quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O desabafo de Murilo e o meu suspiro


Eu li e reli: não acreditei. Li mais uma vez e fiquei de queixo caído. Está lá, na coluna "Veja Mercados" do competentíssimo Geraldo Samor que repasso a vocês. Grifos meus.

Murilo Ferreira, que se licenciou esta semana da presidência do conselho de administração da Petrobras, fez ontem um desabafo a um interlocutor.

A Petrobrás não é do acionista majoritário, nem do acionista minoritário — ela é da corporação,” disse Ferreira, que também é o presidente da Vale.

“Seu eu fosse morador de Nilópolis, São Gonçalo ou da Baixada [regiões pobres do Rio de Janeiro], eu ficaria revoltado com os tipos de privilégios que os funcionários conseguiram garantir para si mesmos.”

Em seguida, meio constrangido, tirou da carteira um cartãozinho verde. “Sabe o que é isto? É um cartão com o qual eu vou a qualquer farmácia, pago apenas 15 reais e compro o medicamento que quiser. Nenhuma empresa particular no Brasil tem um cartão de convênio médico como esse. Eu nunca usei, senti vergonha.”

E prosseguiu: “Na Vale, consegui tirar os carros dos diretores. Na Petrobrás não é possível diminuir qualquer coisa que a corporação não queira.”

Esse espírito de corpo, segundo Murilo, “não permite imaginar que qualquer coisa vá mudar lá.”

“Senti vergonha.”


Meu pitaco:

Aqui em casa gastamos uma boa grana com medicamentos. Remédio pra colesterol, hipertensão, depressão e que tais fazem das drogarias e farmácias nossos bichos-papões. E pior: é raro o mês em que os preços não sobem. Com a alta do Dólar então, já espero uma pancada. E olhe que somos uns privilegiados. Minha mulher é médica, então ganha amostras com frequência. Também consegue com seus colegas mais algum medicamento e então podemos economizar, mas nada que chegue ao "nível Petrobrás". Pagar 15 reais e levar um medicamento de 150 reais a caixa, convenhamos, é um milagre que só São Getúlio Vargas poderia operar.

É claro que não há milagre algum . A diferença é paga por nós, acionistas majoritários. O petróleo é nosso, lembra? Pois NÃO É! O petróleo é DELES! A nós cabe uma das gasolinas mais caras do mundo, um sorvedouro de dinheiros públicos sem fim, e claro, A CONTA DA FARMÁCIA!

Da forma como as coisas andam, em mais algum tempo também receberemos uma petroleira quebrada. Eu não me espantaria se tal ESBULHO existir também em outras estatais. E é por benesses assim que se pode roubar uma empresa por 12 anos que nenhum dos seus funcionários abre a boca — esprit de corps des voleurs. Solto um suspiro mas não é de resignação, é cansaço. Quando é que trataremos das NOSSAS coisas com seriedade?

A salvação do Brasil passa — necessariamente — pela privatização de todas as estatais.


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