Os limpinhos e os isentões
Nós temos no Brasil duas classes de "cidadãos" bem peculiares. São os limpinhos e os isentões. Parece que são o mesmo grupo, a mesma gente, mas há diferenças.
O limpinho, que deveria ser escrito sempre entre aspas para caracterizar bem a ironia, é aquele indivíduo que torce o nariz, faz um ou outro comentário desabonador, até chega a concordar que a vaca está indo ou já foi para a brejo, mas na hora de se manifestar, de se posicionar ou opinar sobre qualquer coisa se enche de nojinhos e diz "Não, isso não é comigo…", "Não quero me meter…", "Sabe como é, né? Não fica bem para mim…", "Isso pode me prejudicar…" etc. Ele sempre tem uma saída, para a direita ou para a esquerda, a la Leão da Montanha, para não se envolver — e possivelmente se "sujar" — com aquilo. Notem, são sempre solidários, atenciosos, nunca prestativos. E assim comportando, eles mantêm aquela aura de boas pessoas, sempre limpinhas, e que na verdade não prestam para nada. Estão sempre à espera de que o outro faça a coisa certa para si e para todos.
Não vou citar nomes de alguns limpinhos que conheço, nem mesmo o de um certo baiano famoso, mas certamente alguns nomes já passaram por sua cabeça.
A outra classe é a dos isentões. O termo é novo — e bem ao contrário do outro — é claramente derrogatório. Enquanto a ironia é o que adjetiva o limpinho, aqui é o superlativo que emoldura a palavra. Ora, uma pessoa isenta é isento e pronto. Não há um mais isento e outro menos isento. Ou se é ou não é. Na sinonímia de isento estão as palavras "livre" e "desobrigado". O isento não deve nada a ninguém e é por isso mesmo que quando se adjetiva alguém dessa forma se quer dizer que é uma pessoa que não tem o rabo preso, não está nas mãos ou nas pontas dos cordéis de outra pessoa ou organização. Por exemplo, o Haddad não é uma pessoa isenta, já que ele está nas mãos e cordéis daquele tristemente famoso cadeiante. Se o cadeiante diz a ele "Pule!" ele pula sem pestanejar. Vocês me entenderam, não?
Bom, esta aí foi uma exemplificação da palavra isento, mas e o isentão? O que é ou o que significa ser um isentão? Ora, a única acepção razoável para o termo é ser um omisso. Aviso desde já que esta é a minha interpretação particular. Assim, o isentão é aquele que por não poder fazer algo, por não poder alcançar algo, se exime voluntariamente de fazê-lo por outra via. Entenderam a diferença? E diferentemente do que fiz acima, aqui darei alguns nomes.
Meu primeiro isentão é o Amoêdo. Começo com ele porque foi a minha primeira escolha para presidente. Concordo com várias de suas posições e até mesmo algumas idiossincrasias de seu partido "Novo", mas com a evolução de seu discurso e de sua natural exposição acabei por concluir que ele acredita que suas posições só são válidas se forem executadas por ele. E como ele não tem — como nunca teve — chances de concorrer ao cargo, vai sentar-se em cima dos seus 425 milhões e ficará admirando o circo pegar fogo. Tudo bem, o cara deve ser um gênio — isso eu não discuto — mas se comporta como um menino rico mimado que pede a bola do jogo quando toma um drible e leva um gol.
Outro isentão é a Marina. Aparece de quatro em quatro anos como uma entidade transcendental, toda pura, toda ecológica, toda incoerente com um rol de soluções escalafobéticas e um discurso que ninguém entende mas que parece muito bonito e consistente. Eu ainda não me decidi com o que ela se parece. Ela me lembra a Vovó Zilda da Família Dinossauros, mas quando fala já me lembra o Mestre Oogway (Kung Fu Panda), mas falando como como o Yoda, de trás pra frente. É uma tartaruga sem casco falando de um jeito que ninguém entende. E agora, quando mais uma tentativa de chegar à Presidência vai para o vinagre, ela se contorce e esquiva sobre quem vai apoiar. Depois de 27 anos no PT, e sem nunca ter falado uma única vírgula sobre os roubos dos próceres de seu ex-partido, ela dá de isentona e voltará em silêncio sepulcral para outra hibernação quatrienal.
Por fim, o rei dos isentões: FHC. Já deu todos os palpites infelizes que poderia dar mas sempre cabe mais um. FHC é hors concours. Já torpedeou a campanha do Picolé de Chuchu, do Dória e até do Álvaro Dias que nem é mais do seu partido. Fez tudo isso dando palpites "isentos" de como fazer isso, como não fazer aquilo. Devia ser Papa. Como é que esse sujeito tem a pachorra de pregar voto útil em Haddad como sendo a única forma de se vencer Bolsonaro, que diga-se, não tem apoio de ninguém — só o do povo. Só há uma frase para definir o isentão FHC: "Peidei, mas não fui eu." Dá um bom epitáfio.
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