasileiro atole-se em dívidas, seja o campeão da inadimplência, deixe de construir um quarto para abrigar um novo filho construindo uma garagem para abrigar um carro novo ou um novo carro.

E ainda falam em "mobilidade urbana". Ora tenham vergonha!!! Pensar momentaneamente e emergencialmente (devido a copa do mundo), em "mobilidade urbana" para meia dúzia de cidades, esquecendo-se das mais de cinco mil e quinhentas outras que também precisam de "mobilidade urbana" é, no mínimo, desrespeito e escárnio.

Enfim, lá vamos nós enfrentar o tráfego nosso de cada dia que o governo nos dá hoje.

Triste país este.

Roque Sponholz - Arquiteto e Urbanista

E pensar que se fala em decretar feriados nos dias de jogos (as férias escolares já estão decretadas — antecipadamente — pela infame "Lei Geral da Copa"), um acinte que só mesmo nossos governos aceitam passivamente. É como disse o Roque, "Triste país este."

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Que o céu não lhe caia sobre a cabeça

Hollande já tomou posse — é o novo presidente da França. Em outras palavras, chegou a hora de sair do discurso, do palanque (como se diz aqui) e assumir o leme do barco. É a hora da verdade, de sair da retórica e passar à ação, de concretizar as promessas de campanha, o que quase sempre não é fácil. O primeiro dia de Hollande foi choco como um schoppe (chope) aguado. Pode ter sido pela chuva, que manteve o seu eleitorado em casa e longe da festa, mas pode ter sido também pelo choque da verdade — a sorte estava lançada.

Diferentemente do que ocorreu aqui, com FHC, Lula ou Dilma (para citar os mais recentes), o povo francês sabe bem que Père Noël não existe. Não apenas o francês, mas o europeu, o que também inclui os gregos, ou deveria. E foi a situação da Grécia que anuviou a festa de Hollande. Afinal, já nem se discute mais se a Grécia vai ou não para o vinagre (outra expressão bem nossa), se fica ou não no Euro, isto é, se fica ou não na União Europeia; a questão agora é quando ela vai.

Já falei sobre este assunto antes e minha opinião não mudou. Atônito, vejo na imprensa daqui artigos românticos sobre o mau momento — faltou apenas passar a "sacolinha" para ajudar a Grécia saldar seus papagaios — com raríssimas exceções de lucidez, como Celso Ming (Estadão, de onde retirei estas tabelas) e Carlos Alberto Sardenberg (CBN). E não foi só aqui não: Paul Krugman (NYTimes) também desfiou seu rosário de lágrimas, algo inapropriado para um nobel de economia, mas que cai bem para a campanha de Obama — só não explica como ficará a Europa depois da aplicação do seu receituário. Eu arrisco um palpite: nada bem, mas já errei antes.

Aqui no Brasil não foi diferente. Por anos e anos tentamos de tudo. Tomamos garrafadas, passes e descarregos. Nada funcionou. Somente quando resolvemos tomar vergonha — quando a ficha finalmente caiu depois da tungada do Plano Collor — é que a coisa funcionou. O Real nasceu e venceu, mesmo assim com mais perdas e mais sacrifício. Tudo isso foi muito bem contado e documentado no livro "Saga Brasileira", da jornalista Miriam Leitão, cuja leitura recomendo. Entretanto, é interessante notar que a jornalista não se pôs vis-à-vis com seus colegas citados acima, como é de hábito, e foi até mesmo contrária a algumas posições ditas em seu livro e nas suas colunas diárias, escritas e faladas. Opinião é assim mesmo.

Hollande quer crescer, ao que eu responderia: "e quem não quer?", tivesse oportunidade. O que eu já afirmei foi que ele ainda não disse como se dará o milagre. Citemos o Brasil como exemplo: péssima infraestrutura, deficit habitacional, deficit educacional, corrupção endêmica, carga tributária elevada, etc. Uma rápida olhada e logo se vê que há muito o que fazer. Não obstante, Lula não conseguiu criar os tais 10 milhões de empregos em 4 anos, mesmo havendo tanta coisa a se fazer. Nos outros 4, quando prometeu criar mais dez além daqueles que ficou devendo do primeiro mandato, também falhou. Acabou seus oito anos de governo com 6 milhões de postos criados ao invés dos 20 prometidos, ou 30% da promessa. E notem, não fizemos quase nada do que precisava ser feito — ainda há muito por fazer...

E na Europa? Salvo alguns países menos aquinhoados, tudo já foi feito! Por onde quer que se olhe, os países europeus se mostram prontos e acabados. Então, onde é que Hollande vai criar os tais postos de trabalho que precisa, o tal crescimento que julga indispensável? Não há tanto assim o que fazer por lá — tudo se mostra pronto e acabado (e muito bem feito) — então, eles só podem crescer "para fora" — exportando — exatamente o que a Alemanha que ele critica está fazendo. Se a Alemanha, com austeridade e muita exportação, foi o único país do bloco que conseguiu crescer (+0,5%, o que salvou a cara do bloco europeu do fiasco), não vejo como vão mudar a receita. Aliás, ao contrário do que foi noticiado pela mídia daqui e de boa parte do mundo, a recente derrota política de Merkel não foi pela política de austeridade, mas por estar ajudando — continua e estoicamente — países que se recusam a ser austeros, exempli gratia a Grécia. Em outras palavras, quem economizou não quer suas economias ajudando a quem desperdiçou. Pode parecer cruel, mas é sempre assim: uns trabalham e outros esperam que lhes passem a mão na cabeça.

Hollande tomou posse e logo seguiu de avião para a Alemanha onde Merkel o aguardava "de braços abertos". Logo após a decolagem, um raio atingiu o avião e o obrigou a retornar à terra por razões de segurança. Seria um (mau) presságio? Na dúvida, o novo Vercingetórix  — como bom gaulês — trocou de avião e foi para os braços da teutã que o esperava, porque gauleses só temem mesmo "que os céus lhes caiam sobre as cabeças." Os céus ou talvez uns gregos. Ui!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Amigos, amigos... Negócios bem à parte

Eu tenho evitado escrever sobre certos assuntos, parte porque não conheço suas razões e causas de perto, parte porque os considero irrelevantes. Mesmo assim, hoje resolvi falar mal do quintal dos outros. Estou me referindo às recentes expropriações ocorridas na Argentina (YPF) e na Bolívia (TDE), por infeliz coincidência, ambas empresas espanholas. Eu estou certo que o ministro Rajoy não deve estar nem um pouco satisfeito com o ocorrido, o que não se dirá da diretoria da Repsol e da Red Eléctrica de España, respectivamente controladoras da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) e da Transportadora de Electricidad S.A. (TDE).

Existem alguns articulistas que acreditam que tais movimentos possam ser favoráveis ao Brasil. Pode parecer lógico que este seja o caminho adotado, mas nosso governo insiste em negociar em bloco, isto é, no âmbito do Mercosul. Assim, a afirmação do professor de economia da FGV, Ernesto Lozardo, soa vazia: "De maneira geral, o Brasil tem um marco regulatório consolidado e assegura maior respeito aos contratos, dando guarida aos investimentos". Será?!

