quinta-feira, 21 de junho de 2012

Com que voto que eu vou?

Do blog do Noblat, postagem de Marcos Coimbra, uma boa análise da campanha eleitoral da Cidade de São Paulo. Depois dou meu pitaco; grifos meus.

Boas e Más Notícias sobre a eleição em São Paulo

A recente pesquisa do Datafolha sobre a sucessão em São Paulo trouxe boas notícias para alguns candidatos e más para outros.

Os trabalhos de campo aconteceram na quarta e quinta feira passadas, em um momento de pequeno significado político. Não são usuais os levantamentos na metade de junho, fase em que - especialmente nas grandes cidades - as campanhas estão absortas em movimentos internos, de composição de chapas e articulação de coligações.

Para o eleitorado, nada dizem.

Só no final do mês - quando termina o prazo para as convenções e se delineia o quadro definitivo -, surgem novidades. É lá que, tradicionalmente, as pesquisas são retomadas.

O Datafolha, por exemplo, nem em 2004 ou 2008 fez pesquisas em meados de junho. Deve ter tido razões para realizar essa agora.

Os números são particularmente ruins para Serra. Mostram que o tucano estacionou nos 30%, posição incômoda para quem tem 100% de conhecimento e precisa crescer.

E não foi por falta de mídia simpática que empacou.

O tamanho do problema que enfrenta pode ser avaliado comparando sua performance à de candidatos parecidos: ex-governadores que concorrem - ou que parecia que concorreriam - à prefeitura das capitais.

Nas pesquisas dos últimos meses, chegamos a ter sete com esse perfil.

Eduardo Braga (PMDB), Paulo Hartung (PMDB), João Alves (DEM) e Ronaldo Lessa (PDT) são os mais semelhantes a ele: além de governadores, foram prefeitos - respectivamente de Manaus, Vitória, Aracaju e Maceió.

Em nenhuma pesquisa, os três primeiros tiveram menos que 45% (mas Hartung já avisou que não disputará este ano).

Lessa está aquém, embora melhor que o paulista. José Maranhão (PMDB), em João Pessoa, igual - ainda que enfrente um prefeito bem avaliado. Serra só superava Almir Gabriel (PTB), que aparecia tão mal que desistiu da prefeitura de Belém.

É pouco para quem foi tudo na política da cidade e do estado - e acabou de ser candidato à presidência da República.

O cenário se torna mais preocupante se considerarmos que seus possíveis adversários têm todos biografias menos completas - nenhum ocupou cargo executivo, nenhum tem sua visibilidade. Para ele, deveria ser uma briga fácil.

Os 30% que obteve estão desconfortavelmente próximos dos 21% do segundo lugar, Celso Russomano - hoje em um partido de pequena expressão, o PRB, e sem mandato (e que, no levantamento anterior, estava com 19%).

Em terceiro lugar, há um empate quíntuplo: Fernando Haddad (PT), Soninha (PPS), Netinho de Paula (PCdoB), Gabriel Chalita (PMDB) e Paulinho da Força (PDT) têm entre 8% e 5%. Todos variaram dentro da margem de erro em relação à última pesquisa.

O único que melhorou foi o candidato do PT. De 3%, foi a 8%.

É pouco, mas é um desempenho razoável - para quem é “muito bem” conhecido por apenas 9% dos entrevistados e “um pouco” por 19%. Em outras palavras, para quem pode crescer na grande maioria do eleitorado, os 72% que o conhecem “só de ouvir (falar)” ou que sequer sabem quem é.

Com perspectiva semelhante, apenas Gabriel Chalita - conhecido por 32%. Os outros - de partidos minimamente competitivos - estão bem acima: Russomano por 71%, Netinho por 82%, Soninha por 60%, e Paulinho por 71%.

Quando a propaganda eleitoral começar, tudo pode mudar. A pergunta é que benefício trará a Serra - que está em sua oitava eleição majoritária - e aos demais candidatos que a população cansa de saber quem são.

A pesquisa não revelou nenhuma grande alteração no cenário. Mas tanto a estabilidade, quanto as pequenas mudanças foram negativas para o candidato do PSDB.

Meu Pitaco:


Eu gostei da análise do Coimbra, inclusive quando ele mencionou que Serra, personalidade amplamente conhecida do público brasileiro e, mais ainda, do público paulista, mostra um evidente desgaste político ao exibir estáticos 30%, quase um Russomano. Acho que o eleitorado se cansou dele...

Também a comparação com outros políticos em situação semelhante (ex-governadores e/ou ex-prefeitos em campanha pela prefeitura, cada um no seu galho) ele se mostra apenas em penúltimo lugar (!), uma incômoda colocação para quem, há menos de dois anos, obteve grande exposição em campanha presidencial. Aliás, é bom que se diga, Serra se mostrou em situação bem melhor naquela época, algo como 40% de intenções contra os 3% de Dilma, medidos também no início da campanha. Desnecessário dizer que Serra perdeu o embate e me parece bem a ponto de perder mais um.

Isto me trás à memória uma frase sobre Aécio Neves, quando este ainda procurava a indicação do seu partido para aquele pleito presidencial, relativa "a demonstração pública de sua capacidade em aglutinar diferentes agentes políticos [em torno de si]". Ora, se é público e notório que Aécio tem tais qualidades, também é que Serra é exatamente o oposto — centralizador, seu adjetivo mais conhecido.

Não quero desqualificar Serra, muito menos qualificar Aécio. Critico a ambos com a mesma desenvoltura que os elogio, dependendo do momento. O fato é que, para se fazer política aqui, é necessário negociar, transigir. O que sobra em um falta no outro.

O recente episódio Lula-Maluf sinaliza bem isso. Maluf é uma raposa, um sobrevivente na política. Há que se notar que ele se mantem à tona em meio a borrascas e marolas, e com grande desenvoltura. Então, o que teria feito essa raposa se escafeder da quase celebrada aliança com Serra e o PSDB? Reinaldo Azevedo diz/supõe que foi porque Serra não se dobrou às exigências do Maluf... Será? Eu já acho que não. Na minha modesta opinião, Maluf abandonou o barco que sabe afundar — uma conhecida característica de ratos, grandes sobreviventes — no puro instinto.

Eu não sei dizer ainda se a candidatura Haddad vai decolar — há muita água para passar sob essa ponte — mas se Lula já fez seu hat trick antes, pode fazê-lo de novo agora, ressalvado outros fatos como o julgamento do Mensalão e mesmo o Escândalo dos Aloprados, ambos imputáveis ao PT e que podem ofuscar e mesmo detonar com a campanha e o partido. Diria ainda que vai depender mais dos oponentes de Lula-Haddad do que deles próprios. Mesmo assim, salvo um milagre, uma mudança de conduta, não vejo muita esperança para Serra; nem eu, nem o Maluf.

Não posso dizer que é instinto (nunca fui lá muito instintivo), mas enquanto lia a matéria, surgiu-me a lembrança da música de Noel. Pus a letra abaixo. Cai como uma luva, não cai?!

Com Que Roupa?
Noel Rosa

Agora vou mudar minha conduta
Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com a força bruta
Pra poder me reabilitar

Pois esta vida não está sopa
E eu pergunto: com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Agora eu não ando mais fagueiro
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
Não consigo ter nem pra gastar

Eu já corri de vento em popa
Mas agora com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Eu hoje estou pulando como sapo
Pra ver se escapo desta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo
Eu vou acabar ficando nu

Meu terno já virou estopa
E eu nem sei mais com que roupa
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

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