sábado, 30 de junho de 2012

Quem muito abaixa...

Nada como um dia após o outro. Já disse, mais de uma vez, que com a esquerda basta dar a corda que eles se enforcam sozinhos...

Crise entre PT e PSB chega a Belo Horizonte

Partidos esticam a corda até este sábado, último dia para convenções
O Globo

BELO HORIZONTE - Depois de romper em Recife e Fortaleza, PT e PSB se estranham em Belo Horizonte, com a pressão petista por uma coligação na chapa de vereadores. O PT ameaça implodir a aliança que, em 2008, uniu ainda o PSDB para a eleição de Marcio Lacerda (PSB). Se o partido do prefeito aceitar a exigência dos petistas, os tucanos prometem deixar Lacerda. Envolvidas numa complexa negociação, as três legendas esticam a corda até este sábado, último dia para convenções.

Temeroso com a possibilidade de rachas e sem saber o que é pior — perder o PSDB e o palanque com o senador Aécio Neves (PSDB) ou o PT, com forte votação em áreas mais pobres da cidade —, Lacerda tenta costurar um acordo.

O PT teme perder cadeiras na Câmara Municipal e estabeleceu como condição para apoiar Lacerda a coligação proporcional com o PSB. Rachados, já que uma ala da sigla defendia candidatura própria, os petistas tinham garantido o vice, o deputado federal Miguel Corrêa Júnior. Na negociação, o PSDB ficaria com a presidência da Câmara.

Na noite de quarta-feira, a Executiva municipal do PSB aprovou resolução que sinaliza o veto à coligação proporcional com os petistas. Mas, preocupado com um agravamento das relações entre PT e PSB em âmbito nacional, o presidente do PSB-MG, Walfrido Mares Guia, ainda não descarta a possibilidade de ceder aos petistas.

Vai, Mares Guia! ser gauche na vida...

Como se faz um golpe

Repasso a vocês o editorial de ontem do Estadão. Evitarei meus habituais grifos e comentários, mas é para ler e refletir.


Mercosul e autoritarismo

O Estado de S.Paulo

O Mercosul será um bloco muito menos comprometido com a democracia se os presidentes do Brasil, da Argentina e do Uruguai decidirem afastar o Paraguai, temporária ou definitivamente, e abrirem caminho para o ingresso da Venezuela, país comandado pelo mais autoritário dos governantes sul-americanos, o presidente Hugo Chávez. Mesmo sem esse resultado, qualquer punição imposta ao Paraguai será uma aberração. Será preciso imputar ao Legislativo e ao Judiciário paraguaios a violação de uma regra jamais escrita ou mesmo consagrada informalmente pelos quatro países-membros da união aduaneira.

Até a deposição do presidente Fernando Lugo, a Constituição de seu país foi considerada compatível com os valores democráticos. Segundo toda informação disponível até agora, nenhum item dessa Constituição foi violado no rapidíssimo processo de impeachment concluído na sexta-feira passada. Diante disso, nem mesmo o governo brasileiro, em geral afinado com a orientação dos vizinhos mais autoritários, qualificou como golpe a destituição de Lugo. Se não foi um golpe, como caracterizar a ação antidemocrática?

Ataques aos valores democráticos ocorrem com frequência tanto na Venezuela quanto em outros países sul-americanos, mas sempre, ou quase sempre, sem uma palavra de censura das autoridades brasileiras. Ao contrário: a partir de 2003, a ação diplomática de Brasília tem sido geralmente favorável aos governos da vizinhança, quando atacam a imprensa, quando se valem de grupos civis para praticar violências e outros tipos de pressão contra os oposicionistas e quando trabalham para destroçar as instituições e moldá-las segundo seus objetivos autoritários.

Não é preciso lembrar detalhes da ação do presidente Chávez para mostrar como seu governo se enquadra nessa descrição - embora na Venezuela, segundo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, haja excesso de democracia. Mas o chefão bolivariano é apenas um entre vários dirigentes sul-americanos com vocação autoritária.

A presidente Cristina Kirchner é um exemplo especialmente notável. Como presidente pro tempore do Mercosul, condenou prontamente a destituição do presidente Lugo e se dispôs a excluir o governo paraguaio da reunião de cúpula marcada para esta sexta-feira. Mas os compromissos da presidente argentina com a democracia são notoriamente frágeis. Não há nada surpreendente nesse fato, porque é muito difícil a convivência do populismo com os valores democráticos. A incessante campanha do Executivo argentino contra a imprensa é apenas uma das manifestações da vocação autoritária dos Kirchners e, de modo geral, dos líderes peronistas.

Essa campanha foi levada pelo chanceler argentino, Héctor Timerman, a Mendoza, onde ministros de Relações Exteriores se reuniram para preparar o encontro presidencial.

Já na quarta-feira à noite o ministro argentino falou sobre tentativas da "direita golpista" de enquadrar os governos da região e atacou o jornal ABC, de Assunção, acusando-o de haver incitado os políticos a depor o presidente Lugo. Atacou também os diários La Nación e Clarín, de Buenos Aires, por haverem, segundo ele, justificado o impeachment do presidente paraguaio. "Vemos diariamente", acrescentou, "a ideia de enquadrar presidentes como Cristina Kirchner, Dilma Rousseff e José Mujica."

Não por acaso o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, saudou com entusiasmo os colegas argentino e brasileiro, ontem de manhã, no hotel onde os chanceleres começariam a discutir as sanções ao Paraguai. O Senado paraguaio tem sido o último obstáculo à inclusão da Venezuela entre os membros do Mercosul. Os Parlamentos do Brasil, da Argentina e do Uruguai já aprovaram.

Suspenso ou afastado o Paraguai, o obstáculo será removido e o Mercosul será governado pelo eixo Buenos Aires-Caracas. Quaisquer compromissos com a democracia serão abandonados de fato e as esperanças de uma gestão racional do bloco serão enterradas. Para precipitar esse desastre bastará o governo brasileiro acrescentar mais um erro diplomático à enorme série acumulada a partir de 2003.

O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

¡Mercosucio, si!

 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O mau uso do não-golpe

Mais um trecho do programa dessa manhã da BandNewsFM - Brasília, com mais uma contundente opinião a respeito dessa patuscada em que a diplomacia do lulo-petismo se meteu.

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Vão suspender o Paraguai — único país do Mercosul com colhões para enfrentar o Chávez — e o ditador venezuelano cairá de paraquedas em nossa mesa. É como diz minha faxineira: "ninguém merece!"

O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

Como posseiros...

Quantos juízes Lula tem no seu bolso?

Trecho de programa conjunto das rádios Band SP e BandNews BSB de hoje, com a participação de Cláudio Humberto, José Paulo de Andrade, Salomão Esper, Rafael Colombo e Joelmir Beting, onde se comenta o voto pró-Contas-Sujas do ministro Dias Tófoli e a revisão do princípio do voto partidário.

BandNewsBSBManhã 120629 (43171-57730) by FaxinaPolítica

Perguntas:
  1. Precisamos de uma "Justiça Eleitoral", essa jabuticaba tão brasileira?
  2. Precisamos de juízes que legislam ao invés de julgar?
  3. Precisamos de uma justiça que, quando julga, reinterpreta a lei segundo uma conveniência partidária?
  4. Que benefício se espera dela? Não é ela que, apesar do alto custo, tarda e falha?
  5. Será que "nossas justiças" promovem mesmo a Justiça ou apenas servem aos patrocinadores dos seus ministros?
  6. Na linha do comentário feito pelo ministro Marco Aurélio sobre a "excomunhão da Justiça Eleitoral", não seria oportuno "excomungar" também a Justiça do Trabalho, outro alto custo e pouco resultado?
  7. E o povo? O que é que o povo ganha disso aí?
Ora, o povo... O povo é só um detalhe!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O desabafo paraguaio

O texto que se seguirá é bem longo. Isto quer dizer, no mínimo, que é bastante inconveniente para um blog porque sua leitura, numa tela de computador, acabará por tornar-se desconfortável e o leitor a abandonará antes do fim. Existe o risco. Mesmo assim, resolvi publicá-la, antes de tudo, por uma questão de respeito.

Não endosso inteiramente o texto. Existem nele opiniões com as quais não concordo; fatos históricos que foram omitidos, outros realçados; cujo intento do autor — a meu ver — foi o de emoldurar sua defesa do processo de impeachment do presidente Lugo, assim como sua crítica — mais que contundente —, aos governos do Mercosul e Unasul que o condenaram. Meus próprios artigos, nessa matéria, mostram nossa consonância.

Gostei especialmente da lembrança de que o autor faz de uma das frases do inesquecível Millôr Fernandes, bem no início, como para alertar sobre alguma visão particular dos fatos históricos relatados: "A história do Brasil, vista desde o Paraguai, é outra." Exatamente! E nem poderia ser diferente. É com esta frase em mente que eu peço a vocês leitores que leiam o texto que se segue. Isto evitará que joguem os ombros para cima — em sinal de resignação ou indiferença — e percam o melhor, que está no final.

