sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O que se queria eram os votos — a água foi a isca

As espertezas com a [falta de] água no Nordeste já ocorrem de longa data e sempre pelo mesmo motivo: a apropriação da enorme quantidade de votos disponíveis na região. Naturalmente propensa a pouca precipitação pluviométrica, culpa atribuída ao regime de ventos resultado da zona de alta pressão entre a América do Sul e a África, a região nordestina ainda teve sua situação agravada pelo péssimo manejo florestal, como o do ciclo da cana.

A cobertura vegetal é a principal responsável pela infiltração da água no solo, consequentemente fundamental para a formação de aquíferos e mananciais. O maior problema do Nordeste nem tanto é a baixa precipitação pluviométrica, mas a falta de perenidade de seus rios. A barragem de Orós (Barragem Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira) tinha como principal função perenizar o rio Jaguaribe. Estudos sobre a obra se iniciaram ainda no século XIX, durante o Império, mas só foi construída no governo Juscelino Kubitschek e inaugurada em Janeiro de 1961. Nesse ínterim, Orós foi objeto de uso político naquela região, ajudando a eleger dinastias inteiras de vereadores, prefeitos, deputados, senadores e governadores. Hoje é a transposição do São Francisco que faz este papel. Repasso matéria de Marta Salomon publicada no Estadão, grifos meus:

Transposição do Rio São Francisco esbarra em preço da tarifa de água


Projeto exige modificações que podem tornar preço da água um dos mais altos do País


BRASÍLIA - Com dificuldades para completar as obras da transposição do Rio São Francisco, cujo custo já explodiu, o governo analisa como cobrar do consumidor do semiárido nordestino o alto preço da água. Para vencer o relevo da região, as águas desviadas do rio terão de ser bombeadas até uma altura de 300 metros. O trabalho consumirá muita energia elétrica e esse custo será repassado, pelo menos em parte, à tarifa de água, que ficará entre as mais caras do País.

O mato cresce entre as placas de concreto...
...enquanto a caravana, digo, as cabras passam.
Estimativas preliminares apontaram custo de R$ 0,13 por metro cúbico de água (mil litros) apenas para o bombeamento no eixo este, entre a tomada da água do São Francisco, no município de Floresta (PE), até a divisa com o a Paraíba. Nesse percurso, haverá cinco estações de bombeamento, para elevar as águas até uma altura maior do que o Empire State, em Nova York, ou do tamanho da Torre Eiffel, em Paris, ou ainda 96 metros menor do que o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. O maior arranha-céu de São Paulo nem chega perto.

A estimativa de custo do bombeamento da água no eixo leste foi feita pelo Ministério da Integração Nacional e projetava o início do funcionamento dessa parte da transposição ainda em 2010. Como a obra só deve começar a operar completamente em dezembro de 2015, conforme a última previsão do ministério, o custo deverá aumentar.

Sem revisão, o valor já representa mais de seis vezes o custo médio da água no País. Novo estudo sobre o custo foi encomendado à Fundação Getúlio Vargas.

Imbróglio. Trata-se de uma equação não resolvida. O governo federal se comprometeu a bancar o custo total da obra, estimado inicialmente em R$ 5 bilhões e que deverá alcançar R$ 6,9 bilhões, mas não definiu como financiar a operação do projeto, com a manutenção dos canais e o consumo de energia para o bombeamento.

O custo da construção já inclui a estimativa de gasto de mais R$ 1,2 bilhão para concluir um saldo de obras entregues a consórcios privados que não conseguirão entregar o trabalho, como revelou o Estado na edição de ontem.

O Ministério da Integração Nacional, responsável pela obra, não se manifesta, por ora, sobre a concessão de subsídio à água a ser desviada do Rio São Francisco para abastecimento humano e também para projetos de irrigação e industriais, segundo informa o último Relato de situação do projeto da transposição.

Como podem ver, "levar a água ao semiárido" era só uma desculpa, apenas um detalhe. O que sempre se buscou foram "os votos do semiárido", mas isto não podia ser dito sob pena da não-eleição da Dilma e a descontinuidade do Projeto de Poder lulo-petista. Conquistados os votos da patuleia, a transposição começou a fazer água, isto é, água não! Secou de vez, e a despeito da montanha de dinheiro despejado lá.

Dizem que atualmente só os lotes tocados pela Engenharia Militar é que ainda não pararam. Deve ser mesmo verdade, porque os militares sempre fizeram muito pelo Brasil, mais pelo que são pagos, muito mais ainda pelo que este País merece. Quero mesmo é saber aonde vão acabar as "obras do PAC", mais um grande estelionato eleitoral com a chancela do PT.

Em tempo: o ministério que cuida desta e outras obras é o da Integração Nacional. O atual ministro é o Sr. Fernando Bezerra Coelho e esta é a sua agenda. Notícias oficiais sobre o "bom" andamento da transposição podem ser lidas aqui, mas eu prefiro ler mesmo nos jornais, mesmo com risco de ler matéria comprada.

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