A Espanha — que já tem problemas de sobra em casa — parece ter sido escolhida como o Judas a ser malhado nessas plagas sul-americanas. Foi noticiado pela BBC-Brasil: "Segundo o relatório Panorama de Investimento Espanhol na América Latina 2012, divulgado pelo Instituto de Empresa de Madri em fevereiro passado, 30 das companhias de maior faturamento da Espanha enxergam com pessimismo a evolução de seus negócios em países como Argentina, Bolívia e Venezuela. Das empresas com filiais nesses três países, somente 15% planejam aumentar sua presença na Argentina em 2012, contra 4% na Bolívia e na Venezuela. No Brasil, entretanto, o índice é de 62%." Apesar dos números favoráveis, prefiro ler o quadro com cautela.

Eu vejo uma enorme pedra em nosso caminho: o Mercosul. Estou entre aqueles que acreditam que o Brasil jamais deveria fazer parte desse "bloco econômico", onde, a meu ver, as desvantagens superam em muito qualquer vantagem fictícia com que possam acenar. Algumas informações sobre os parceiros daquele "clube":

Fonte: FMI


Como podem ver, só existe um player neste clube e é o Brasil. É o dono do campo, da bola e do campeonato; só não se comporta como tal [ainda]. Com o devido respeito às nações amigas, o que se vê acima não é uma agremiação de iguais, então porque insistir nisso. Tudo bem, mantenha-se o Mercosul, mas não deixe que ele se torne um empecilho para a celebração de acordos bilaterais com os EUA, a União Europeia, o Japão, a Rússia, a Índia e quem mais venha. É um absurdo dar relevância a quem não tem relevância alguma. São nossos "parceiros" do Mercosul que dependem de nós, não o contrário, então é inadmissível que um El ministro de la Viuda determine o que entra e o que sai da Argentina, quando o acordo é de fronteiras livres, de livre comércio e de isenções fiscais. O Itamaraty deveria denunciar o fato imediatamente, mas é soft demais.

Ao contrário de Chile e Colômbia, dois outros vizinhos que firmaram acordos bilaterais com EUA, UE e Japão e, dessa forma gozam de tarifas diferenciadas para exportação, nós continuamos a defender que esses mercados precisam negociar conosco no âmbito do Mercosul. Em outras palavras, o que se faz é dar a 17% do PIB da associação, o controle sobre o todo. Melhor ainda: é como se 17% fossem iguais ou maiores que os outros 83% — coisa de gênio. Mas tem mais: La Viuda, que manda em 14,69% do clube, resolveu dar caneladas em empresas da Espanha, país membro da União Europeia com a qual tentamos há anos fechar um acordo "no âmbito do Mercosul". Com "amigos" assim, quem precisa de inimigos?

A hora é de deixar o proselitismo barato de lado e cuidar daquilo que é nosso. Se o Japão, ou a UE, ou mesmo os EUA acham mais fácil negociar com o Brasil em separado — paciência — amigos, amigos..., nossos negócios à parte e em primeiro lugar. Há milhões de brasileiros precisando de emprego e oportunidade e a responsabilidade desse governo Dilma (e de qualquer outro) é para com eles.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Sarkozy na cabeça

Antes do primeiro turno das eleições francesas, eu cravei: "Sarkozy ganha no final." Droga, falei isso não porque goste do cara, muito menos pelas alternativas que se apresentaram para seu lugar — igualmente ruins. A razão é que a França está naquela péssima situação de fazer a melhor escolha entre as piores; uma escolha de Sofia. Já vi esse filme aqui.

Estive na França, pela última vez, em 2001. A moeda ainda era o Franco, se bem que duraria apenas mais um mês ou coisa assim. A França melhorou muito depois do Euro — economicamente, quero dizer — tanto que foi tomada por hordas e mais hordas de imigrantes, todas em busca do paradis français. Agora que temos haitianos tomando nossas fronteiras de assalto, é bom que se saiba o que ocorre de fato lá (e aqui) antes de adjetivar esse ou aquele de "xenófobo".

Há uma grande diferença daquilo que convencionamos chamar de imigrante para o estrangeiro que busca resolver sua miséria às custas dos povos que já se sacrificaram o bastante para viver razoavelmente bem. A maioria dos que "fazem a América ou a Europa" são apenas chupins em busca de um ninho conveniente. Pouquíssimos são aqueles dispostos a pagar ônus para auferir o bônus de uma sociedade moderna e aberta. Quantos desses estão dispostos a contribuir para aquela sociedade antes de cobrar suas benesses? Pois eu me arrisco a dizer que dentre as centenas de milhares pode-se contá-los com os dedos de uma só mão.

Uma vez instalados na "nova pátria", amontoam-se em guetos; não por serem jogados lá pelos nativos, mas porque lhes faltam o mínimo para se integrarem na sociedade, tais como os rudimentos da língua e dos costumes. É um processo de autoexclusão. Assim, na França, principalmente nos banlieues parisienses e nos das grandes cidades, acumulam-se aos milhares, especialmente os "imigrantes" oriundos de ex-colônias francesas africanas cuja extensa lista pode ser vista aqui.

Na Alemanha ocorreu algo similar com os turcos. Contratados como mão de obra temporária e barata, especialmente necessária para a construção civil, eles acabaram por se estabelecer por lá definitivamente, alguns de forma legal, outros não. O que eu pude notar quando lá estive é que não há de parte dos alemães um movimento xenófobo, mas um incômodo por estes "imigrantes" não se esforçarem por fazer parte da comunidade alemã. Na verdade, existe até um "separatismo" por parte dos turcos. Há entre eles até mesmo aqueles que não se julgam no dever de obedecer à lei alemã — querem leis específicas para eles baseadas na Charia muçulmana. Entre quatro paredes, tudo bem, mas em sociedade, este é um comportamento intolerável.

Bem ao contrário do que divulga a mídia — nacional e internacional — não é culpa da ortodoxia nem do conservadorismo que a Europa se encontra à porta do caos. Ela está assim pela distribuição farta e irresponsável de benesses (a fundo perdido) feitas por governos socialistas ou comunistas, progressistas como preferem ser chamados. Na França, os "anos Mitterrand" foram pródigos em obras faraônicas como a da Pirâmide do Louvre e a do Grande Arche de La Defense, sem se esquecer da Bibliothèque Nationale, cujo entorno é pavimentado por pranchões de mogno brasileiro com mais de 10cm de espessura! Fico só com essas, mas tem muito mais. Gastou-se de roldão economias de décadas, somadas à concessão de aposentadorias precoces e o melhor do bem-estar francês. Uma hora a conta chegaria e chegou, para a França, Espanha, Grécia e toda a Europa progressista.

Na Alemanha não foi diferente. A queda do Muro e a reunificação do país durante o governo Kohl custou fortunas. Um bom exemplo daquilo que foi encontrado do lado de lá do muro — e que o foi feito para consertar —, pode ser visto na magnífica sequência de fotos da revista Der Spiegel, um exemplo eloquente do fracasso da proposta socialista. Eu os convido a ver fotos de dois "paraísos", o socialista e o capitalista, aqui com tradução automática do Google. São várias fotos — estilo antes e depois —, ou seja, era assim no tempo do socialismo e ficou assim depois que o capitalismo assumiu. É bom que se tenha isso em mente quando escutarem as lorotas dos esquerdistas de sempre. Nada como fatos para se contrapor aos argumentos, especialmente aos falsos.