Alfinetadas em nossos governantes — especialmente para Dilma, Lula, Cristina e Chávez —, e mesmo em nós mesmos, junto a uma descrição acurada do descaso de Lugo pelo seu país e pelas suas obrigações; além do seu apego voluptuoso pelas “delícias do cargo” — volúpia parece ser bem a palavra —, fizeram-me lembrar do quão similar ao ocorrido aqui com Lula e mesmo com Collor em outros tempos. Ah! Ser presidente, mesmo de um pequeno e pobre país, deve ser uma experiência única. Nota-se até pelo empenho de certos mandatários em retornar aos tronos rotos de países como o Haiti. No Paraguai, então, não faltou nem mesmo um Aero-Lugo, o que me faz lembrar que os EUA resolveram gastar o seu Ás guardado na manga: darão a Dilma um Jumbo 747, igualzinho ao Air Force One, se ela comprar os caças lá e não na França. E não é que a Presidência está justamente procurando outro avião para ser o Aero-Dilma? E se eu conheço bem Lula, ele deve estar salivando até agora, ô! Mas isso é para ser tratado noutro post.

Voltando ao assunto, nós nem fazemos ideia do que estamos perdendo... Não sabemos, talvez, mas deveríamos saber ao menos o que ou por que estamos pagando e aceitando tal estado de coisas. A “revoada” de jatinhos enviada em “socorro” a Lugo foi muito mais que um grito de alerta! Acendeu-se a luz amarela nos “governos progressistas” da América do Sul e foi o Paraguai que a acendeu! Existe, desde já, o risco de vários presimentes perderem seus cargos por incompetência, omissão, por mentir ao eleitorado e o enganar, e por hipocrisia. Não foram lá para salvar Lugo — foram para se salvar!

Reprodução do original, grifos do autor. Boa leitura!


A GUARÂNIA DO ENGANO

Por Chiqui Avalos (*)


“A história do Brasil, vista desde o Paraguai, é outra”
(Millôr Fernandes)

Como num verso célebre de meu inesquecível amigo Vinicius de Moraes, “de repente, não mais que de repente”, alguns governos latino-americanos redescobrem o velho e sofrido Paraguay e resolvem salvar uma democracia que teria sido ferida de morte com a queda de seu presidente. Começa aí um engano, uma sucessão de enganos, mentiras e desilusões, em proporção e intensidade que bem serve a que se companha uma melodiosa guarânia, mas de gosto extremamente duvidoso.

Sucedem-se fatos bizarros na vida das nações em pleno século XXI. Uma leva de chanceleres, saídos da espetaculosa e improdutiva Rio+20, desembarca de outra leva de imponentes jatos oficiais no início da madrugada de um incomum inverno, e — quem sabe estimulados pela baixa temperatura — se comportam com a mesma frieza com que a “Tríplice Aliança” dizimou centenas de milhares de guaranis numa guerra que arrasou a mais desenvolvida potência industrial da América Latina.

Surpresos? Pois, sim, não é para menos. Éramos ricos, muito ricos, industrializados, avançados, educados, cultos, europeizados, amantes das artes, dos livros, das óperas, do desenvolvimento. Nossos antepassados brilharam na Sorbonne e assinaram tratados acadêmicos, descobertas científicas ou apurados ensaios literários. A menção de nossa origem não provocava o deboche ou ironia tão costumeiros nos dias tristes de hoje, mas profundas admiração e curiosidade dos que acompanhavam nossa trajetória como Nação vencedora. Não ficamos célebres como contrabandistas ou traficantes, mas como povo empreendedor e progressista. A organização de nossa sociedade, a intensa vida cultura, o progresso econômico irrefreável, a bela arquitetura de nossas cidades, a invulgar formação cultural de nossa elite, a dignidade com que viviam nossos irmãos mais pobres (sem miséria ou fome) impressionavam e merecem o registro histórico. A rainha Vitória, que não destinou ao resto do mundo a mesma sabedoria com que governou e marcaria para sempre a história do Reino Unido, armou três mercenários e eles dizimaram a potência que, com sua farta e boa produção e espírito desbravador, tomava o mercado da antiga potência colonial aqui, do lado de baixo do Equador. Brasil, Argentina e Uruguay, como soldados da Confederação, nos arrasaram. Nossos campos foram adubados pelos corpos de nossos irmãos em decomposição, decapitados à ponta de sabre e com requintes de sadismo. O Conde D’Eu, marido de quem libertaria os negros e entraria para a história, comandava pessoal e airosamente o massacre. Os historiadores, essa gente bisbilhoteira e necessária, registraram seu apurado esmero e indisfarçável prazer. O nefasto delegado Sérgio Fleury teve um precursor com quase um século de antecedência...

Nossas cidades terminaram por ser habitadas por populações majoritariamente compostas de mulheres e crianças. Poucos homens restaram. Pedro II, que marcaria a história do Brasil por sua honradez, comportou-se de forma impressionante nessa obscura página da história do Brasil, mas inversamente conhecidíssima na história de meu país: não moveu uma palha ou disse palavra acerca do sadismo de seu genro criminoso. Documentos por mim revirados no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, mostram a assinatura do velho Imperador autorizando a compra de barcos, chatas, cavalos e tudo o que fosse necessário para uma caçada de vida ou morte (mais de morte, certamente) à Lopez. Não bastava derrotar o déspota esclarecido, o republicano que os humilhava, o que havia desafiado todos os impérios, o da Inglaterra, o do Brasil, o da Espanha... Era preciso assinar seu epitáfio e esculpir sua lápide. E assim foi feito.

Derrotados, nunca mais fomos os mesmos. Passamos a ser conhecidos por uma República já bicentenária, mas atrasada em comparação aos seus vizinhos. Enfrentamos uma guerra cruel com a Bolívia na primeira metade do século passado. Roubaram-nos importante faixa territorial do Chaco, região paradoxalmente inóspita e riquíssima. Ganhamos a guerra. Nossos soldados mostraram a valentia e patriotismo que brasileiros, uruguaios e argentinos bem conheceram meio século antes. Nossa incipiente aviação militar e seus jovens pilotos assombraram os experts norte-americanos, pela refinada técnica e o sucesso de suas ações contra o agressor. Mas numa história prenhe de ironias, vencemos a guerra e... ...jamais recuperamos as terras! Os bolivianos, que jamais olham nos olhos nem das pessoas nem da história, certamente se rejubilam em sua “andina soledad”, e como os argentinos depois da inexplicável Guerra das Malvinas, sabem-se “vice-campeões”...

Mal saímos da Guerra do Chaco e experimentamos a mesma e usual crônica tão comum a rigorosamente todos os outros países latino-americanos. Golpes e contra-golpes, instantes de democracia e hibernações em ditaduras ferrenhas. Presidentes se sucederam despachando no belíssimo Palácio de Lopez e vivendo na vetusta mansão de Mburuvicha Roga (“A casa do grande chefe”, em guarani). Uns razoáveis, outros deploráveis. Nenhum deles, entretanto, recuperou a glória perdida dos anos de riqueza, opulência e fartura. Um herói da Guerra do Chaco tornou-se ditador e nos oprimiu por mais de três décadas. Homem duro, mas de hábitos espartanos e por demais interessante, o multifacético Alfredo Stroessner não recusou o papel menor de tirano, mas construiu com o Brasil a estupenda hidrelétrica de Itaipu, a maior obra de engenharia de seu tempo, salvando o Brasil de uma hecatombe energética. Foi parceiro e amigo de todos os presidentes do Brasil de JK a Sarney. Com os militares pós-64 deu-se às mil maravilhas, mas foi de suas mãos que o exilado João Goulart recebeu o passaporte com que viajaria para tratar sua saúde com cardiologistas franceses. Deposto, o velho ditador morreu no exílio, no Brasil. Nós que o combatíamos (nasci em Buenos Aires, onde meu pai, empresário de sucesso, mas adversário da ditadura, curtia seu exílio) jamais soubemos de ação qualquer, uma que fosse, do Brasil em seus governos democráticos contra a ditadura do general que lhes deu Itaipu.

