sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Alvíssara

Quem faz jus ao prêmio é o Cláudio Humberto, onde peguei a pequena nota abaixo:

Livro aponta corrupção e espionagem tucanas

O livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., fartamente documentado, está à venda a partir desta sexta-feira em todo o País revelando fortunas tucanas em paraísos fiscais, após as privatizações do governo FHC, e a rede de espionagem montada pelo ex-governador de São Paulo José Serra contra seu adversário interno no PSDB, o também tucano Aécio Neves, que era governador de Minas Gerais.

Ah, como é bom uma notícia diferente para se comentar. Já estava ficando preocupado de só meter o pau nos governos Dilma e Lula, não necessariamente nesta ordem, mas é que eles realmente se esforçaram por aparecer. E é bom que se diga, desde já, que foram as mamatas ocorridas nas privatizações que levaram muitas pessoas — até então anti-petistas — a votar no Lula em 2002, fato a que chamei na época de "dar um corte no baralho".

Outro aviso: não sou, nem nunca fui, contra as privatizações. Já defendi meu ponto de vista até com o Helio Fernandes, crítico ferrenho da privatização da Vale do Rio Doce, à qual ele chama de "doação". Os fatos mostram que, mesmo doada, desfazer-se da Vale foi uma ótima coisa para o Brasil. E tem mais: pena que não privatizaram a Petrobrás (ou Petrossauro, como dizia o saudoso Roberto Campos). Mas voltando ao assunto, as negociatas que ocorreram paralelamente às privatizações mancharam a operação e deram ao Lula aqueles famosos 10 milhões de votos que sempre lhe faltavam nas eleições majoritárias. Realmente, a longo prazo corrupção não paga a pena, apesar de dar bom dinheiro de imediato. Agora, PSDB e caterva precisam se desdobrar para reverter o jogo. Pergunta-se: quanto eles já perderam (e ainda vão perder) com isso?

O que deu errado numa atitude correta foi a forma como as privatizações foram feitas. FHC e seu governo fizeram a privatização com cartas marcadas. Em nenhum momento o governo optou pela transparência do mercado. Se tivessem imitado o modelo de Lady Margaret Thatcher, nada disso aí estaria acontecendo. Lá, no Reino Unido, as privatizações foram feitas na Bolsa, isto é, os lotes de ações do controlador (o governo britânico) eram ofertados aos poucos para o mercado. Isso garantiu que não se transferisse a um grupo economicamente poderoso mais que as ações, ou o controle — Thatcher quis evitar que um monopólio ou oligopólio estatal se transmutasse num monopólio/oligopólio privado, potencialmente mais perigoso. Com ações micro-pulverizadas em Bolsa, o controle da empresa teria que se dar sempre por votação nas assembleias de acionistas, formação de grupos controladores e consenso — o board. Como esta é uma situação transitória, o board preserva os minoritários ao invés de esmagá-los, como aconteceu aqui.
O governo FHC foi guloso. Ele quis vender — junto com cada privatização — o controle acionário da estatal e o fez. Pensava-se obter maior ganho assim do que com as tradicionais operações em bolsa. No meu modesto entender, erraram grosseiramente. O fator especulativo multiplicador, de se tentar obter o controle, poderia fazer uma empresa como a Vale ou as grandes "Teles" renderem muito mais na venda; só levaria um pouco mais de tempo. A gulodice também teve outros efeitos colaterais — tráfico de influência — cujo resultado é o noticiado aí acima. Quando se vai vender uma empresa do porte de uma Vale, uma Telemig ou Telesp, muita grana precisa passar sob a mesa de negociações para azeitar os envelopes com as propostas. Deu no que deu...

Quanto ao affair Serra-Aécio, também narrado na nota, deixo para comentar depois. Isso ainda vai levantar muito pó (ouch!). Enquanto o livro ainda não chega aqui na minha cidade, fico de olho na mídia por mais buchichos. Essa história ainda vai render muitos artigos aqui.

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