Mas voltemos ao Sarkozy, cujo destino será selado neste próximo Domingo — o dele e o da França. Ele ganhará ou perderá pela ação ou omissão do Front National, partido de Marine (Jean-Marie) Le Pen, ou melhor, dos seus eleitores. Marine já sinalizou que não dará sua bênção a nenhum dos dois. Qualquer que seja o resultado ela sairá ganhando no final, embora eu acredite que ela pudesse se beneficiar ao participar de um segundo governo Sarkozy — há mais similaridades entre eles do que com os socialistas de Hollande. Por outro lado, ela pode estar apostando no "quanto pior, melhor" que seria um governo socialista. Pode ser, mas eu não vejo vantagem em assumir terra arrasada, quem quer que seja o culpado. Voltem às fotos da Der Spiegel e perguntem-se se valeu à pena reunificar as Alemanhas. Eu lhes afirmo que a maioria dos alemães ocidentais — hoje — optariam por deixar aquele muro bem de pé.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Atirando a esmo no que achou que viu

A coluna de hoje do Cláudio Humberto, em geral bastante responsável, destaca (grifos meus):

Na TAM, Rio-Ilhéus custa o mesmo que Rio-Paris


A falta de critério na exploração dos clientes atinge níveis absurdos na aviação civil. Quem mora no Rio e quiser passar o feriadão do Dia do Trabalho em Ilhéus (BA), a 1.002km de distância, terá de pagar à TAM R$ 3.732,52 por passagem ida e volta, mas só se quiser retornar às 9h45. Para voltar às 16h58, o preço sobe a R$ 4.486,52. No mesmo período, paga-se um pouco menos pela passagem Rio-Paris, ida e volta (R$ 3.727,50), ou menos da metade (R$ 1.714,47) Brasília-Miami.

Será também mais barato!
Não há outra leitura possível — “a TAM é uma exploradora do pobre povo brasileiro!” — o que não é verdade. E, acredite, não ganho um tostão da TAM para defendê-la, meu desejo é apenas alertar para o que está por trás do descalabro: falsas profecias. Afinal, ir do Rio a Ilhéus e voltar — um trecho de umas duas horas e meia — não pode custar mais que as onze horas da rota alternativa. Não mesmo!

Mesmo assim, acredite, nem a TAM, nem qualquer outra companhia do gênero, pratica tais preços por exploração. A palavra usada é forte, inapropriada e leviana. Não é a empresa que nos explora, é o País. Como bem disse uma vez o grande economista Roberto Campos, "o governo é o gigolô oficial de todos nós", TAM no meio. Nem me dei ao trabalho de pesquisar, mas vamos considerar alguns itens:
  1. O preço da passagem Brasil-França — por imposição do Brasil — é maior que qualquer França-outro_país de igual distância ou mesmo distância maior. Com a palavra, a ANAC.
  2. O Brasil tem um dos combustíveis de aviação mais caros do mundo. Indo a Paris, chances há de o combustível da volta ser bem mais em conta. ANP e Petrobrás que te expliquem.
  3. O custo de parking (valor cobrado da aeronave pelo uso do pátio — a Faixa Azul dos Boeings e Airbuses) também é dos mais obscenos aqui e certamente maior que o de lá. Mais um desconto por conta da Infraero.
  4. E já que falei no Demônio (aqui tudo é Infraero), ou seja, taxas aeroportuárias fixas, não importa se você vai pousar e decolar para pegar um brazuca ou dois ou duzentos. No outro caso, via de regra, vai gente até no maleiro — economia de escala, maximização dos custos.
  5. Por fim e para não me alongar, dizer que não é lícito comparar uma viagem internacional com uma nacional, procure saber o preço das viagens domésticas nos EUA. Lá se vai de costa a costa, distância maior que a do Rio-Paris, por muito menos que se vai de ônibus de BH a Guarapari.
Resumindo, o problema é tão nosso quanto nosso é o umbigo. Se vamos limpá-lo ou escondê-lo é que é a questão. À coluna do CH meus agradecimentos: já sei onde vou passar meu próximo feriadão. Ha! Ha! Ha!

E independente do destino, tenham todos uma boa viagem! Au 'voir!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Falar é fácil, já fazer...

Do alto dos seus 77% de aprovação, Dilma resolveu rosnar para o mundo o que me fez lembrar do filme "O Rato Que Ruge", com Peter Sellers. Eu confesso, não sei como fabricam esses números maravilhosos de popularidade, mas já se ensinou que a Estatística é a maior das mentiras — tudo depende de quem vai comprar e o brasileiro compra qualquer porcaria  — mas o que não se deve perder de vista (como nos mostra o filme) é que um rato continua a ser um rato mesmo quando ruge — uma impossibilidade natural. Em outras palavras, pode até causar espanto, estranheza, mas um rato não passa de um rato.

Tergiversar como preâmbulo é um perigo, mas não resisto. Todo o parágrafo acima é para emoldurar uma matéria publicada em Exame Online, que repasso a seguir, grifos meus.

Dilma diz que governo não vai abandonar a indústria

Para a presidente, o lançamento de medidas de incentivo à indústria é uma reação aos impactos da crise e ao protecionismo adotado por alguns países desenvolvidos

Dilma: “meu governo estará sempre ao lado do
desenvolvimento com a proteção da indústria e emprego.”


Brasília - A presidente Dilma Rousseff ressaltou hoje (3) que o lançamento de medidas de incentivo à indústria é uma reação aos impactos da crise econômica internacional e ao protecionismo adotado por alguns países desenvolvidos. Para ela, é possível garantir o estímulo ao setor industrial, o aquecimento da economia, sem adotar ações que prejudiquem os trabalhadores brasileiros. Dilma disse ainda que no modelo de desenvolvimento econômico brasileiro exige uma indústria forte e inovadora.

“A melhor saída para a crise não está na velha receita da recessão e da precarização do trabalho. Essa tem sido para nós a fórmula do fracasso”, disse Dilma, sem se referir diretamente às medidas adotadas por alguns países europeus.

Em seguida, a presidente ressaltou que o Brasil tem demonstrado que não existe incompatibilidade entre cortar gastos e permitir o crescimento econômico. “É possível gastar com parcimônia”, disse. “O governo não vai abandonar a indústria brasileira”, completou.

Dilma destacou que o governo tem os “instrumentos” necessários para garantir os incentivos à produção interna e que “não vai deixar” de usá-los. A presidente pediu o apoio dos 19 conselhos formados por empresários, trabalhadores e integrantes do governo que representam 11 setores da produção nacional.

“Esse grande conjunto está orientado por um grande propósito: estimular o desenvolvimento produtivo no Brasil. Vamos estimular as exportações para que as empresas invistam e ganhem produtividade. País rico é o que investe, cria empregos e se torna cada vez mais competitivo”, destacou a presidente.

Segundo Dilma, para executar medidas estruturais é necessário colocá-las em prática por etapas, sem açodamento. A presidente reiterou que os efeitos da crise econômica internacional são acompanhados “atentamente” pelo governo. Ela lembrou que as medidas adotadas de forma pontual são mais eficientes, pois a economia é dinâmica.