Depois de duas décadas da derrubada de Stroessner, nos aparece Fernando Lugo. Sua história é peculiar. Era bispo de San Pedro, simpaticão e esquerdista, pregava aos sem-terra e parecia não incomodar ninguém, nem os fazendeiros da área. Pelos idos de 2007 o então presidente Nicanor Duarte Frutos, um jovem jornalista eleito pelos colorados, resolve seguir o péssimo exemplo de Menem, Fujimori e Fernando Henrique, e deixa clara sua vontade de mudar a Constituição e permanecer na presidência, através do instituto inexistente da reeleição. Seu governo era mais que sofrível e – descupem-nos a imodéstia latreada em nossa história – nós, os paraguaios, não somos dados ao desfrute de mudar nossa Carta Magna ao sabor da vontade de presidente algum. O país se levantou contra a aventura e ele, que o bispo bonachão, justamente por não ser político e garantir que não alimentava qualquer ambição de poder, é escolhido para ser o orador de um grande ato público, com dezenas de milhares de pessoas no centro de Assunção. Pastoral, envolvente, preciso, o Bispo de San Pedro cativou a multidão, deu conta do recado e catalisou imensa indignação da cidadania. A aventura continuísta de Nicanor não foi bem-sucedida, mas, com a sutileza de um príncipe da Igreja nos intricados concílios que antecedem a fumacinha branca, nos aparece um candidato forte à presidência da República: ‘habemus candidatum’! A batina vestia mais que um pastor, escondia um homem frio, ambicioso, ingrato e profundamente amoral.

Seu primeiro problema foi com a Santa Madre Igreja. O Vaticano, certamente por saber algo que nós não sabíamos, vetou sua disposição política. Não, de jeito algum, ele poderia ser candidato. A igreja católica combateu a ditadura do general Stroessner com coragem e ação, mas não queria ocupar a presidência do país. “Roma locuta, causa finita” (“Roma falou, questão decidida”), mas não para Lugo, que deixou seu bispado, despiu a batina e virou às costas a quem lhe educou e lhe acolheu no seu seio. Poucos e corajosos colegas Bispos e padres o apoiaram abertamente. Na última sexta-feira, depois de três anos sem vê-lo ou serem por ele procurados, esses mesmos amigos e apoiadores foram até a residência presidencial pedir – em vão – que Lugo renunciasse à presidência do Paraguay para que se evitasse derramamento de sangue.

Candidato sem partido, entretanto com as simpatias da clara maioria do eleitorado. Filiou-se, pois, a um partido e o escolhido foi o centenário e respeitável PLRA, dos liberais, há mais de 60 anos fora do poder e com a respeitável bagagem de uma corajosa oposição à ditadura stroessnista. Como um Jânio Quadros, Lugo filiou-se ao Partido Liberal Radical Autêntico e usou sua bandeira, sua história e sua estrutura capilarizada em toda a sociedade paraguaia. E depois deu-lhe um adeus de mão fechada, frio e indiferente.

Eleito, desfez-se de todos os companheiros de jornada. Um a um. Stalin não apagou tantos nas fotos oficiais do Kremlin como o ex-bispo o fez. Mas demitiu os mais qualificados, por sinal. Restaram-lhe os cupinchas, os facilitadores de negócios e de festinhas íntimas, os “operadores” e alguns incautos esquerdistas para colorir com as tintas de um risível ‘socialismo guarani’ o governo de um homem que chegou como o Messias e terminaria como um Judas Escariotes.

Lugo poderia emprestar seu nome e sua trajetória de vida política (e pessoal, também) ao mestre Borges e tornar-se uma das impressionantes personagens da “História Universal da Infâmia”. Um infame, não mais que isso! Mal eleito e empossado, sucedem-se escândalos e se revela seu procedimento. Filhos impensados para um supostamente casto Bispo. Vários. Todos jamais reconhecidos ou amparados, gerados com mulheres as mais pobres e sem instrução alguma, uma delas com apenas 16 anos quando da gravidez. Se traíra a sua Igreja, por qual razão não nos trairia? E traiu.

Não passou um mês sequer durante seus três anos de governo sem que viajasse a um país qualquer. Com razão ou sem nenhuma, para conferências esvaziadas ou cerimônias de posse de mandatários sem importância ou relevo para o Paraguay. As pompas do poder o abduziram como a nenhum déspota de república bananeira do Caribe. Os comboios de limusines com batedores estridentes, as festas e beija-mãos, os eternos e maviosos cortesãos do poder, as belas mulheres, as mesas fartas, os hotéis cinco estrelas, a riqueza, a opulência, os “negócios”. O despojado ex-bispo tornou-se grande estancieiro. O presidente que tomou posse calçando prosaicas sandálias como símbolo de humildade, revelou-se um homem vaidoso e fetichista. Como que a vestir a mentira em que ele próprio se tornou, passou a enxergar elegantes e bem-cortadas túnicas encomendadas à alfaiates da celebérrima e caríssima Savile Row, templo londrino da moda masculina. No detalhe, o estelionato (mais um): colarinhos eclesiásticos. Afeiçoou-se a lindas e jovens, digamos, “modelos”, que floriram sua vida e a banheira Jacuzzi que mandou instalar na austera e velha residência presidencial. Muitas delas o precediam mundo a fora, esperando-o em hotéis fantásticos e palácios, nas vilegiaturas internacionais. Viajavam com documentos oficiais. Kaddafi auspiciava passaportes diplomáticos a terroristas, Lugo a prostitutas.

Sua afeição pelos jatinhos e jatões chegou às raias do fetiche: passou boa parte de seu peculiar mandato a bordo deles. Fretados à empresas de táxi aéreo de outros países, mandados pelos amigões Hugo Chávez e Lulla, outros emprestados, sabe-se lá por uns tais e misteriosos amigos. Chocou-se com o brasileiro Jorge Samek, fundador do PT e competente gestor, que na presidência brasileira da Itaipu resolveu vetar capricho juvenil do ex-bispo e delirante presidente paraguaio: a poderosa binacional compraria um jato para seu uso. Um Gulfstream, quem sabe um Falcon, ou até um brasileiríssimo Legacy, mas ele precisava ardentemente de um jato para chamar de seu. Depois mandou que o comandante da Força Aérea negociasse um Fokker 100, adaptado com suíte e ducha. Nada feito, o raio de ação seria pequeno e ele precisava ganhar o mundo! Por fim, nos estertores de seu governo, entabulava a compra de um Challenger, usado mas chique, de um cartola do futebol paraguaio. O preço, como sempre, mais um escândalo da Era Lugo: pelo menos o dobro de um modelo novo, saído de fábrica...

Obras viárias? Imagine. De infraestrutura? Nenhuma. Modernização do país? Nem pensou nisso. Crescimento econômico? Sim, mas por obra de uma agricultura forte, de empresários jovens e ambiciosos, de uma indústria florescente e de um ministro da economia que destoou da regra-geral do governo Lugo: competente e austero, imune às vontades do presidente e distante da escória que o cercava. A cada novo dia, no parlamento, nas redações, nos sindicatos, nos foros empresarias, nos encontros de amigos, um novo comentário, uma nova história de mais uma negociata dos amigos e companheiros de Lugo. Proporcionalmente, nem na ditadura de Stroessner (mais de três décadas), se roubou tanto quanto no governo pseudo-esquerdista de Fernando Lugo (menos de três anos). Já com Lugo deposto, o secretário mais forte de Lugo, Miguel Lopez Perito, telefonou à diretoria da Itaipu solicitando a bagatela de US$ 300 mil para organizar uma manifestação em defesa do governo. Queria ao vivo e a cores, "na mala", por fora, não contabilizado, no "caixa 2". Que tal? Fato revelado por um diretor da binacional e revelador do modus-operandi da verdadeira quadrilha que comandava o país.

Seu processo de “Juízo Político” – algo como um processo de impeachment – está previsto na Constituição do Paraguay, e não foi uma travessura histórica de meia dúzia de líderes políticos ou parlamentares revidando as descortesias de Lugo para com os partidos, os empresários, os paraguayos todos. Que tipo de presidente era esse que teve 73 deputados votando por sua queda contra apenas 1 solitário voto? Que espécie de chefe da Nação era esse que teve 39 votos contrários contra apenas 4 senadores fiéis ao seu desgoverno? Não teve tempo, apenas duas horas para defender-se. Ora, a Constituição não determina tempo, apenas assegura-lhe o direito de defesa, exercido através de competentíssimos advogados, que fizeram exposições brilhantes na defesa do indefensável. Um deles, Dr. Adolfo Ferreiro, admitiu claramente que o processo era legal. De outro, Dr. Emilio Camacho, em imponente ironia da história, os magistrados da Suprema Corte extraíram em um de seus celebrados livros aqueles ensinamentos necessários e a devida jurisprudência para rechaçar chicana jurídica do já ex-presidente contra o processo legal, constitucional e moral que o defenestrou. C’est la vie, Monsieur Lugo!

Lugo foi um hiato em nossa história. Necessário, mas sofrido. Seus defeitos superaram suas virtudes. Aqueles eram muitos, essas muito poucas. Nós que nele votamos, sequiosos de um Estadista, nos deparamos com um sibarita. Seu legado é de decepção e fracasso. Não choraram por ele dentro de nossas fronteiras, e os que o defendem foram deles o fazem muito mais pensando no que lhes pode ocorrer do que por solidariedade ao desfrutável governante e desprezível homúnculo que cai.

