quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Entre a canalhice e o oportunismo


A semana mal começou e os sinais de fumaça de enxofre eram fartos para os lados de Brasília. A governanta tomou alguns Engovs e resolveu reabrir o balcão de negócios para seu desafeto Eduardo Cunha. Acho que deu certo porque Cunha já indica ministros para o "novo" dilministério . Os mais de dez pedidos de impeachment entregues a ele repousam silentes em suas gavetas...

De Nova York, vem outra notícia que comentarei abaixo. Disse o Valor, grifos meus:

Sem CPMF, cenário é 'muito ruim', diz agência de risco Moody's

NOVA YORK  -  Sem a recriação da CPMF no Brasil, o "cenário fica muito ruim", avalia Mauro Leos, responsável pela classificação da América Latina na agência de Moody's. No curto prazo, afirma, a principal questão é o Orçamento do ano que vem.

O analista notou que uma aprovação do imposto do cheque seria fundamental para evitar o terceiro ano consecutivo de deficit primário. "É difícil ver o Orçamento sem CPMF. Pode não ser a solução mais eficiente, mas parece ser a única solução", disse. "A comunidade de negócios tem expectativa de que haja algum consenso [entre o governo e o Congresso]."

O Brasil está no limite do grau de investimento na classificação da Moody's, mas já se perdeu o selo de bom pagador da agência Standard & Poor's (S&P).

Leos participou de um evento da Americas Society-Council of Americas, em Nova York nesta terça-feira (22).  O analista disse que a Moody's anteciparia uma revisão da nota do Brasil "somente se tiver eventos que não previstos".

"A aprovação ou não [da CPMF] seria um indicativo de quão forte ou quão fraca é a habilidade do governo de alcançar consenso. Não acho que por causa disso mudaríamos o rating, mas levaríamos em consideração em termos de análise."

Leos afirmou que o peso da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, ao atingir 70%, influenciou no rebaixamento do país ao último grau antes do especulativo. Mas perspectiva está estável porque a Moody's enxerga como possíveis um crescimento de 2% do PIB e um superavit primário de 2% a partir de 2017.

Leos comparou o Brasil a países com a mesma nota, como a Croácia, cujo peso da dívida saltou de 35% para quase 100%, porém registrou um crescimento econômico de menos 1%. "Ainda que o Brasil esteja passando por tempos difíceis, não é tão ruim quanto na Croácia", ponderou.


Meu pitaco:

Começo a temer pelo impeachment, ou como é contado na piada, "o impeachment subiu no telhado". A situação deve estar tão preta que ninguém quer pegar o leme: os políticos só cuidam dos seus próprios interesses — nós só pagamos a conta.

Não fosse eloquente o bastante a manobra do Cunha, a notícia veiculada pelo Valor é tão ao gosto do governo que deve ter sido comprada. Vocês repararam os grifos? Dá forma como está lá, "só a CPMF nos salvará!" Aliás, a frase deveria ser "OS SALVARÁ!", já que em Brasília ninguém pensa em "NÓS".

Em nenhum momento a matéria fala de cortes, nem o "analista" da Moody's. Não se disse que 39 ministérios são uma ABERRAÇÃO e que é preciso cortar 30 e não apenas 9. Não disse que programas como o Bolsa Escola, Minha Casa Minha Vida, FIES, PRONATEC, tão incensados durante a campanha eleitoral, NÃO SÃO ESSENCIAIS. Vivíamos sem eles antes, podemos viver sem eles em diante. E tem mais...

Enquanto não se privatizam estatais (Petrobrás, Eletrobrás, Eletronuclear, Banco do Brasil, CEF etc.); fecham-se o BNDES e a INFRAERO, depois de vender suas participações, será preciso mudar, com urgência, o formato de exploração das áreas do pré-sal, de PARTILHA para CONCESSÃO. Todas essas medidas FAZEM CAIXA, as que ora vigoram FAZEM DESPESA, entenderam?

Feito tudo isso e refeitas as contas do orçamento — SE E SOMENTE SE ainda persistir um DEFICIT — propor-se-ia um imposto bastardo como a CPMF porém por prazo definido e IMPRORROGÁVEL! Sugerir, ainda que veladamente, adoção de MAIS IMPOSTOS num país em RECESSÃO EXTREMA, deixa de ser uma leviandade para ser MÁ FÉ.

Manifestações de milhões por todo o país não sensibilizaram Brasília, mas lembrei-me que eles se mexeram quando um bando de baderneiros — os BLACK BLOCS — barbarizaram algumas capitais, Brasília inclusive. Começo a crer que eles só respondem à ameaça e ao achaque. Talvez tenha chegado a hora de mudar a tática ou ficaremos eternamente à mercê da canalhice, do oportunismo e da má fé.

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