“[Temos de] utilizar [nossa] capacidade de um acompanhamento sistemático porque a economia é dinâmica e requer do governo ações constantes”, destacou a presidente, cobrando de todos os presentes no lançamento das medidas, que fazem parte do Plano Brasil Maior, empenho na execução. “Meu governo estará sempre ao lado do desenvolvimento com a proteção da indústria e emprego.”

Para um texto tão curto como o da matéria acima, é impressionante a quantidade de contraposições e repetição de obviedades. Não há como sair algo que preste de um discurso fabricado por frases soltas de livros de pensadores econômicos entremeadas com arrotos de Marx, Engels e Gramsci. Se é daí que virá a salvação da lavoura, digo, da indústria, então ela que se cuide.

Porque o que mantém a indústria e todo o resto do setor produtivo brasileiro no freezer é o Governo, ninguém mais, já que todo empresário persegue o sucesso do próprio negócio. Mas quando se olha para o passado, é fácil notar que os últimos movimentos à frente de governos foram o Desenvolvimentismo de JK e o Milagre Brasileiro do Regime Militar. Evito incluir aí a industrialização no governo Vargas porque aquilo foi mais um escambo entre ele e Roosevelt pelo reposicionamento do Brasil em relação à 2ª Grande Guerra e não uma política de governo.

De lá para cá, setores produtivos do País têm sido espoliados sistematicamente em todos os níveis, além de não poder contar sequer com uma infraestrutura decente que os permita transformar seu produto em divisas. Assim, perde-se algo como 30% das safras apenas no caminho entre as regiões produtoras e os portos de embarque, portos esses considerados dos piores do mundo, sejam por suas instalações, pessoal, eficiência e burocracia. Para a industria é um pouco menos pior, já que não se perdem veículos e parafusos como se perdem feijões pelo caminho, mas é só um pouco menos...

Carga tributária extorsiva, burocracia, juros elevadíssimos, falta de infraestrutura mínima, baixo ou nenhum investimento oficial e outros mais, como justificativa para o clientelismo, a cooptação, o corporativismo e a corrupção. Não serão discursos vazios e caras-feias — óbvia redundância — que colocarão ordem na Casa. Também não adiantará atirar impropérios aos subalternos que são muitos: só de ministérios chegamos à quarta dezena, o que não dizer da miríade de bocas famélicas a grasnar pelo dinheiro do Tesouro nos escalões inferiores, no Congresso e no Judiciário, o Poder da Dama Cega.

Como tornar competitiva uma Indústria? Olhe a animação na coluna à direita — aquela do Movimento por um Brasil Eficiente — e veja como nossos preços se comparam aos de fora. É... não dá pra competir nesses termos e note que o mote ali são "apenas" os impostos.

Dilma acusa os "outros" de protecionismo, mas o que faz ela? No momento (e para citar um caso) estabelece cotas de importação de veículos mexicanos — unilateralmente — descumprindo o acordo automotivo firmado com aquele país. Ela também culpa a sobrevalorização do Real em relação às demais moedas, uma clara MENTIRA, já que o México "padece" do mesmo mal e ainda se mostra competitivo em relação a nós. O influxo de moeda estrangeira é, em grande parte, devido aos maiores juros do mundo, uma variável cujo controle é EXCLUSIVIDADE do governo.

A presidenta também escarnece quando diz que vai reduzir custos. Custos foi o que não parou de crescer desde que o lulo-petismo assumiu a governança. Resolveram acabar com a fome distribuindo esmolas ou invés de criar os tais 20 milhões de empregos (10 em cada mandato). Acho que criaram apenas a quinta parte disso. E pensar que o "temível" Garrastazu Médici criou 35 milhões nos anos 70 — o equivalente a 39% da nossa população — sem os impostos escorchantes de hoje (o maior ICM era de 6%) e investindo em infraestrutura. O esquerdismo não passa de uma mentira repetida muitas vezes.

É com esse Tutu Marambá que o Planalto pretende enfrentar a crise, aquela marolinha tão desdenhada pelo "Nosso Guia", outro campeão de popularidade. Impressionante é que entidades como FIESP e que tais se prestem a bajular uma ignorante e seu bando de acólitos só para não perder as migalhas que cairão eventualmente do seu prato. Eu começo a acreditar que eles torcem pela volta da inflação e do caos, porque naquela época uma FIESP ditava os rumos do Governo e hoje apenas ganem de satisfação se a patroa lhes atira um osso, aquele osso que sai dos nossos salários.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Ufanismo barato e inócuo

"Nunca antes na história dessepaiz" tivemos um ministro tão incompetente na área. Palavras como "canhestro" e "tosco" me vêm à mente sempre que o vejo, e é bom que se diga, ele nem precisa dizer nada; basta a estampa. Falo de Guido Mantega, o eleito de Lula (e Dilma) para chefiar nossa economia. Suas qualificações para o cargo são dos tempos da militância sindical, então, não é de se admirar que sob sua gestão, a arrecadação tributária só faça subir, tal e qual nos sindicatos brasileiros que não precisam de sindicalizados (nem razão) para existir, graças aos fundos providos pelo imposto sindical e sua subserviência ao Estado. Sindicato, como no Brasil, não tem paralelo: é outra jabuticaba.

Pois esse senhor resolveu imitar "Nosso Guia" e mostra arroubos de um orangotango a bater com as mãos no peito. Canhestro, como de hábito, ele quer intimidar a Europa assim, batendo no peito e "falando grosso" — aspas necessárias, pois sua tibieza ao falar não permite mais que alguns gemidos e esgares. Guido sucks, mas ainda ganha espaço na mídia. Foi no site da BBC Brasil que eu li o seguinte, grifos meus:

Brasil condiciona ajuda à Europa a mais poder no FMI

O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, afirmou que os países em desenvolvimento poderiam prover mais recursos para ajudar os países da zona do euro em dificuldades, mas desde que ganhem como contrapartida mais poder dentro do FMI (Fundo Monetário Internacional).


Os comentários de Mantega foram feitos durante um encontro de ministros das Finanças do G20 na Cidade do México.

O ministro brasileiro também pediu que os países da própria zona do euro contribuam mais com seus próprios fundos para a ajuda.

"Os países emergentes somente ajudarão sob duas condições: primeiro que eles (os países da zona do euro) reforcem sua rede de proteção (o fundo europeu de ajuda aos países em dificuldades) e segundo, que a reforma do FMI seja implementada", afirmou.

"Eu vejo a maioria dos países compartilhando opiniões semelhantes de que os europeus têm que fortalecer seu fundo de proteção", disse.

[...]

"Cor do dinheiro"

O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, afirmou que as nações da zona do euro avaliarão no mês que vem a possibilidade de aumentar o tamanho do fundo.

George Osbourne, ministro das Finanças da Grã-Bretanha, país que não faz parte da zona do euro, fez cobranças parecidas às de Mantega.

"Estamos preparados a considerar (aumentar) os recursos do FMI, mas apenas depois de vermos a cor do dinheiro da zona do euro, que ainda não vimos", afirmou.

[...]
Ai, que medo... Ora, as potências econômicas mundiais — e eu não incluo a China aqui — sabem muito bem o que fazer. Aliás, já estão fazendo. Os Estados Unidos da América deram a receita no ano passado: emitir moeda — sem lastro — inflacionando e desvalorizando o meio circulante, ganhando vantagens competitivas de mercado. Que se dane o [resto do] mundo, afinal, nossa moeda (a deles) é o meio de troca oficial!