O fim de seu governo dói mais a um dolorido Chávez do que a nós. A Senhora Kirchner, radical na condenação que nos impõe, se esquece de nossa parceria na importante e gigantesca usina hidrelétrica de Yaciretá, e amplia sua lucrativa viuvez acolhendo em seu seio choroso o decaído amigo. Solidária? Nem tanto, apenas sabendo que se abriu o precedente para que os parlamentos expulsem os incapazes. Na Bolívia o sentimento popular em relação ao sectário e também bolivariano Evo Morales não é diferente do sentimento dos paraguayos por Lugo no outono de sua aventura presidencial. É pior. O relógio da história irá tocar as badaladas do fim de uma aventura mais que improdutiva: raivosa e liberticida.

Não compreendemos a posição do Brasil. Ou não queremos compreender, tanto é o bem que lhe queremos. Nos arrasou como sicário da Rainha Vitória e nós lhe perdoamos e juntos construímos o colosso de Itaipu. O tratamos bem e ele defende a continuidade de uma das piores fases de nossa história, em nome do quê? Nega-nos o direito à autodeterminação, mas se esquece do papelão ridículo que fez em defesa de um cretino como Zelaya, um corrupto ligado a grupos somozistas de extermínio e que era tão esquerdista como Stroessner e democrático como Pinochet.

Foi deplorável o papel do chanceler Patriota (que não se perca pelo nome), saracoteando pelas ruas de Assunção em desabalada carreira, indo aos partidos Liberal e Colorado pressionar em favor de um presidente que caia. Adentrando o Parlamento ao lado do chanceler de Hugo Chávez, o Sr. Maduro, para ameaçar em benefício de um presidente que o país rejeitava. Indo ao vice-presidente Federico Franco ameaçar-lhe, com imensa desfaçatez, desconhecendo seu papel constitucional e o fato de que ninguém renunciaria a nada apenas por uma ameaça calhorda da Unasul (que não é nada) e outra ameaça não menos calhorda do Mercosul (que não é nada mais que uma ficção). O Barão do Rio Branco arrancou seus bigodes cofiados no túmulo profanado pelo Itamaraty de hoje. O que quer o governo Dilma? Passar pelo mesmo vexame de Lula na paupérrima Honduras? Se afirmativo, já fica sabendo que passará. Nós temos imensa disposição de continuar uma parceria que se relevou positiva e decente para ambos os países. Mas não temos da austera presidente o mesmo terror-medo-pânico que lhe devotam seus auxiliares e ministros. Cara feia não faz história, apenas corrói biografias. Dilma chamou seu embaixador em Assunção e Cristina fez o mesmo. As radicais matronas só não sabiam que: o embaixador brasileiro é um ausente total, vivendo mais tempo em Pindorama do que por aqui. Recorda o ex-embaixador Orlando Carbonar, que foi pego de surpresa em fevereiro de 1989 pelo movimento que derrubou o general Stroessner. Até meus filhos, crianças na época, sabiam que o golpe se avizinhava e que estouraria a qualquer momento, menos o embaixador brasileiro, que descansa no carnaval de Curitiba, sua cidade natal. Voltou às pressas, num jatinho da FAB, para embarcar Stroessner rumo ao Brasil. E a Argentina... Bem, a Argentina não tem embaixador no Paraguay faz alguns meses... Ocupadíssima, Dona Cristina não nomeou seu substituto. País de necrófilos, chamou um fantasma até a Casa Rosada para consultas.

O Paraguay fez o que tinha que fazer. Seguirá adiante, como seguem adiante as Nações, testadas e curtidas pelas crises que retemperam e reforçam os povos. O religioso que não honrou seus votos de castidade e pobreza e traiu sua igreja, foi por ela rejeitado. O presidente que não honrou nossos votos e nos traiu, foi por nós deposto. Deposto por incapaz, por mentiroso, por ineficiente. Mas, principalmente, por que traiu as esperanças de um país e um povo que precisaram dele e nele confiaram e ele os traiu a todos. E, por isso, Lugo não voltará.

(*) Chiqui Avalos é escritor e jornalista, combateu a ditadura de Stroessner e fez a campanha de Lugo, edita a newsletter "Prensa Confidencial", de grande influência no Paraguai.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

A incomPeTente

Se gostou tem mais aqui.

 

A moral da história

Do blog do Camarotti, grifos meus:

De dentro da Papuda, Cachoeira administra crise familiar


A privação da liberdade e as investigações da CPI não são os únicos problemas do contraventor Carlinhos Cachoeira. Dentro do presídio da Papuda, onde está preso, o contraventor tem que administrar uma crise familiar.

Sua atual mulher, Andressa Mendonça, tem reclamado de Cachoeira sobre as frequentes visitas feitas pela ex-mulher Andréa Aprígio de Souza. Além de ser sócia de uma empresa farmacêutica ligada ao bicheiro, Andréa tem carteira da OAB e pode visitar o ex-marido na condição de advogada. Ela já esteve na Papuda pelo menos seis vezes.

Segundo interlocutores da família Cachoeira, Andressa reclamou diretamente com o bicheiro por causa da presença constante de Andréa no presídio. Isso porque desde que ele chegou à Papuda, Andréa tem tido mais acesso a Cachoeira do que a própria Andressa. Ela só pode entrar no presídio em dia permitido para visita dos familiares.

Moral da história:
Ex- de bandido também é para sempre, ainda mais quando tem carteirinha da OAB.

terça-feira, 26 de junho de 2012

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Nada como estar em boa companhia...

Dei minha modesta opinião sobre o recente episódio ocorrido no Paraguai desde a primeira hora. Não me coube apoiar ou condenar o que fizeram lá, apenas notei que o que fizeram não desrespeitava seu ordenamento jurídico, e mais importante, não desrespeitava sua Constituição.

Infelizmente, as vestais de Banânia acharam por bem condenar o impeachment de Lugo sob as mais estapafúrdias alegações. Pérolas como "golpe constitucional" foram jogadas aos porcos, como mostrei aqui e aqui. Poucas foram as pessoas, além desse escriba, que mostraram a legalidade e a retidão do processo ocorrido em Assunção, como o Reinaldo Azevedo, o Arnaldo Jabor e o Merval Pereira. Em que pese o número dos "pró" ser bem menor que os dos "contra", não muda o fato. Fico com a minoria mas em boa companhia.

Mais: se você dispuser de um tempinho, escute o comentário de hoje do Merval Pereira na Rádio CBN. É para por uma pedra sobre o assunto, evitar mais baboseiras e mesmo impedir a repetição do fiasco intervencionista ocorrido em nossa embaixada em Honduras. Boa audição!

O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

Aqui, tarda e falha...

Se não for por falta de tempo, por falta de fé.

 

Uma Escolha de Sofia

Ainda no calor dos últimos acontecimentos, o clamor das ruas começa a incomodar...

Como no whisky, é a ressaca ou falta dela que indica a procedência.

Brasileiros que vivem no Paraguai comemoram a derrubada de Lugo

claudiohumberto.com.br
Se o governo do Brasil pedisse a opinião dos brasileiros residentes no Paraguai, os "brasiguaios", sobre a destituição do ex-presidente Fernando Lugo, certamente não ameaçaria qualquer retaliação pela decisão do parlamento daquele país. Agricultores que vivem e trabalham próximos à fronteira com o Brasil, os "brasiguaios" têm sido vítimas de perseguição de sindicalistas paraguaios, diante da omissão e até do estímulo do governo "progressista" de Fernando Lugo. Os brasileiros que vivem no Paraguai estão comemorando a derrubada de Lugo e a posse do novo presidente, Frederico Franco. “Nós estamos muito felizes. Isso é um avanço para a nossa agricultura”, afirmou o produtor brasileiro Afonso Almiro Schuster, há 39 anos em Santa Rosa del Monday, à repórter Cassiane Seghatti, do portal G1. Ela entrevistou vários outros "brasiguaios", igualmente felizes com o fim da era Lugo, cuja omissão irresponsável estimulou o conflito agrário armado no país, provocando a morte de pelo menos 17 pessoas apenas no mais recente, há dez dias.

Isto já fez nosso "ministro" Top-Top arrumar uma saída "honrosa" para a presidenta. A saída estratégica do aspone para assuntos internacionais chega tarde. O novo governo paraguaio já foi reconhecido pelos Estados Unidos da América e por outros países da Europa, isto é, o beicinho da Dilma, da Cristina e do Chávez não metem medo em ninguém, Paraguai no meio.

