quinta-feira, 17 de maio de 2012

A verdade e a ferida


Li agora há pouco uma coluna do Carlos Chagas sobre a instalação da Comissão da Verdade. Despretensiosa a meu ver, ela mexeu com minhas lembranças do passado e com minha consciência do presente. Seguem abaixo algumas linhas desses meus devaneios.

Dizem que retirar a casca da ferida ajuda sua cicatrização. É verdade. Nós fazemos isso instintivamente e até os símios o fazem, às vezes com auxílio do outros. Entretanto, é preciso ter cuidado. Se a casca ainda estiver aderida, a ferida reabre e supura.

Algo me diz que a democracia da qual usufruímos nasceu do reconhecimento dos erros cometidos de parte a parte, dos excessos de ambos. Chegou-se ao consenso de que o melhor seria passar a borracha e recomeçar do zero. Naquela época, ainda na minha juventude, não gostei. Queria a "minha" revanche. Hoje não penso assim.

Aprendi que "ganhar o jogo" ou "ter a última palavra" pode não ser o mais importante. Afinal, a vida é sempre mais longa que um momento da história. Vejo opiniões aqui e ali "exigindo a verdade", sem se preocupar se uns quinze minutos de fama e glória, valerão o presente conquistado. Isto me preocupa.

Aprendemos com erros e acertos. Temos entre nossos ditados um que diz "em time que está ganhando não se mexe", então por que revirar o lixo da história se o seu cheiro já não incomoda? Sabemos o que se passou. O que se arrisca é o risco de inflamar as feridas ao querer apressar sua cura. Hoje, passado já tanto tempo, eu ainda as deixaria como estão, curando-se lentamente, porque o risco de uma nova inflamação — assim eu penso — pode nos ser insuportável.

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