A Europa resistiu à adoção do modelo, mas como dito no artigo do Celso Ming no Estadão, já ligou as rotativas e vem aí uma "Nova chuva de euros". Com essa "patada" do Mario Draghi, logo se ouvirão choros e ranger de dentes do ministério da Fazenda. Pode-se repetir aqui o que eu disse acima: que se dane o [resto do] mundo, afinal, nossa moeda (a deles) é a alternativa para o meio de troca oficial!

Economia não é para amadores, menos ainda para um amador soft. Como bem disse Leandro Roque, "Toda vez que Guido Mantega abre a boca para falar sobre economia, minha coluna vertebral evoca memórias de vidas passadas e começa a empurrar meus membros anteriores para o chão.  A sensação é a mesma de Voltaire, que declarou ter ficado com vontade de voltar a andar de quatro após ler um tratado de Jean-Jacques Rousseau." Não sei se, no caso de Mantega, a expressão correta seria "andar de quatro"; pode servir para Rousseau, mas no outro caso, "ficar" pode ser melhor que "andar". Leiam a íntegra do artigo de Leandro Roque, cuja leitura recomendo, mas que é um tanto longo para se publicar aqui.

Mantega é assim, nunca se sabe se ele está indo ou vindo; o nexo não é característico do seu pensamento. Aliás, repetindo o que disse o Leandro, "É tanto despautério num pensamento só, que é até difícil escolher o ponto de partida." Assim é o timoneiro da economia brasileira, o responsável, em última instância, pela destruição da incipiente competitividade da indústria nacional. Sob Mantega e o lulo-petismo, o Brasil se consolida como exportador de commodities, enquanto a China — irmã BRIC — já ultrapassou os EUA em produção industrial. Ficar de quatro pode não ser apenas nosso destino, mas nossa vocação, bem no estilo "diga-me com quem andas, que te direi quem és".

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Grécia: A antevisão do tiro no pé

Certas coisas são tão óbvias que nem deveriam ser consideradas. Um exemplo disso é a Grécia considerar sair da zona do Euro. Ora, essa hipótese deveria ter considerada bem lá atrás, quando a Grécia decidia se deveria entrar ou não na zona do Euro, na União Europeia. Na minha opinião, a decisão — certa ou errada — foi tomada e não cabe revisão, ainda mais agora.

É como como num casamento. No início, via de regra, um casamento é só prazer. Passado algum tempo, vêm os filhos, responsabilidades com a sua educação, compra da casa própria, manutenção do emprego ou busca por outro mais conveniente, gestão da casa, administrar conflitos com vizinhos, etc. Não fosse o bastante, ainda fazem parte do dia-a-dia decisões como dedicar-se à casa e à família ou perseguir uma carreira profissional, apenas uma entre muitas. Resumindo, cedo ou tarde as obrigações do casamento baterão à porta, ache você importuno ou não. Alguém precisa avisar "dona Grécia" sua parcela de responsabilidade no seu casamento com a União Europeia e o Euro.

Porque o que se mostra pela mídia é que a Grécia — e ela não está sozinha aqui — parece ter ficado muito feliz com o dote que recebeu por ocasião das núpcias, deitou, rolou e se esbaldou no clube dos ricos e não se preocupou nem com a conta nem com a taxa de manutenção. Agora, à vista do tamanho da conta a pagar, isto é, suas responsabilidades para com o clube, ela quer se dizer "equivocada" e que o melhor seria "voltar para a draga da Dracma, de onde nunca deveria ter saído." Sim, você pode se arrepender; pode até dar o calote na conta; mas prepare-se para mancar por um bom tempo se é que voltará a andar pelos próprios pés um dia.

Celso Ming mostra o cenário em sua última coluna (trechos abaixo, grifos meus):

Dilema atroz

Celso Ming

No final de outubro, o então primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, avisava, em tom de advertência, que seu país nunca esteve, como naquela ocasião, tão perto de abandonar o euro. Como, de lá para cá, pouco mudou, conclui-se que a Grécia do atual primeiro-ministro Lucas Papademos continua próxima de abandonar a moeda única.

O governo grego parece sempre estar dizendo que o prejuízo maior de eventual saída do euro ficaria para os demais sócios, não para seu povo. O pressuposto seria o de que a troca de moedas provocaria brutal contaminação e o derretimento do próprio euro.

Depois que o Banco Central Europeu começou a despejar volumes ilimitados de recursos nos bancos do euro, o naufrágio à Titanic do bloco parece bem mais improvável – embora os problemas estejam longe de ser sanados.

[...]

Para o governo da Grécia, a primeira vantagem da volta à dracma seria poder emiti-la cada vez que tivesse de cobrir um rombo. Outra vantagem seria a de derrubar as despesas públicas. A operação de saída do euro viria acompanhada de alentado calote da dívida. Sem ter de pagar nem os juros nem o principal, o déficit ficaria mais administrável. Em terceiro lugar, uma dracma megadesvalorizada baratearia em moeda forte seus produtos de exportação e seus serviços de turismo. E, assim, com mais receitas em moeda estrangeira, a Grécia poderia recuperar o ritmo de sua atividade econômica.

Mas essa seria só a parte boa da maçã. O calote fecharia o crédito externo por anos. A Grécia teria de viver da mão para a boca, com o que arrecadasse. O precedente da Argentina, sempre lembrado, teria pouca aplicação. A Grécia não é grande produtora de commodities, não tem significativas receitas em moeda estrangeira, tampouco uma indústria competitiva.

Uma forte desvalorização da dracma em relação ao euro, por si só, teria forte potencial inflacionário. Como os gregos são dependentes de suprimento de alimentos e de energia (combustíveis) do resto do mundo, especialmente da Europa, o preço dos importados dispararia.

O calote e a troca de barco seriam operações de graves consequências. Os maiores credores da Grécia são os bancos gregos. É provável que muitos deles viessem a quebrar. Além disso, a população grega tem depósitos e aplicações financeiras em euros nos bancos locais. A troca de moeda exigiria a conversão desses ativos para dracmas. [...]

Enquanto o dilema for morrer de morte morrida ou de morte matada, fica compreensível que o grego prefira fingir: fingir que aceita a dureza do plano; fingir que vai cumprir o acordo; fingir que não aguenta mais; e fingir que dará o abraço do afogado e que não será a única vítima.

Como eu comecei com a analogia do casamento, fico aqui pensando se a animação em stop-motion "A Noiva Cadáver (Corpse Bride)", de Tim Burton, não ilustraria bem o imbróglio em que se meteram os gregos. Quem assistiu ao filme sabe que o cerne da trama é o desejo de duas famílias "se arrumarem" pelo casamento dos filhos. Uma quer a projeção social que a outra (ainda) tem; a outra, o dinheiro da primeira. Os filhos nubentes (as populações dos países envolvidos) não foram levados muito em conta nesse arranjo, embora fossem sinceros no propósito matrimonial. Com a entrada em cena da noiva cadáver (a crise), a Grécia fica sem saber se assume seu real papel ou se muda para o de Lord Barkis Bittern — o vilão oportunista que leva a pior no final.