Brasil não vai interferir em assuntos internos do Paraguai, diz Marco Aurélio

claudiohumberto.com.br
Fiel à política "uma no cravo, outra na ferradura", o governo brasileiro informou que "não vai interferir nos assuntos internos do Paraguai". A declaração foi de Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais da presidenta Dilma. O governo brasileiro levou mais de 24 horas para emitir nota oficial condenado a "ruptura democrática" no Paraguai, muito embora a destituição de Fernando Lugo tenha obedecido o rito previsto na constituição daquele país.

Mesmo assim, vários "pensadores" brasileiros continuam a condenar o "golpe legal" ou "golpe democrático" ocorrido no país vizinho. Pessoas como o Carlos Heitor Cony, Kennedy Alencar, Míriam Leitão e outros do naipe. Por incrível que possa parecer, foi do Jabor uma das poucas análises precisas da situação. Enquanto isso, nosso governo continua a bater cabeça em clima de barata voa, como já declarei. Esse pessoal precisa entender que o processo político em outros países se faz segundo suas leis, usos e costumes, não segundo os nossos.

sábado, 23 de junho de 2012

¿Por qué no te callas?

Para acabar com o marasmo que foi a semana do Rio+20, a concretização do fracasso anunciado, eis que o Paraguai rouba a cena e resolve por a correr aquele ex-bispo tarado que era seu presidente. Bateu aquele clima de barata voa na Rio+20 e ninguém mais sabia o que estavam fazendo lá, alguns sem mesmo saber onde estavam.

Num último grande gesto para salvar as aparências, reuniram-se os chanceleres da Unasul presentes para — capitaneados pelo nosso Patriota — ir ao Paraguai em socorro a Lugo. Foi como disse: barata voa!

Quase que imediatamente, inúmeras declarações contra o processo de impeachment foram repercutidas pela mídia local, talvez o maior conjunto de estultices que já tive oportunidade de presenciar. Por exemplo, a frase do professor Mario Sacchi, em entrevista ao Estadão, "explicando" (?) que o acordo de respeito à democracia no Paraguai fora quebrado. Sei...

O professor Sacchi usou frases como "Um dos problemas mais graves [com o impeachment] é a relação com o Mercosul porque existe um acordo de respeito à democracia que está sendo quebrado", uma visão muito particular dele, acredito.

Eu digo "particular" porque nós — e me refiro ao nosso governo aqui — temos o mau hábito de achar que somos a quintessência da pureza democrática, quando não passamos de um arremedo de democracia, uma farsa se preferir. Nossas instituições são frágeis, até porque são fruto da ignorância de nosso povo; nossos governantes, populistas despóticos; nosso processo político, uma mentira. E apesar de tudo isso, nos julgamos no direito de ensinar aos outros o que e como fazer. Repito, refiro-me aos governos, aos quais um pouco de humildade e reconhecimento de sua própria pequenez não faria mal algum.

Seguindo a linha do professor Sacchi, o Brasil já interferiu desastradamente nos assuntos de Honduras onde Manuel Zelaya, o Saddam Hussein da América Central, em eterno papel de vilão mexicano, também fora destituído do cargo a mando da Suprema Corte daquele país, justamente por a haver desrespeitado; a mesma que jurara respeitar e defender. Coerente com o chavismo daqueles dias, acoitamos o mariachi borracho em nossa embaixada onde ele pode desfrutar dos nossos impostos por meses. Bestial!

Mas não me lembro de nenhuma frase de Sacchi naquela época como "Foi um golpe de estado aproveitando a Constituição que o país tem. O artigo 225 prevê o julgamento político do presidente por mau desempenho de suas funções". Qual é a autoridade da qual este professor se acha investido para taxar de "golpe" um artigo da Constituição paraguaia? É muita presunção e muito desrespeito, para não dizer muita ignorância.

Ora, nos regimes parlamentaristas um governo pode ser destituído por ato discricionário do Chefe de Estado. Não é golpe, é prerrogativa do modelo político. No presidencialismo, a destituição de um governo é feita pelo seu impedimento, impeachment em inglês. Assim foi no Paraguai (como foi em Honduras), sendo que o professor citou até o artigo da Constituição que determinava a razão do seu julgamento político. Não há — como na declaração de chanceleres da Unasul — "ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática", apenas e tão somente o cumprimento da Lei.

Mas teve mais. Também disseram que não se estava respeitando a vontade do povo paraguaio. Mentira! Se Lugo foi eleito pelo povo, também o foram seus representantes no Parlamento, ou será que estes foram eleitos pelos marcianos? Se lá como cá o que se tem é uma democracia representativa, foram os representantes do povo, portanto, o próprio povo, que destituiu Lugo do poder. Tudo o mais é conversa.

Uma das poucas vozes de clarividência na mídia foi a de Marcos Guterman, também do Estadão, de onde obtive esta curta nota (grifos meus):

Realismo fantástico: Paraguai inventa o “golpe dentro da lei”


A presidente Dilma Rousseff sugeriu que o Paraguai fizesse um acordo político para que o presidente esquerdista Fernando Lugo ficasse no poder até o final de seu mandato. Fico aqui imaginando o que Dilma e os petistas diriam se algum governante estrangeiro, digamos o americano, sugerisse um “acordo político” para manter o direitista Fernando Collor na Presidência.

De qualquer maneira, Lugo não é mais presidente do Paraguai, destituído estritamente segundo as leis do país. No entanto, tem gente dizendo [Sacchi] que foi “golpe” apesar de ter “amparo legal”.

Então é isso: a América Latina, pródiga em realismo fantástico, acaba de inventar o “golpe que respeita a lei”.


Obviamente sarcástico, Guterman lembra a Dilma da inconveniência de se apontar o dedo a alguém, como fiz em relação a Marina Silva. Mas tem mais: precisamos ficar atentos à atitude que nosso governo possa tomar em relação ao bispo-tarado. Será que Dilma oferecerá os confortos da nossa embaixada local como Lula fez com Zelaya ou oferecerá uma paróquia-sinecura a ele aqui mesmo? Eu já nem sei bem o que pensar, porque as possibilidades do lulo-petismo parecem ser infinitas...

Mas o que nosso governo deveria fazer e dizer, o governo espanhol já fez:

Madri, 23 - O governo da Espanha defendeu neste sábado o pleno respeito à institucionalidade democrática e ao estado de direito, e manifestou a confiança de que o Paraguai conseguirá resolver a atual crise política, assim como garantir a segurança de seus cidadãos após o impeachment do presidente do país, Fernando Lugo.

"A Espanha defende o pleno respeito à institucionalidade democrática e ao Estado de direito, e confia que o Paraguai, em respeito à sua Constituição e aos compromissos internacionais, conseguirá pôr fim à atual crise política, assim como garantir a convivência pacífica do povo paraguaio."

O que a nota oficial acima diz — e o que Dilma deveria ter dito — pode ser resumido assim: "O problema é de vocês e confiamos que vocês o resolverão a contento para todos." Qualquer coisa além disso é passível de um "¿Por qué no te callas?"


¿Por qué no te callas, Dilma?

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

Nunca antes na história dessepaiz
os extremos estiveram tão próximos...

Tem cara de porco, focinho de porco, orelha de porco, rabo de porco...
...então é porco!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Com que voto que eu vou?

Do blog do Noblat, postagem de Marcos Coimbra, uma boa análise da campanha eleitoral da Cidade de São Paulo. Depois dou meu pitaco; grifos meus.

Boas e Más Notícias sobre a eleição em São Paulo

A recente pesquisa do Datafolha sobre a sucessão em São Paulo trouxe boas notícias para alguns candidatos e más para outros.

Os trabalhos de campo aconteceram na quarta e quinta feira passadas, em um momento de pequeno significado político. Não são usuais os levantamentos na metade de junho, fase em que - especialmente nas grandes cidades - as campanhas estão absortas em movimentos internos, de composição de chapas e articulação de coligações.

Para o eleitorado, nada dizem.

Só no final do mês - quando termina o prazo para as convenções e se delineia o quadro definitivo -, surgem novidades. É lá que, tradicionalmente, as pesquisas são retomadas.

O Datafolha, por exemplo, nem em 2004 ou 2008 fez pesquisas em meados de junho. Deve ter tido razões para realizar essa agora.

Os números são particularmente ruins para Serra. Mostram que o tucano estacionou nos 30%, posição incômoda para quem tem 100% de conhecimento e precisa crescer.

E não foi por falta de mídia simpática que empacou.

O tamanho do problema que enfrenta pode ser avaliado comparando sua performance à de candidatos parecidos: ex-governadores que concorrem - ou que parecia que concorreriam - à prefeitura das capitais.

Nas pesquisas dos últimos meses, chegamos a ter sete com esse perfil.

Eduardo Braga (PMDB), Paulo Hartung (PMDB), João Alves (DEM) e Ronaldo Lessa (PDT) são os mais semelhantes a ele: além de governadores, foram prefeitos - respectivamente de Manaus, Vitória, Aracaju e Maceió.

