terça-feira, 23 de outubro de 2018

Pitacos nas Eleições 2018 #28

A indignação seletiva das nossas "instituições republicanas"

O Brasil chega a dar preguiça. O Brasil, não; suas instituições. O fato que vou comentar já é do conhecimento de vocês, então serei breve. Trata-se do comentário do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do também deputado e candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro.

A celeuma nasce em razão de um vídeo feito em Julho, de uma palestra dada por Eduardo Bolsonaro em um curso preparatório para candidatos à Polícia Federal. Neste vídeo, o deputado responde a uma questão alheia ao curso, porém afeita ao pai do deputado. Segue o diálogo transcrito de um vídeo do Estadão (vídeo abaixo).


Pergunta: "Seu pai, sendo eleito no 1º turno, há possibilidade do STF, que é uma previsibilidade, dele agir e impedir que seu pai assuma, e isto acontecendo, o Exército pode agir sem ser invocado lá, salvo engano, acho que o artigo 1º? Se isso acontecer?"

Eduardo Bolsonaro: "Acho que aí já está caminhando para um estado de exceção. O STF vai ter que pagar pra ver e aí quando ele pagar pra ver vai ser ele [STF] contra nós. Assim, você tá indo prum pensamento que muitas pessoas falam e muito pouco pode ser dito, mas se o STF quiser arguir qualquer coisa, sei lá, '…recebeu uma doação ilegal de 100 reais do José da Silva, for impugna[r] a ação dele, a candidatura dele…', eu não acho isso improvável não, mas aí ele vai ter que pagar pra ver. Será que eles vão ter essa força mesmo? O pessoal até brinca lá, 'se você quiser fechar o STF, você não manda nem um jeep, meu, manda um soldado e um cabo.' Não é querer desmerecer o soldado e o cabo não…"

O vídeo do Estadão ainda relata o comentário do ministro Alexandre de Moraes, também conhecido por sua brilhante (e calva) cabeça. Ele disse que…

"As declarações do deputado são absolutamente irresponsáveis" e defendeu que a Procuradoria Geral da República abra uma investigação contra o parlamentar, por crime tipificado na Lei de Segurança Nacional, "porque mesmo com 30 anos de Constituição, temos que conviver com declarações dúbias, feitas de maneira absolutamente irresponsável, por um membro do Parlamento brasileiro. É algo inacreditável que tenhamos que ouvir tanta asneira da boca de quem representa o povo. Nada justifica a defesa do fechamento das instituições republicanas."

Eu assisti ao vídeo. Ressalvado o péssimo português que é comum em conversas informais, íntimas, não vi em qualquer momento o deputado "defender" o fechamento da instituição. O que está implícito na blague dita em tom jocoso, é que "o pessoal lá" (não está claro, mas presumo ser o Exército) dá tão pouca importância ao STF que não gastaria um veículo pequeno como um jeep, militar eu presumo, que transportaria no máximo umas 6 pessoas. Bastam duas e de baixa patente.

Em nenhum momento se defendeu um golpe. Foi feita uma piada coerente com a relevância e o respeito que os próprios ministros do STF dão à sua instituição. Aquela casa, que muitos dizem ser "de tolerância", tem se desrespeitado de tantas formas e tão frequentemente que ninguém notaria se fosse mesmo fechada. Talvez não. Talvez sentissem até mesmo um certo alívio. Também se manifestaram contra o ministro-presidente Toffoli e o ministro decano Celso de Mello.

Alexandre de Moraes pode ter-se sentido atingido pela conversa de boteco, mas deveria se sentir muito mais ofendido por ter sido indicado por Michel Temer, isto sim um demérito. Também não vi os supremos ministros se eriçarem quando Lula, em conversa telefônica com Jacques Wagner, se referiu a todo o Supremo como "acovardados". Ouçam ao áudio 4 da minha série Lulaleaks. Na mesma série, Lula também faz referências pouco elogiosas à ministra Rosa Weber nos áudios 7, 10 e 18, neste último, que ela precisa ser "amaciada" para servir aos propósitos de sua indicação.

Ninguém lá se lembrou de chamar a PGR ou simplesmente a polícia, já que Lula não tinha mais prerrogativa de foro. Todos se comportaram em obsequiosa e covarde circunspecção. O STF — e não apenas ele — sofre de indignação seletiva. São topetudos e arrogantes com alguns, baba-ovos com muitos e sempre seletivos. Sabem muito bem para quem rosnar, reverenciar e agachar. O problema deles — e está aí a razão da indignação — é que aqueles aos quais eram destinados os rosnados e latidos serão em breve os novos para os quais deverão se agachar. É neném, life's a bitch!


Vídeo:

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