No meu maior atrevimento, sugiro aos gregos refletir sobre o que fizeram: no fundo, no fundo mesmo, a culpa é exclusivamente deles. Afinal, os signatários do Tratado foram eleitos, democraticamente, pela maioria da população; eram os seus legítimos representantes. Não adianta protestar agora pela burrice feita, assim como não se chora sobre o leite derramado. Só há um caminho possível: assumir o amargo ônus e sonhar com o retorno dos bônus. Dar um tiro no pé agora não resolverá o problema, causará muita dor e certamente arruinará com o pé irremediavelmente.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Krugman é "oba-oba-Obama" desde menininho

É preciso ser no mínimo atrevido para criticar um laureado pelo Nobel, mas nunca dei muita bola para títulos e comendas, ainda mais para o Nobel. Então, não restam dúvidas quanto a minha impertinência em criticar Paul Krugman, economista e colunista do Estadão. Leio suas colunas com frequência, as versões traduzidas e as originais em Inglês, ambas igualmente insípidas e superficiais — Krugman deve ser melhor fazendo outra coisa. Abaixo, sua última coluna no Estadão, grifos meus.

A exposição dos Estados Unidos à Europa

Paul Krugman


Hoje é fato aceito que o destino da economia dos Estados Unidos nos próximos três trimestres – e também as chances de reeleição de Obama – dependem dos eventos na Europa. Portanto, talvez seja um bom momento para expressar um certo ceticismo.

O mapa acima – tirado daqui – nos revela que no total, as exportações para a Europa representam apenas 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Alguns Estados, particularmente a Carolina do Sul, estão mais expostos (possivelmente por causa de fábricas de montadoras europeias instaladas lá). Mas, de qualquer maneira, Obama não vencerá na Carolina do Sul. E num sentido mais amplo, mesmo uma queda brusca das exportações para a Europa só terá um pequeno impacto direto sobre a demanda.

OK, um alerta: a medida acima é apenas das exportações de produtos, e devemos aumentar a porcentagem talvez em 25% para levar em conta os serviços. Além disso, as exportações não são o único canal: se a situação na Europa provocar um evento tipo Lehman, transtornando os mercados financeiros em todo o mundo, tudo muda completamente.

E preciso dizer que existe um quebra-cabeça antigo envolvendo os ciclos econômicos em todo o mundo – as economias funcionam em sintonia mais do que é explicado pelos vínculos concretos em forma de exportações.

Com tudo isso, no entanto, ainda é bastante duvidoso se a iminente recessão na Europa terá realmente um impacto muito negativo aqui. Uma desvinculação não se sustentou em 2008-2009, mas foi um desastre memorável. Desta vez pode ser diferente.

Fiquei com clara impressão desse artigo ser uma opinião tendenciosa do autor sobre o assunto tratado — a crise europeia —, mas pode ser apenas uma impressão. Na minha imodesta opinião, Krugman erra ao separar a crise iniciada pela falência do Lehman Brothers (2008-2009) da atual. Na verdade, a crise europeia atual é a extensão da outra, ou ainda melhor, consequência dela.

Isto porque a Europa (leia-se bancos europeus) está entre os principais credores dos títulos da dívida imobiliária americana (i.e. subprime). Na mesma linha, ainda existem muitas dúvidas na, digamos, pseudo-estatização da Fanny Mae e da Freddy Mac, as principais operadoras do mercado imobiliário americano, salvas da falência — dizem algumas línguas — por influência direta da administração Obama. Se a Europa anda no fio da navalha, então os EUA deveriam se preocupar sim senhor, até porque não há China que chegue para todos.

Fica, então, um travo de oportunismo eleitoreiro no ar ao se ler o artigo. Na opinião das tais línguas mencionadas no parágrafo anterior, e na minha, os Estados Unidos da América estão cada vez mais a cara do Brasil... Eu, hein! Seria a obamização da América igual a lulalização do Brasil? Se for, eles então sífu (royalties para "Nosso Guia"), que nem nós aqui.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Como faz bem um pouco de pragmatismo

Pessoas que me conhecem, pessoalmente, sabem que sou fã do esporte a motor, especialmente da Fórmula 1. Venho acompanhando a categoria desde que tomei conhecimento de um certo Émerson Fittipaldi, campeão mundial da categoria, visto por mim num comercial da Texaco. Eu me encontrava nos Estados Unidos da América como estudante de intercâmbio e ver um brasileiro ser objeto de reverência (e referência) naquelas plagas era mesmo de chamar atenção. O ano era 1972 e passei a seguir o campeonato já no ano seguinte, não importava por que mídia. Fui feliz na escolha: o Brasil sempre deu excelentes pilotos e grandes campeões — isso todos sabem — mas não é sobre F1 ou sobre pilotos que quero falar; é sobre pragmatismo e respeito pela coisa pública, algo que faz muita falta aqui. Repasso uma rápida notícia da revista 4 Rodas que me chamou a atenção. Grifos meus.

Barcelona também analisa quebra contrato com Fórmula 1

Por Carlos Eduardo Garcia

A crise europeia, que atingiu em cheio países como a Espanha, já havia na semana passada forçado os organizadores do Grande Prêmio da Europa em Valência a pensar na hipótese de renegociar a realização de uma prova no local. Agora é a vez do governo de Barcelona pensar no caso, tanto em relação à Fórmula 1 quanto à Moto GP.

"Nós podemos reconsiderar a prova de Fórmula 1 ou Moto GP. Não está claro para nós que podemos pagá-los na situação atual", comentou Andreu Mas-Collel, ministro da economia da Catalunha. "Não é a primeira coisa que vamos reconsiderar, mas em tempos como estes, devemos olhar atentamente onde gastamos nosso dinheiro".

O circuito da Catalunha está no calendário da Fórmula 1 desde 1991 e também recebe os testes coletivos de inverno. Barcelona tem um acordo para sediar a corrida até 2016, que é o motivo de análise criteriosa.

"Há contratos que são mais caros para manter do que para quebrar", finalizou.

Pois bem, eu fico aqui imaginando nossos governantes salivando ante uma notícia dessas. Eu falo do ufanismo tupiniquim, que precisa bater no peito como um gorila e berrar para o mundo "como nós somos mais ricos, mais corajosos, mais machos, etc., e que esses espanhóis (na verdade, catalães e valencianos — fazem questão) não passam de umas bichonas medrosas" e por aí vai. Acho que não dá nem para os tais quinze minutos de fama que Warhol vaticinava, mas uns 80% da população (estou exagerando, já que só uns 20%, se muito, saberão ler a matéria), vai se deliciar.

O problema é que "pau que dá em Chico dá em Francisco", dá no Zé, no Mané, dá em todos nós. A tal "crise europeia" não é só europeia, é mundial. Está aí desde 2008, apesar das "bravatas de marolinha" do Nosso Guia e dos seus acólitos, dona Dilma encabeçando a lista. Com dinheiro não se brinca, mas a máxima não foi escrita para PT et caterva.

Provas de F1 estão entre os eventos mais caros do mundo. A cifra paga para se ter o direito de sediar provas é altíssima. As mais tradicionais pagam algo em torno dos US$15 milhões/ano, mas há provas, como as dos países árabes, que pagam 40-50 milhões/ano. Os contratos são, em geral, pelo prazo de cinco anos, então, é uma baba de dinheiro que se precisa pagar só pelo direito de receber a efeméride.