Em nenhuma pesquisa, os três primeiros tiveram menos que 45% (mas Hartung já avisou que não disputará este ano).

Lessa está aquém, embora melhor que o paulista. José Maranhão (PMDB), em João Pessoa, igual - ainda que enfrente um prefeito bem avaliado. Serra só superava Almir Gabriel (PTB), que aparecia tão mal que desistiu da prefeitura de Belém.

É pouco para quem foi tudo na política da cidade e do estado - e acabou de ser candidato à presidência da República.

O cenário se torna mais preocupante se considerarmos que seus possíveis adversários têm todos biografias menos completas - nenhum ocupou cargo executivo, nenhum tem sua visibilidade. Para ele, deveria ser uma briga fácil.

Os 30% que obteve estão desconfortavelmente próximos dos 21% do segundo lugar, Celso Russomano - hoje em um partido de pequena expressão, o PRB, e sem mandato (e que, no levantamento anterior, estava com 19%).

Em terceiro lugar, há um empate quíntuplo: Fernando Haddad (PT), Soninha (PPS), Netinho de Paula (PCdoB), Gabriel Chalita (PMDB) e Paulinho da Força (PDT) têm entre 8% e 5%. Todos variaram dentro da margem de erro em relação à última pesquisa.

O único que melhorou foi o candidato do PT. De 3%, foi a 8%.

É pouco, mas é um desempenho razoável - para quem é “muito bem” conhecido por apenas 9% dos entrevistados e “um pouco” por 19%. Em outras palavras, para quem pode crescer na grande maioria do eleitorado, os 72% que o conhecem “só de ouvir (falar)” ou que sequer sabem quem é.

Com perspectiva semelhante, apenas Gabriel Chalita - conhecido por 32%. Os outros - de partidos minimamente competitivos - estão bem acima: Russomano por 71%, Netinho por 82%, Soninha por 60%, e Paulinho por 71%.

Quando a propaganda eleitoral começar, tudo pode mudar. A pergunta é que benefício trará a Serra - que está em sua oitava eleição majoritária - e aos demais candidatos que a população cansa de saber quem são.

A pesquisa não revelou nenhuma grande alteração no cenário. Mas tanto a estabilidade, quanto as pequenas mudanças foram negativas para o candidato do PSDB.

Meu Pitaco:


Eu gostei da análise do Coimbra, inclusive quando ele mencionou que Serra, personalidade amplamente conhecida do público brasileiro e, mais ainda, do público paulista, mostra um evidente desgaste político ao exibir estáticos 30%, quase um Russomano. Acho que o eleitorado se cansou dele...

Também a comparação com outros políticos em situação semelhante (ex-governadores e/ou ex-prefeitos em campanha pela prefeitura, cada um no seu galho) ele se mostra apenas em penúltimo lugar (!), uma incômoda colocação para quem, há menos de dois anos, obteve grande exposição em campanha presidencial. Aliás, é bom que se diga, Serra se mostrou em situação bem melhor naquela época, algo como 40% de intenções contra os 3% de Dilma, medidos também no início da campanha. Desnecessário dizer que Serra perdeu o embate e me parece bem a ponto de perder mais um.

Isto me trás à memória uma frase sobre Aécio Neves, quando este ainda procurava a indicação do seu partido para aquele pleito presidencial, relativa "a demonstração pública de sua capacidade em aglutinar diferentes agentes políticos [em torno de si]". Ora, se é público e notório que Aécio tem tais qualidades, também é que Serra é exatamente o oposto — centralizador, seu adjetivo mais conhecido.

Não quero desqualificar Serra, muito menos qualificar Aécio. Critico a ambos com a mesma desenvoltura que os elogio, dependendo do momento. O fato é que, para se fazer política aqui, é necessário negociar, transigir. O que sobra em um falta no outro.

O recente episódio Lula-Maluf sinaliza bem isso. Maluf é uma raposa, um sobrevivente na política. Há que se notar que ele se mantem à tona em meio a borrascas e marolas, e com grande desenvoltura. Então, o que teria feito essa raposa se escafeder da quase celebrada aliança com Serra e o PSDB? Reinaldo Azevedo diz/supõe que foi porque Serra não se dobrou às exigências do Maluf... Será? Eu já acho que não. Na minha modesta opinião, Maluf abandonou o barco que sabe afundar — uma conhecida característica de ratos, grandes sobreviventes — no puro instinto.

Eu não sei dizer ainda se a candidatura Haddad vai decolar — há muita água para passar sob essa ponte — mas se Lula já fez seu hat trick antes, pode fazê-lo de novo agora, ressalvado outros fatos como o julgamento do Mensalão e mesmo o Escândalo dos Aloprados, ambos imputáveis ao PT e que podem ofuscar e mesmo detonar com a campanha e o partido. Diria ainda que vai depender mais dos oponentes de Lula-Haddad do que deles próprios. Mesmo assim, salvo um milagre, uma mudança de conduta, não vejo muita esperança para Serra; nem eu, nem o Maluf.

Não posso dizer que é instinto (nunca fui lá muito instintivo), mas enquanto lia a matéria, surgiu-me a lembrança da música de Noel. Pus a letra abaixo. Cai como uma luva, não cai?!

Com Que Roupa?
Noel Rosa

Agora vou mudar minha conduta
Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com a força bruta
Pra poder me reabilitar

Pois esta vida não está sopa
E eu pergunto: com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Agora eu não ando mais fagueiro
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
Não consigo ter nem pra gastar

Eu já corri de vento em popa
Mas agora com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Eu hoje estou pulando como sapo
Pra ver se escapo desta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo
Eu vou acabar ficando nu

Meu terno já virou estopa
E eu nem sei mais com que roupa
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

Ainda morro disso...

Nunca sei se o pior já passou ou se ainda está por vir...

 

Explicações são devidas; resta saber a quem.

Do blog do Camarotti direto para vocês, grifos meus.

Eduardo Campos pede explicações a Erundina

O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, está reunido neste momento, em Brasília, com a deputada federal Luiza Erundina.
O cacique pede explicações sobre declarações de que ela poderia recuar no posto de vice de Fernando Haddad na disputa pela Prefeitura de São Paulo, após o anúncio, com foto, do apoio de Paulo Maluf ao candidato petista.

Eduardo Campos deve manifestar sua surpresa pelo posicionamento de Erundina, sem que o assunto tenha sido levado ao conhecimento do comando partidário.

Participam também do encontro o vice-presidente do PSB, Ricardo Amaral, e o secretário da sigla Carlos Siqueira.

Meu pitaco:


O neo-cooptado Dudu Campos foi pego de surpresa pela reação de Erundina em não aceitar a convivência política explícita com Paulo Maluf e seu PP, apesar da existência da convivência implícita — ambos apoiam o governo Dilma, assim como apoiaram o governo Lula. A verdade é que a puxada do tapete onde se encontrava o governador de Pernambuco pegou muito mal para ele. É que nesses tempos modernos exige-se que os presidentes de partido tenham seus filiados em rédea curta — "éguas" xucras como Erundina não podem ser toleradas, nem "éguas", nem "potros". Lula, por exemplo, soube como por a liça na Marta, já Dudu...

Num post abaixo eu já exortava Erundina ao imediato rompimento com o conchavão. Tudo indicava que — enquanto eu escrevia aquelas linhas — ela chutava o pau da barraca. Bem feito! E não há motivos para Dudu Campos se melindrar porque as razões de Erundina são históricas — ela fez justiça ao seu passado, seu presente e seu futuro. O que eles nunca deveriam ter feito é pôr Erundina e Maluf na mesma baia. Aí já é demais, né? Campos tomou chumbo na asa — nada diferente do que ele fez com Aécio em Minas — o que é um consolo, afinal, "chumbo trocado não dói!"

Para terminar, eu sei que o minuto e meio de Maluf na TV não são de se desprezar, mas há limites. Existe uma tênue linha que separa o desejável do condenável e Lula e o PT perderam essa noção após os mais de oito anos no poder. É como no dito: "O poder corrompe; o poder absoluto corrompe absolutamente." Não é assim tão difícil entendê-los...


Aliás, a dica de leitura na charge do Sponholz é perfeita. Nem é assim tão nova — eu mesmo venho indicando a obra de Orwell desde os primeiros anos do primeiro governo Lula — tamanhas são as coincidências entre ambos. E minha opinião ainda não mudou. Nada explica melhor o lulo-petismo que "A Revolução dos Bichos" (Animal Farm) de George Orwell. É um livrinho pequenininho, pode ser lido em poucas horas, mas mostra bem o "pensamento" por detrás disso que está aí. Boa leitura!

O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

No PT é assim: O castigo A traição vem a cavalo!

Não foi nem um namorico de Verão...

 

Três dedos

Do Estadão eu peguei um trecho de reportagem que referencia o recente episódio Lula-Maluf e que repasso a vocês; depois solto meu pitaco. Grifos meus.

