domingo, 26 de julho de 2015

O escorpião que pediu ajuda ao sapo


Reproduzo abaixo parte do texto do Jornalista Polibio Braga, um dos poucos da profissão que admiro. Grifos meus, pitaco em seguida.

Existe uma fábula que conta a história de um escorpião que, prestes a morrer afogado, pediu socorro a um sapo. Este, com medo de ser picado, a princípio negou a ajuda. No entanto, sua boa índole o levou a ceder os apelos do escorpião. Ao conduzir o escorpião a um lugar seguro o sapo recebeu então a picada que tanto temia. Em seus últimos suspiros o sapo perguntou ao escorpião o porquê dele o picar, mesmo após ter salvado sua vida. O escorpião respondeu com naturalidade: 

- Não pude evitar. É a minha natureza.

A fábula poderia ser aplicada em pelo menos três momentos da história de Fernando Henrique e Lula (e por extensão ao PSDB e ao PT). O primeiro aconteceu às vésperas das eleições de 2002, quando Fernando Henrique colocou o então candidato Lula no “sucatão” presidencial e o conduziu ao FMI para assinar um empréstimo para ajudar a debelar a crise do seu futuro governo, fruto justamente de suas declarações irresponsáveis quando oposição¹.  O fato é bem retratado no livro “A campanha secreta de FHC pró-Lula”, o que certamente ajuda também a explicar o distanciamento entre Serra e FHC nas eleições daquele ano. Aliás, não apenas este desfecho, mas já nos primeiros sinais do agravamento da chamada Crise Lula, em meados de 2002, FHC deu uma entrevista onde praticamente afiançou a eventual eleição do opositor, afirmando que este estava “preparado para assumir o Brasil”. Ou seja, FHC se comportou exatamente como se espera de um estadista: colocou os interesses do país em primeiro lugar², sacrificando a eleição do seu sucessor.

Mas a ajuda do sapo Fernando Henrique ao escorpião Lula não parou por aí. 

No dia seguinte ao resultado das eleições, este colocou todos os seus ministérios à disposição do PT para iniciar uma pacífica transição³. A boa vontade do PSDB foi tanta que o então ex-ministro Antônio Palocci, em seu livro “Sobre formigas e cigarras”, se desmanchou em elogios ao governo FHC, não apenas pela política econômica herdada, mas também pela agenda de reformas já elaborada.  Aliás, o PT chegou a cogitar a permanência do até pouco tempo demonizado Armínio Fraga no cargo de Ministro da Fazenda. E mesmo com a escolha de Palocci para o cargo, o PT foi recrutar no PSDB o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

A relação entre PT e PSDB só começou a mudar depois que os ingênuos tucanos perceberam que foram enganados pela oportunista afabilidade do PT. 

A real natureza do partido, sua velha e conhecida postura arrogante, antirrepublicana, populista e autoritária já pôde ser conferida no dia da posse, quando o Palácio da Alvorada foi decorado com uma enorme estrela vermelha de flores, mostrando a confusão que o PT sempre fez entre partido e Estado.

O segundo momento em que o escorpião PT recorreu ao sapo PSDB foi em 2005, no auge do escândalo do Mensalão, quando os petistas convenceram os tucanos das “inconveniências” do impeachment para nossa jovem democracia. 

O resto da história todos conhecem. Lula, que perdia feio nas pesquisas tanto para Serra quanto para Alckmin, recuperou sua popularidade, venceu as eleições e intensificou sua retórica populista do “nunca dantes na história deste país”, aproveitando sempre cada sessão de autoglorificação para demonizar seu antecessor.

A terceira ocasião que o escorpião petista recorre ao sapo tucano aconteceu nesta semana. E como já se tornou rotina quando os petistas planejam algum passo polêmico, primeiro eles testam sua repercussão vazando alguma informação para a tal “imprensa golpista”. Em seguida, negam o fato, como fez o Instituto Lula, enquanto que na esgotosfera os blogueiros pagos pelo PT aproveitam para mais uma sessão de demonização da “imprensa golpista”.

É a velha estratégia de dar uma no cravo e outra na ferradura, como sempre fez o Lula, o Brahma. Como a repercussão foi tímida, uma vez que a população está cansada do noticiário político, logo em seguida aparecem os paus mandados de Lula fazendo declarações na imprensa (como o Jaques Vagner, por exemplo, exortando o “diálogo para o bem do Brasil”!

Ou seja, a historia se repete.  (link 1 abaixo para íntegra da matéria)


Meu pitaco:

Em que pese o sentido do texto estar correto, a ideia, a mensagem que o Jornalista quis passar está equivocada. Não há sapos nesta história, apenas escorpiões. Alguém pode se lembrar que Brizola chamava Lula de "sapo barbudo", mas isso era devido à má estampa do pelego — Lula passou a frequentar o barbeiro e o banheiro depois de conhecer Duda Mendonça — e à permanente cara de ressaca alcoólica. Retirado o sapo da fábula, cuidemos dos escorpiões.


¹ Quem acredita que tomar um empréstimo junto ao FMI foi um beau geste de FHC, não conhece o finório. FHC deliberadamente escalou Serra para perder, já que o mesmo se tornaria um empecilho irremovível daí a 4 anos caso ganhasse. FHC acreditou estar atirando "pérolas ao porco certo", mas que fique claro, em seu benefício futuro.

² Chamar FHC de estadista, sem usar aspas, é erro grave, razão pela qual eu, além de negritar, também ter alterado a cor no texto original. Como já salientado no parágrafo anterior, FHC usava de sua influência em seu único benefício. Ele havia aprovado a reeleição e se reeleito uma vez. Um governo Serra, que saberia manter os mesmos fundamentos do seu, o autorizaria a um segundo mandato — lógica elementar —, tempo (8 anos) em demasia. Serra foi atirado aos leões, para o gáudio da patuleia, enquanto FHC urdia sua volta para daí a 4 anos. Só não contou que o outro escorpião o demonizaria como o responsável por todos os males passados, presentes, futuros e inexistentes. O escorpião sabido e elegante sucumbiu à saraivada de estocadas do outro. Foi uma luta de um boxer meia-bomba contra um troglodita de MMA peso pesado. Massacre!

³ Quanta magnanimidade! FHC devia ganhar o Nobel da Paz e nenhum dos seus puxa-sacos se lembrou de indicá-lo (Lula já foi, e mais de uma vez!). Ironias à parte, FHC mostra naquela atitude exatamente ao que veio, o seu real papel na história. O que ele — escorpião de fraque e cartola — ensinava ao outro, era a clássica estratégia das tesouras (link 2 abaixo). "Olha amigo, somos farinha do mesmo saco, irmãos de luta e de glória, não há razão para nos digladiarmos. O butim chega para todos. Podemos nos revezar, hora eu, hora você, até o fim dos tempos...", teria dito ele ao Lula. Novamente, lógica elementar, mas quem disse que Lula é lógico?

Doze anos após, FHC só tem a "fina estampa" para mostrar. Acho que ninguém liga muito para o que ele tem a dizer. Passou. Lula também não está bem. Com a PF a rondar suas muitas propriedades, "laranjas" revoltados, denúncias de todo lado e a iminência de terminar seus dias de glória na prisão, devem estar mexendo com ele. É no que dá uma briga de escorpiões: vence o que morre por último.


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