Mas não é só isso não. Você precisa ter e manter um circuito adequado. Se for fazer um — como pretendem argentinos, mexicanos e texanos —, os números são da ordem de centenas de milhões. O de Xangai custou US$300 milhões, dizem. Ainda assim, falam que dá retorno...

Tudo bem, se fosse um negócio totalmente privado, mas quando é o dinheiro de um governo que banca a festa, há que se fazer escolhas, nominar prioridades — o tal do pragmatismo — e não é por outra razão que a última frase negritada acima é das mais lúcidas que já tive oportunidade de ler. É preciso ser muito responsável para com um povo, para se tomar uma atitude dessas e eu queria muito que um político daqui me desse um dia tamanho orgulho.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Os fatos desmentem a retórica

Dilma, a representante ad hoc do lulo-petismo, bradou do alto do seu palanque virtual que o Brasil cresceria 5% no ano que se avizinha. Aqui mesmo, eu disse que o único crescimento na sua gestão tem sido nos índices de corrupção — e isso em relação àqueles do governo anterior — já pródigo na roubalheira e na maracutaia.

Para que não pensem que é perseguição minha, vejam o que nos reporta o Celso Ming no Estadão (grifos meus):

Fazer escolhas

Dilma, inflação e recessão não têm medo de cara feia
A equipe econômica do governo Dilma já não insiste, como até há algumas semanas, em projetar o avanço do PIB em 2012 em 5%. Já trabalha com números mais modestos, ao redor dos 4%. No entanto, o Banco Central, bem mais realista, apontou quinta-feira, no seu Relatório Trimestral de Inflação, um crescimento do PIB de apenas 3,5%.

O que se pode dizer é que, num quadro de estagnação global, as tendências mais realistas para 2012 são de uma expansão mais modesto (sic) da economia brasileira, equivalente ao que se obterá neste ano.

O problema não é apenas esse, mas também o de que, além de enfrentar uma atividade econômica mais fraca, sobe o risco de que, em 2012, o governo Dilma também não consiga empurrar a inflação para o centro da meta (de 4,5%), como vem insistentemente prometendo e como está nos documentos oficiais do Banco Central. Leia a íntegra aqui.

O que se nota é um governo perdido entre maus resultados em ano pré-eleitoral. O pior disso tudo é que o governo abrirá ainda mais as burras para corromper o pleito eleitoral que se avizinha. É a velha receita lulo-petista: quem não tem competência para fazer compra o resultado das urnas, à vista e com dinheiro público.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Para onde vai o emprego?

Eles se auto-denominam "Partido dos Trabalhadores". Ha! Ha! Ha! Qualquer coisa, menos "dos trabalhadores"... Nada como um gráfico para mostrar a eficiência dessa gentalha. Excerto da coluna de hoje do Celso Ming:

CONFIRA

Queda brutal no período de maior contratação?!!

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado nesta terça mostra clara desaceleração das contratações no Brasil – vê-se no gráfico. Em 12 meses (até novembro), 2,3 milhões de postos foram criados, 20% a menos do que no mesmo período em 2010 (2,9 milhões).


Agora começa a ficar claro também para os zés e manés. Dá para perceberem que a nossa economia está fazendo água. Como já denunciado aqui, a bonança do governo Lula era só efeito colateral do bons governos Itamar/FHC. Lula só fez discurso em palanque; não trabalhou, não organizou, não investiu: o governo foi só uma festança irresponsável com a coisa pública e o resultado começa a aparecer. Só falta ele dizer "eu não sabia..."

Pois você não sabe mesmo, idiota, e sua lugar-tenente sabe menos ainda já que aceitou o papel de boi-de-piranha, bucha-de-canhão, massa de manobra. Lula agora é pelego do governo Dilma, como sempre fez com a peãozada...

domingo, 18 de dezembro de 2011

Verdadeira como uma nota de três

Já disse aqui mais de uma vez: "Dilma soa falso." Não que seja absolutamente verdade, não todo tempo, mas, via de regra, é como ela soa. Reproduzo a última coluna da Cristiana Lôbo no portal G1 (grifos meus):

Economia e política

Ao fazer o balanço do primeiro ano de seu mandato, a presidente Dilma Rousseff demonstrou que é muito mais preocupada com a economia do que com a política. Ela começou o encontro falando de sua expectativa otimista para a economia no ano que vem – de crescimento entre 4,5% e 5%, acima das previsões de economistas e do mercado financeiro, mas fez questão de ressaltar que seu otimismo está sustentado nas medidas adotadas pelo governo para enfrentar a dificuldade no cenário internacional.

Segundo ela, a inflação também deve ceder e ficar dentro da meta “em curva descendente” e lembrou que o Brasil “tem margem de manobra” na política monetária, o que não é o caso de muitos países da Europa. Mas realçou:

– Isso também porque nós nos antecipamos ao que vinha no cenário externo. A área econômica fez uma avaliação e viu que a crise era forte. Pouco antes da metade do ano, acendemos o sinal vermelho e percebemos que a crise seria de longo prazo com picos críticos – afirmou.

Quando o assunto era a política, a presidente fez questão de falar num tema que tem lhe dado aumento de popularidade, como revelou pesquisa divulgada hoje pela CNI/Ibope:

O governo não tem compromisso com mal-feitos; é tolerância zero – disse ela que deu indicações de que pretende ser mais criteriosa na indicação de ministros por indicação partidária. Ela afirmou que cada vez mais os critérios de governança internos devem prevalecer e não os partidários.

A indicação é feita pelos partidos, mas a partir da nomeação, o ocupante do cargo deve satisfações somente ao governo. Uma coisa é a governabilidade; uma fez nomeado, ele presta contas ao governo e a mais ninguém – disse.

Tudo bem, deve ser a proximidade do Natal e ela acredita em Papai Noel. Notem, não há uma só gota de verdade no que ela disse (ou pensa). Vejamos:
  1. Crescimento entre 4,5% e 5% no ano que vem nem por interferência divina! A Europa vai caindo pelas tamancas, os Estados Unidos estão fazendo para o gasto e a China não vai conseguir o mínimo de 10% que precisa para se manter porque seus principais mercados — Europa e EUA — estão em dificuldades.
  2. Seu otimismo está sustentado apenas nas mentiras do seu governo. Também já disse aqui mais de uma vez: "A política do PT é mentir sempre, até que a mentira ser aceita como verdade, como ensinou Herr Doktor Goebbels."
  3. A inflação está em curva ascendente e não há margem de manobra já que o crescimento é zero e os mercados mínguam. As commodities, que mantiveram as exportações em alta, também já encontraram seu ponto de inflexão. Por exemplo, a China já não está disposta a pagar aquilo que a Vale quer e a Vale não tem outro freguês para o lugar da China...
  4. O governo não se antecipou, como diz a presidenta. Na verdade, agiu tardiamente. Manteve uma política de juros altos e nenhum ou pouco investimento. Nossa indústria se encontra sufocada por altos tributos, burocracia, custos logísticos, etc. A tibieza do ministro Mantêga é tanta que perdi a conta das vezes em que precisou ir à mídia para se desdizer — falta apenas derreter no Verão. O cenário nào poderia ser pior para se enfrentar uma crise mundial.
  5. A tolerância para "mal-feitos", como gosta de dizer a presidenta, é total. Chegou ao cúmulo de não assinar o Tratado Anti-Corrupção de Genebra. Podia ter assinado, nem que fosse para manter as aparências, mas preferiu não arriscar. São muitos os pescoços de amigos que cabem na corda. Quanto aos seus "critérios de governo", eles se limitam a manter a base aliada a qualquer preço, nada mais. Se um partido pia, ela abre as asas como uma galinha choca.
  6. Se é verdade que os ministros devem satisfação ao governo, por que não se perguntou ao Pimentel o porquê de ter faltado à reunião da OMC, razão de sua ida à Suiça? Hein?! Ah! sei... era só para ele se afastar temporariamente do olho do furacão de mais um escândalo.
Escândalos, o único item da pauta em que o governo Dilma se esmerou nesse primeiro ano. Será que não dava para fazer alguma coisinha? Não é tarefa impossível. Vejamos, Itamar fez o Plano Real em menos de dois anos de governo. FHC consolidou o Real, fez privatizações, melhorou substancialmente a economia e o nível de emprego; modernizou o País. O lulo-petismo vem destruindo tudo isso sistematicamente. Basta abrir os olhos e ver. Basta perguntar: o que Lula e Dilma fizeram para o País em nove anos?

