segunda-feira, 20 de março de 2017

Carne fraca e sem vergonha


Acho que não preciso explicar o que vem a ser a Operação Carne Fraca da Polícia Federal. O assunto não é outro há vários dias, então vamos economizar palavras. Na Internet também não há outro assunto, seja no WhatsApp, nas redes sociais, nas listas de e-mail ou na mídia eletrônica, não há um só dia sem referência à operação da PF.

Mas eis que no final da semana passada captei as primeiras críticas à operação. Foi no programa 3 em 1, da Rádio Jovem Pan de São Paulo, que gosto de ouvir à tarde. Estranhei as críticas que os apresentadores dirigiram à PF, especialmente por terem "demorado dois anos para revelar as podriqueiras de frigoríficos, fiscais e afins". Segundo eles, por se tratar de um "problema de saúde pública", a denúncia deveria ser feita muito antes e "a bem do público" .

Eu discordo, ainda que isto possa me prejudicar diretamente. Devo ter comido muita porcaria nessa Seara, muita coisa nem um pouco Sadia, como carne empacotada. Se comi Friboi, foi sem saber mesmo. Dita a piada, volto ao ponto. O que a turma do 3 em 1 não viu, o busílis como se diz, é que a Saúde Pública NÃO É FUNÇÃO DA PF. Aliás, um dos órgãos do Ministério da Agricultura — o Serviço de Inspeção Federal (SIF) —, é vilão envolvido na tramoia. A função da PF nesse caso é investigar e coletar provas para municiar o Ministério Público, entre outros órgãos da Justiça e está coberta de razão em manter sigilo até o seu término. As críticas que sofre são injustas e partem de pessoas ignorantes que não sabem como é feito o trabalho investigativo.

Este é um trabalho demorado porque não se obtém as provas todas de uma vez. É muitas vezes um trabalho de garimpagem, às vezes como uma caçada. Há que se ter paciência ou não se colhe o ouro da prova, se espanta o fiscal corrupto, os industriais bandidos, os corruptos e os corruptores. Se a PF fosse fazer o trabalho da Vigilância Sanitária, não teríamos hoje a Carne Fraca. No máximo, a coisa apareceria como um pequeno deslize de um funcionário subalterno, um infortúnio, nunca um bando de safados que se aproveitam de inspetores corruptos para nos passar carne podre.

Vejam esse vídeo que recebi pelo WhatsApp e que encontrei também no YouTube:

 

Como dito, o produto foi comprado no início de Janeiro deste ano e é razoável afirmar que tenha sido produzido bem antes, uma data entre Agosto e Outubro de 2016. A matéria prima (carne) foi obtida de abate em data ainda anterior, e se foi congelada, podemos estar falando de vários meses.

O consumidor encontrou restos de plásticos, etiquetas e sabe-se lá mais o que. Certamente fez uma reclamação, e ninguém soube de qualquer ação punitiva, fiscalizadora ou investigativa da Vigilância Sanitária, da Saúde Pública, do SIF ou do Ministério da Agricultura, em relação à BR Foods (BRF S/A), proprietária da marca. Este é o nível de higiene de uma das principais processadores de carne do Brasil!

Hoje, na CBN, o Merval Pereira vem com a mesma lenga-lenga de que a PF deveria ter chamado os técnicos do Ministério da Agricultura para que eles pudessem dar explicações. Disse ainda que "a ação da PF vai atrapalhar nossas exportações". Ora, bolas! O que vai atrapalhar nossas exportações é a péssima qualidade dos produtos das marcas citadas, assim como a incompetência dos serviços de fiscalização oficiais, que deixam esse tipo de coisa acontecer. E aí, Merval? Veja o vídeo acima e me diga novamente se adiantaria algo caso a PF comunicasse ao SIF aquilo que seus fiscais já sabiam pelo cheiro?

Parem de culpar o mensageiro pelas más notícias! Parem de culpar a Polícia Federal por mostrar que os Campeões Nacionais do Lula e da Dilma não passam de bandidos e canalhas da pior espécie.


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