Marina alfineta Lula sobre aliança com Maluf

'Vale misturar água e óleo para ter tempo de TV', disse a senadora durante discurso na Rio+20; acordo rendeu 1min35s à propaganda eleitoral de Haddad
RIO - Em um discurso na Cúpula dos Povos nesta terça-feira, dia 19, Marina Silva alfinetou a aliança entre o PT de São Paulo e o ex-prefeito Paulo Maluf. Segundo a ex-senadora, para alguns políticos “vale misturar água e óleo para ter tempo de TV.” A fala, feita em uma das principais plenárias da Cúpula, foi aplaudida de pé pelo público que mais uma vez ovacionou Marina Silva e seu posicionamento contrário aos rumos do documento oficial da Rio+20.

“Eles acreditam que só existe a política do pragmatismo, acreditam que vale misturar água e óleo apenas para ganhar mais tempo na televisão sem nem saber sobre o que propor”, afirmou Marina Silva, que foi ministra do meio-ambiente durante o governo Lula. Nessa segunda, 18, o ex-presidente anunciou aliança com Paulo Maluf em apoio à candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo. O anúncio causou desconforto entre os próprios petistas e ameaça a permanência da deputada Luiza Erundina (PSB) como vice na chapa.

Meu pitaco:

As vestais sempre me impressionaram negativamente. Quando alguém se apresenta assim muito certinha, muito pura, muito verde, muito... eu desconfio. E com Marina não foi diferente. Desde a primeira hora eu a vi falsa como uma nota de três — e não me enganei.

Diz um ditado que quando se aponta o dedo para alguém outros três ficam apontados para você. É uma forma de imitar com gestos a mensagem contida naquela célebre frase, na qual, segundo a Bíblia, Jesus disse aos apedrejadores de Maria Madalena: "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra." Diz a Bíblia que ninguém se atreveu a lapidar Madalena e que foram embora com o rabo entre as pernas.

O mesmo acontece com nossos dedos. Estão lá três a nos lembrar que somos tão pecadores quando aqueles aos quais queremos imputar uma falta, um crime, talvez até mais que o próprio criminoso. Assim é Marina, criminosa à sua maneira, mas posando de vestal pura e límpida enquanto aponta com seu dedo o desafeto. Vá lá, Lula é gente da pior espécie, mas Marina foi da sua patota por tanto tempo que — com absoluta certeza — também se lambuzou na mesma lama, sujou-se nas mesmas fezes.

Dona Marina é toda verde. Luta pelos animais, plantas e povos da floresta. Ecologista de fama internacional, não há lugar no mundo rico onde não seria reconhecida. Já no terceiro mundo, não sei. Acredito até que em seu estado natal ela não é nem tão conhecida assim. Já no Brasil que conta, não, é a grande redentora da natureza, das ONGs e dos ecologistas. Para eles Marina é dez, mas não devia...

Marina é dada a arroubos tão lulescos quanto os do próprio babalorixá. Para registrar um único votinho insignificante na campanha presidencial em que concorreu, voou num jatinho particular de São Paulo a Rio Branco (AC), votou, deu uma entrevista e embarcou no mesmo jatinho de volta para São Paulo para acompanhar a apuração. Chico Mendes ficaria orgulhoso do feito, já que usou o meio de transporte mais poluidor que se tem notícia nesse planeta. É bem provável que em toda a sua vida ela não consiga apagar o footprint de carbono que esta viagem gerou, footprint que ela, com sua voz de tísica, vai acusar você de ter feito e que debitará em sua conta. Tirando isso, é verde! Verde-petróleo, verde-dólar.

Lembre-se Marina: nota de três, três dedos... E me atrevendo a parafrasear Saint-Exupéry, eu diria a você: "Tu te tornas imputável pelas pessoas que acusa."

O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

Acumulou !! (de novo...)

Brasileiro é bipolar.
Vive entre o sonho da riqueza e o choque da realidade.

 

terça-feira, 19 de junho de 2012

Larga essa m*, Luíza!

O Camarotti escreveu no seu blog, grifos meus:

PSB não quer ficar refém de Luiza Erundina

A cúpula do PSB avalia que não pode ficar refém da deputada Luiza Erundina, escolhida como vice do petista Fernando Haddad para concorrer à Prefeitura de São Paulo.

Erundina deu declaração de que deve continuar como vice, mas que vai questionar a aliança com Paulo Maluf (PP), de quem é inimiga histórica.

Um integrante do comando do PSB disse ao blog que a cúpula está incomodada com o fato de saber pelos jornais das posições políticas de Erundina. O PSB está preocupado com a postura independente da deputada sem consulta ao comando partidário.

Isso será dito à deputada durante conversa marcada para esta tarde. O governador Eduardo Campos, presidente nacional da sigla, está a caminho de Brasília para uma reunião que avaliará o quadro da eleição em São Paulo. Erundina e o vice-presidente do PSB já estão em Brasília.

Meu pitaco:

Qual o quê, Erundina! Primeiro, você nem deveria ter aceitado o "convite" de Lula. Afinal, ele a expulsou do PT apenas por você aceitar ser ministra do Itamar. Isso vai muito além do pragmatismo; está mais para pragamatismo.

Prestenção: era o Governo Itamar, não o de Fernando Collor, de quem Lulla é hoje amigo do peito, de copo e do bolso. Tome tento porque ele ainda faz o PSB expulsá-la do partido.

Boa política, uma questão de limpeza.
PSB que já foi cooptado, na fonte — aquela de Pernambuco —, de onde veio a ordem para vocês se alinharem com o PT paulista, voltando as costas ao governador Alckmin e ao PSDB, de cujo cocho no governo desfrutavam. E não foi a primeira vez não. A vocação de Judas do PSB começou aqui em Minas, com o prefeito de BH. Eu, hein!

Então, o melhor para você, Erundina, é se preservar — por um mínimo de coerência —, já que não há como se aproximar de Maluf (e de Lulla) sem se sujar. E já que estamos no tema, sua amiga Marta Suplicy deve estar às gargalhadas em casa, isto é, rindo das trapalhadas e aliviada por não estar no meio dessa merda que suja a todos e cheira muito mal.

O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

Hay que Emalufarse, pero sin perder la ternura jamás...


Caiu como uma luva!

Banditismo

Publicado no Blog do Noblat, ontem, em plena vigência da Rio+20. Eu me pergunto se essas notícias entram na pauta do dia daqueles desocupados que desperdiçam nosso dinheiro sob o pretexto de "salvar o planeta de nós mesmos". Grifos meus.

Quebradeira em escritório de Belo Monte foi ato espiritual indígena


Indígenas foram os responsáveis pela depredação de vários equipamentos - computadores, cadeiras e mesas - do escritório central da Norte Energia, consórcio construtor da hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, no Sudoeste do Pará, no sábado.

A informação é do departamento de comunicação do movimento Xingu Vivo, ao explicar que os indígenas têm uma visão diferente das depredações. A iniciativa para os indígenas significou "um ato espiritual". Eles estariam impondo uma dor à empresa da mesma forma que eles estão sofrendo com a construção da hidrelétrica naquela região.

Segundo nota do movimento Xingu Vivo divulgada domingo, no sábado os participantes do evento Xingu+23 foram ao canteiro de obras de Belo Monte para denunciar as violações ambientais e sociais da usina. Liderada pelos indígenas, a manifestação incluiu uma pajelança no canteiro, um pronunciamento de um padre e declarações de protesto.

Ainda segundo a nota, "indignados com as violações de direitos humanos, o desrespeito com os atingidos e os danos ambientais da obra, e principalmente a ausência de consulta às populações tradicionais e indígenas e o silêncio dos empreendedores, um dos indígenas decidiu se manifestar nas dependências da empresa". O Movimento disse que eram 30 indígenas, mas a empresa fala em cerca de 80.

Meu pitaco:

Conversa fiada à parte, o ato não passou de banditismo explícito — e pior — patrocinado com dinheiro público. ONGs como essa Xingu Vivo, picaretas na sua maioria, só existem para angariar fortunas através do desvio criminoso de verbas públicas para bolsos privados. Há muito esse descalabro devia acabar.

Não é diferente do que ocorre com o MST, sendo que com este é ainda pior, já que o MST nem mesmo existe de fato, apesar de também receber verbas públicas, só que de forma indireta. Pergunta-se: onde está o Ministério Público Federal que não investiga tais "entidades"?

Banditismo "espiritual"
Pajelanças (palavras deles) como essa, patrocinada pela Xingu Vivo, além de malversar os dinheiros públicos angariados por eles próprios, dão prejuízo real às empresas envolvidas, além do proprio Fisco, já que tal prejuízo será lançado como redutor de eventuais impostos devidos pelas instituições. Traduzindo, estamos pagando a esses picaretas para que nos chutem o próprio rabo.