Não fosse a oposição tão fraquinha e mansa, este governo já estaria na latrina, destino certo e apropriado para governos petistas e seus afins.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um zero redondinho

Como este blog já alertou em artigos passados (procurem por "economia" e/ou "PIB"), o "sucesso" do lulo-petismo não passa de uma mentira repetida muitas vezes. Do alto da sua arrogância, tanto Lula quanto Dilma se arvoraram do "crescimento da economia brasileira". A verdade — como começa a ficar evidente — é que o Brasil cresceu APESAR do governo Lula, do PT e de seus associados. Falando assim — "na lata" — o Brasil cresceu porque o mundo inteiro cresceu, e cresceu pouco. Comparado aos demais BRICS, ficamos na rabeira.

Mas aqui, para a patuleia vil e ignara (e ponha ignara nisso), o pouco que cresceu, relativamente, foi mais que o bastante. É preciso admitir, Lula tem sorte. Estava no lugar certo na hora certa, e passados oito anos de vento em popa, ainda arruma uma jabuti para por em cima do poste. Aliás, a figura de um jabuti no poste é bastante apropriada: Dilma não faz nada — não pode fazer nada —, tal e qual um jabuti no alto de um poste. Ficará ali, guardando o lugar do dono, até que ele decida ser conveniente retirá-la para assumir. Toda a lama, ovos, pedras e impropérios serão dirigidos ao jabuti, assim como tem sido.

Como agora! Está lá no Estadão a notícia nada alvissareira de que o Brasil estagnou. Uê, mas nossa presidANTA não estava a se jactar que nenhuma crise nos atingiria, que nós tínhamos um mercado interno imune a ventos e trovoadas? Pois deviam caçar-lhe o diploma, mestrados e doutorados fake. Quem não soube administrar uma lojinha de 1,99 em Porto Alegre não ia saber lidar com as finanças de um País, não é? Olha aqui no que deu:

Com indústria e serviços em queda, economia fica estagnada no 3º tri
No acumulado de 12 meses, o crescimento da economia foi de 3,7%; no ano, o PIB avançou 3,2%


SÃO PAULO - A economia ficou estagnada no terceiro trimestre de 2011 na comparação com o período anterior, sobretudo pela queda da atividade na indústria e em serviços. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ficou em 0% no período. Em valores correntes, o PIB foi de R$ 1,05 trilhão. (Clique no título para ver a reportagem completa, em especial ao infográfico.)

Sejamos honestos, o lulo-petismo tem "qualidades": são muito eficientes em aparelhar o Estado, em cooptar partidos e instituições, e na autopromoção. Afora isso, são como saúvas. Eu confesso, saúvas devem ter alguma boa qualidade que me escapa. Talvez por isto, pela minha própria ignorância, eu não veja outro modo de lidar com elas a não ser o extermínio. Se alguém souber de alguma serventia para as saúvas, me avisem! Deve existir ao menos uma que justifique poupá-las do triste fim. Afinal, já descobriram qualidades até mesmo nos cupins.

A mesma graça não reservo ao PT e ao lulo-petismo: é preciso acabar com eles antes que eles acabem com o Brasil, como se diz das saúvas...

sábado, 19 de novembro de 2011

Criminoso: governo incentiva endividamento pessoal para fomentar consumo

Acabo de ler a matéria no Estadão. Só mesmo num curral de ovelhinhas, pastoreadas por lobos, tal ignomínia seria possível. É justamente essa a imagem que me vem à cabeça: 200 milhões de ovelhinhas branquinhas a balir satisfeitas no curral do abatedouro. Leiam alguns trechos (grifos meus):
BC incentiva crédito no momento em que dívida de brasileiro bate recorde
Desde a crise de 2008, a dívida total dos brasileiros saltou 80,7% e o valor das parcelas pagas mensalmente cresceu 60%


BRASÍLIA - O governo volta a incentivar o crédito para o consumo em um momento que, teoricamente, tem ingredientes arriscados: brasileiros nunca deveram tanto e nunca comprometeram parcela tão grande do salário para pagar as dívidas. Desde a crise de 2008, quando o governo aumentou a oferta de crédito para manter a economia aquecida, a dívida total dos brasileiros saltou 80,7% e o valor das parcelas pagas mensalmente cresceu 60%. Enquanto isso, o salário aumentou bem menos: 33,3%.

Dados do Banco Central revelam que o endividamento das famílias está no nível mais alto da história: pessoas físicas devem cerca de R$ 715,19 bilhões aos bancos em operações das mais simples, como o microcrédito e o cheque especial, até financiamentos longos, como o imobiliário e de veículos, passando pelo caro cartão de crédito.

Segundo o BC, cada brasileiro deve atualmente 41,8% da soma dos salários de um ano inteiro, um recorde. Há pouco mais de três anos, quando começou a crise de 2008, brasileiros deviam o correspondente a 32,2% de sua renda de 12 meses.

Pela metodologia usada nesses cálculos, o endividamento é o total das dívidas de uma família em relação à sua renda somada em um ano.

Como pode ser possível, que às portas de uma crise global de grandes dimensões, onde a Europa (ou boa parte dela) pode ir para o vinagre em questão de meses — e com ela o resto do mundo —, nosso (des)governo tome uma atitude dessas para poder arrotar sua empáfia nos fóruns internacionais como aconteceu com Dilma no último encontro do G-20 em Nice, França. É absurdo que se jogue a economia de um país e o futuro do seu povo no lixo apenas para adornar a própria arrogância.

Notem que a situação periclitante da economia das famílias brasileiras é perfeitamente conhecida pelo Banco Central, consequentemente pelo governo. Fossem eles minimamente responsáveis, estariam pedindo à população cautela, especialmente quando se aproxima uma época de consumo desenfreado — o Natal. Tudo indica que será um daqueles Natais em que os "financiadores de campanhas políticas" (banqueiros, grandes lojistas e industriais) farão a festa e as "ovelhinhas" pagarão a conta.

Quando é que haverá uma — ainda que ínfima — reação a esses desmandos? Não dá para esperar as próximas eleições. Alguém precisa subir numa tribuna do Congresso e denunciar mais esse crime.