segunda-feira, 18 de junho de 2012

Açúcar de beterraba — Ou: Entre a chantagem e o subsídio

Do Blog do Camarotti peguei esta pérola (grifos meus):

O desabafo de Eduardo Braga para Guido Mantega


Recentemente, o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), teve uma dura conversa com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. E fez um desabafo pelo telefone: “Não sou como outros aliados que surpreendem o governo nas votações. Mas também quero receber tratamento de aliado”.

O líder foi surpreendido com a publicação no decreto da redução de IPI para concentrado de bebidas de 27% para 17%. O decreto afetaria as fábricas de refrigerantes instaladas na Zona Franca de Manaus. Como na Zona Franca há isenção de IPI, essas fábricas perderiam a competitividade.

“Olha Guido, sabe por que Lula teve 81% dos votos no Amazonas? Porque ele soube entender a Zona Franca. A Dilma também teve a maior votação do país no estado. Agora, não dá para ser surpreendido com um decreto, quando tínhamos combinado outra coisa”, avisou Braga.

No outro lado da linha, Guido garantiu que a redução do IPI ficaria em 20% e não mais, em 17%.

Eduardo Braga agora avalia se deixa a liderança do governo para disputar a Prefeitura de Manaus.

Ora, ora... o Brasil é mesmo o país das maravilhas, só não se sabe ao certo quem é a Alice. A Zona Franca de Manaus foi criada há 45 anos (em 1967, no governo militar) para impulsionar o desenvolvimento econômico da Amazônia Ocidental. Sei... Fosse esse impulso aquele de uma lesma manca e a ZFM estaria se movendo a uma velocidade superior à da luz! Eu sei, é impossível, mas depois de quarenta e cinco anos "impulsionando", era para ter dado algum resultado.

Pela dura (ui!) conversa do Braga e pelo recuo estratégico do Mantêga (nunca um sobrenome foi tão apropriado a um ministro tão mole), ainda não deu. É como se faz na França, onde o governo subsidia o açúcar de beterraba ao invés de comprar o nosso de cana, bem mais barato, além de insistirem em nos vender aviões Rafalle. Para ilustrar, somente em termos de produtividade, a cana é 20% mais eficiente que a beterraba; já em termos de safra a diferença sobe à estratosfera.

Mas voltando à ZFM, objeto da celeuma, tanto não deu que neste ano a presidenta Dilma Roussef anunciou que a vigência da zona franca será prorrogada por mais 50 anos! Bestial! Em 45 ela ainda se mostra dependente de subsídios como um guri de mamadeira, e ainda não contribui (ou contribui muito pouco) para o bolo fiscal do país, do estado ou da cidade onde se encontra. A ZFM dá isenção dos impostos de importação (II), de exportação (IE), ICMS (parte), de IPTU, da taxa de licença para funcionamento e da taxa de serviços de limpeza e conservação pública; tudo por 10 anos (ou mais).

Não discuto a necessidade dos subsídios, já que instalar um polo industrial naquelas latitudes exigiria mesmo algum esforço. Mas, convenhamos, passados 45 anos (!) prorrogar por mais 50 (!!) é admissão inconteste de incompetência, e pior, de má fé!

Diz-se sempre que quando uma coisa só existe no Brasil, temos uma jabuticaba. Pois acabamos de descobrir a nossa beterraba. É doce, mas vai custar uma montanha de dinheiro ano a ano por mais meio século. Brasileiro é tão bonzinho...

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