O que eu, como contribuinte, espero, é que o MPF ponha esses meliantes na cadeia — índios inclusive. Aliás, há muito esses índios deixaram de ser "silvícolas". Seu comportamento político já os autoriza a entrar para o rol dos brasileiros comuns, isto é, daqueles que pagam impostos e têm responsabilidades pelo seu sustento e responsabilidade pelos seus atos. Não os vejo como incapazes que necessitam da tutela do Estado, apenas bandidos que merecem a justa pena pela prática do banditismo.

O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

Repartiu a propina e a deu a seus discípulos...


 

Prag(a)matismo

Deu no Cláudio Humberto ontem...

'Aliança com o PT foi por amor a São Paulo', afirma o deputado Maluf


O deputado Paulo Maluf (PP-SP) afirmou nesta segunda (18) que sua aliança com o PT foi “por amor a São Paulo” e não pela nomeação de um suposto indicado seu ao Ministério das Cidades, a quem ele negou conhecer. "Não conheço ele. Parece que é do Paraná. É do PP do Paraná”, disse. O parlamentar ainda exaltou o pré-candidato à Prefeitura da cidade, Fernando Haddad (PT) justificando a aliança com o PT. "É o nosso candidato porque eu amo São Paulo. (...) eu tenho plena convicção de que São Paulo vai precisar do governo federal para resolver seus problemas”, acrescentou. A aliança foi formalizada hoje na casa de Maluf, com a presença do ex-presidente Lula e do presidente do PT, Rui Falcão, além de malufistas históricos, como o vereador Wadih Mutran (PP).

É como na música... É o amo-o-or...


O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

Haja hemorroidas...

Necessário para o PT, para o Lula e para você

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Por que não estou surpreso?

Deu no Estadão, grifos meus:

PP, de Paulo Maluf, homologa apoio a Haddad


Sob o mote de "parceria" e "mudança de rumos", o PP, do deputado federal Paulo Maluf (SP), homologou na tarde desta segunda-feira seu apoio à pré-candidatura do petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Segundo o presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão, a aliança traz para o plano municipal "forças políticas que estão juntas mudando o País".

Em reunião realizada na sede do diretório estadual do partido, Maluf defendeu a aliança afirmando que "quem pode ajudar São Paulo é uma parceria do governo federal e do municipal". E cravou: "Haddad é a pessoa para fazer isso", disse após assinar a homologação.

Haddad recorreu ao argumento da "mudança de rumos" em seu discurso que celebrou a aliança. "Quatro entre cinco paulistanos querem uma mudança de rumos", disse.

A resposta, bem aqui:


Traduzindo: não há "mudança de rumos", só mesmo a "parceria". Vão continuar roubando como sempre, dos mesmos, só que agora adquiriram tecnologia da enguia mais ensaboada que habita este planeta. Nunca mais serão pegos, muito menos presos.

O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

Dilma lança PAC do carnê


 

Açúcar de beterraba — Ou: Entre a chantagem e o subsídio

Do Blog do Camarotti peguei esta pérola (grifos meus):

O desabafo de Eduardo Braga para Guido Mantega


Recentemente, o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), teve uma dura conversa com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. E fez um desabafo pelo telefone: “Não sou como outros aliados que surpreendem o governo nas votações. Mas também quero receber tratamento de aliado”.

O líder foi surpreendido com a publicação no decreto da redução de IPI para concentrado de bebidas de 27% para 17%. O decreto afetaria as fábricas de refrigerantes instaladas na Zona Franca de Manaus. Como na Zona Franca há isenção de IPI, essas fábricas perderiam a competitividade.

“Olha Guido, sabe por que Lula teve 81% dos votos no Amazonas? Porque ele soube entender a Zona Franca. A Dilma também teve a maior votação do país no estado. Agora, não dá para ser surpreendido com um decreto, quando tínhamos combinado outra coisa”, avisou Braga.

No outro lado da linha, Guido garantiu que a redução do IPI ficaria em 20% e não mais, em 17%.

Eduardo Braga agora avalia se deixa a liderança do governo para disputar a Prefeitura de Manaus.

Ora, ora... o Brasil é mesmo o país das maravilhas, só não se sabe ao certo quem é a Alice. A Zona Franca de Manaus foi criada há 45 anos (em 1967, no governo militar) para impulsionar o desenvolvimento econômico da Amazônia Ocidental. Sei... Fosse esse impulso aquele de uma lesma manca e a ZFM estaria se movendo a uma velocidade superior à da luz! Eu sei, é impossível, mas depois de quarenta e cinco anos "impulsionando", era para ter dado algum resultado.

Pela dura (ui!) conversa do Braga e pelo recuo estratégico do Mantêga (nunca um sobrenome foi tão apropriado a um ministro tão mole), ainda não deu. É como se faz na França, onde o governo subsidia o açúcar de beterraba ao invés de comprar o nosso de cana, bem mais barato, além de insistirem em nos vender aviões Rafalle. Para ilustrar, somente em termos de produtividade, a cana é 20% mais eficiente que a beterraba; já em termos de safra a diferença sobe à estratosfera.

Mas voltando à ZFM, objeto da celeuma, tanto não deu que neste ano a presidenta Dilma Roussef anunciou que a vigência da zona franca será prorrogada por mais 50 anos! Bestial! Em 45 ela ainda se mostra dependente de subsídios como um guri de mamadeira, e ainda não contribui (ou contribui muito pouco) para o bolo fiscal do país, do estado ou da cidade onde se encontra. A ZFM dá isenção dos impostos de importação (II), de exportação (IE), ICMS (parte), de IPTU, da taxa de licença para funcionamento e da taxa de serviços de limpeza e conservação pública; tudo por 10 anos (ou mais).

Não discuto a necessidade dos subsídios, já que instalar um polo industrial naquelas latitudes exigiria mesmo algum esforço. Mas, convenhamos, passados 45 anos (!) prorrogar por mais 50 (!!) é admissão inconteste de incompetência, e pior, de má fé!

Diz-se sempre que quando uma coisa só existe no Brasil, temos uma jabuticaba. Pois acabamos de descobrir a nossa beterraba. É doce, mas vai custar uma montanha de dinheiro ano a ano por mais meio século. Brasileiro é tão bonzinho...

O Brasil é lindo, o discurso é que não cola

A fome tirou-me as palavras...

 

domingo, 17 de junho de 2012

ΕΥΡΩ ΝΑΙ !

ESQUERDA NÃO !


Quem gosta de pobreza é "inteliquitual"

Este "mea culpa" deve ser visto como um aviso — Ou: Não há país que resista a um oba-oba — Ou: Dinheiro não aceita desaforo

Botar o dedo na ferida dos outros pode parecer maldade, mas não é. Ao menos aqui não; serve de alerta. Nós, brasileiros, já comemos o pão que o Diabo amassou com o rabo, por mais de uma vez, e conseguimos sair dessa. O aperto pelo qual estão passando gregos e espanhóis já foi passado aqui. Ao fundo desse poço já descemos mais de uma vez e hoje estamos em relativa segurança. Estamos?!

O vídeo que mostrarei a seguir é uma versão sintética e bem humorada da crise espanhola, ou o reflexo da crise do Euro na Espanha, ou ainda, na verdade, aquela "marolinha" da qual o Lula fez troça e pouco caso. Esta é a razão das minhas dúvidas. Será que estamos mesmo seguros? O Lula pode achar que sim — pobre diabo — mas não é com a sua carteira que ele está brincando; é com a nossa. Mas vamos ao vídeo. Você, leitor, verá muitos pontos em comum com a nossa realidade aqui. Lá, a razão foi a bolha imobiliária, e aqui? Depois eu comento.


Bom, como você pode ver, não é a bolha imobiliária que está por detrás da crise. A bolha foi apenas o efeito aparente da crise. O que realmente causou o problema foi a farra, a irresponsabilidade de governantes e agentes econômicos (e.g. bancos). Aqui também a coisa vai para o mesmo caminho. Existe, por exemplo, um excessivo protecionismo para com a indústria automobilística — para citar um caso —, além do incentivo desbragado ao consumo, ambos com oferta de crédito farto e endividamento irresponsável da população (ou seria "da população irresponsável?"), especialmente da tão cantada "nova classe média". Que eu saiba, as classes "C", "D" e "E" estão vivendo pelo carnê, enquanto que bancos e lojas fomentadoras do consumo encontram-se em estado pré-falimentar, resultado do aumento sempre crescente da inadimplência.

Será que estamos querendo voltar ao fundo daquele poço? Olha, eu acho que será apenas uma questão de timing. Se Lula acertar seu relógio, é bem provável que venha a ser o próximo presidente do Brasilstão, o país que caminha para a merda. Afinal, a Madri da qual se ri pode estar bem aqui. Ui!