quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Brasil, pobre república

Ontem foi aniversário da República — nada a comemorar — foram 122 anos mal vividos. Salvo um ou outro bom momento, nossa república (a Velha e a Nova) não foram além de sucessões de golpes ou a ratonice da coisa pública. Nasceu torta, de golpe ilícito contra a monarquia instalada, cometido por um marechal doente, mal informado e idiota. Tiraram-no febril da cama, puseram-no sobre o cavalo e ele se deixou conduzir pela súcia golpista. Deodoro foi levado à Praça da Aclamação e de lá depôs a monarquia constitucional parlamentarista de D. Pedro II, de quem se dizia amigo. Muy amigo...

Formas de governo são apenas isto: formas. Ressalvadas as diferenças de rito, todas são boas (ou más). O que eu noto, entretanto, é que no período monárquico era (foi) melhor. Por exemplo, o Parlamento daquela época foi um dos melhores da nossa História, senão o melhor dentre os melhores — nada a ver com nossa atual "representação".  Mesmo à época haviam vozes discordantes do golpe, como a do Visconde de Ouro Preto, que escreveu em seu livro "Advento da Ditadura Militar no Brasil" (grifos meus):
O Império não foi a ruína. Foi a conservação e o progresso. Durante meio século, manteve íntegro, tranquilo e unido território colossal. O império converteu um país atrasado e pouco populoso em grande e forte nacionalidade, primeira potência sul-americana, considerada e respeitada em todo o mundo civilizado. Aos esforços do Império, principalmente, devem três povos vizinhos ao desaparecimento do despotismo mais cruel e aviltante. O Império aboliu de fato a pena de morte, extinguiu a escravidão, deu ao Brasil glórias imorredouras, paz interna, ordem, segurança e, mas que tudo, liberdade individual como não houve jamais em país algum. Quais as faltas ou crimes de dom Pedro II, que em quase cinquenta anos de reinado nunca perseguiu ninguém, nunca se lembrou de uma ingratidão, nunca vingou uma injúria, pronto sempre a perdoar, esquecer e beneficiar? Quais os erros praticados que o tornou merecedor da deposição e exílio quando, velho e enfermo, mais devia contar com o respeito e a veneração de seus concidadãos? A república brasileira, como foi proclamada, é uma obra de iniquidade. A república se levantou sobre os broqueis da soldadesca amotinada, vem de uma origem criminosa, realizou-se por meio de um atentado sem precedentes na história e terá uma existência efêmera!

Instituída a República — pau nascido torto —, tivemos uma sucessão de golpes e revoltas: Canudos, Armada, Federalista, Sedição, Vacina, Chibata, Acre, Contestado, 1923, Princesa, Tenentista, 18 do Forte e 1930 — todas na República Velha; depois a Constitucionalista de 1932, Vargas (Integralismo, ANL, Intentona, Estado Novo), Populismo (revoltas localizadas) e o Golpe de 1964 com seus mais de 20 anos de governo militar e supressão de direitos civis.

Constituições foram 8 (oito) ao todo, sendo que a de 1946 é considerada a melhor de todas elas, infelizmente substituída pela de 1967, sob o regime militar. Como preconizou o Visconde de Ouro Preto, a república aqui tem "existência efêmera", morrendo entre rebeliões e golpes; renascendo nas suas muitas "constituições"; extinta e recriada muitas vezes ao longo desses 122 anos. Jabor expressa bem a sensação do momento:


E agora, quando parece que finalmente estamos ficando em pé sobre a terra, outro mar de lama ameaça a República (novamente) e nossa incipiente e frágil Democracia. Não posso afirmar que sob uma monarquia seria diferente — eu, pessoalmente, acredito que sim, que reis e rainhas ao menos se corariam de vergonha —, já para presidentes (e presidentas), ministros variados (inclusive os togados) e parlamentares, é apenas e tão somente um ligeiro desconforto.

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