quarta-feira, 29 de março de 2017

A Carne Fraca e a desonestidade intelectual


Eu já disse aqui — e por mais de uma vez — que apoio a Polícia Federal 100%, especialmente depois da narrativa grotesca que boa parte da mídia nacional adotou. Resumidamente, essa mídia tratou a Operação Carne Fraca como "espetaculosa", "autoritária", "desmesurada", "inábil" etc. Não concordo com nenhum desses depreciativos e volto a repetir: A PF cumpriu seu papel. Se tal cumprimento afetou os mercados internacionais de carnes é por culpa exclusiva das más práticas de frigoríficos exportadores. Ponto.
Ainda assim, ontem ouvi o comentarista Carlos Andreazza da Jovem Pan afirmar peremptoriamente que a operação foi "espetaculosa e autoritária", assim como o comentarista de agronegócio Bruno Blecher da CBN dizer que "Polícia Federal quis matar mosquito com canhão", apesar de admitir que "Houve fraude, houve realmente fraude… corrupção de agentes… (2 superintendentes exonerados, 33 fiscais afastados — todos presos) e 6 frigoríficos interditados." Eu não sei nada desse ramo, mas pelo que se disse, isto está muito longe de "espetaculoso" e bem maior que um "mosquito". As falas de ambos estão nos links abaixo.
Em ambas o leitor verá alegações como esta do Blecher (grifos meus): "A Polícia Federal exagerou na dose com a Operação Carne Fraca, porque quis matar um mosquito com um canhão. Houve fraude, mas não se comprovou nenhum caso de contaminação da carne. As ações da PF poderiam ser pontuais e discretas."
Contrariamente ao que esses dois senhores afirmam — e não apenas eles — leio as seguintes manchetes nos jornais de hoje (grifos meus, mais nos links abaixo):
JBS concederá férias coletivas para 10 de suas 36 unidades de abate de bovinos no Brasil
SÃO PAULO - A JBS, maior processadora de carnes do mundo, informou há pouco que concederá férias coletivas de 20 dias, a partir da próxima segunda-feira, 3, para 10 de suas 36 unidades de abate de bovinos no Brasil - uma em São Paulo, três em Mato Grosso do Sul, uma em Goiás, quatro em Mato Grosso e uma no Pará. As férias coletivas podem se estender por mais dez dias. Segundo a empresa, a medida é necessária em virtude das suspensões temporárias impostas à carne brasileira por alguns dos principais países importadores, assim como pela retração nas vendas de carne bovina no mercado interno nos últimos dez dias.
Suspeitas de corrupção no setor de carnes são 'inaceitáveis', diz comissário da UE
O comissário para Saúde e Segurança Alimentar da União Europeia, Vytenis Andriukaitis, afirmou nesta terça-feira (28), após reunião com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que as denúncias de corrupção investigadas pela Operação Carne Fraca são 'inaceitáveis'.
"As suspeitas de corrupção são inaceitáveis, ainda mais se isso pode comprometer a saúde das pessoas, aqui ou na Europa", afirmou Andriukaitis.
 
Meu Pitaco
Meu palpite, ou melhor, meu pitaco pode ser resumido numa frase: Autoridades e mídia estão muito preocupadas com os efeitos colaterais que a operação da PF possa ter sobre o mercado exportador de carne e a "boa" imagem do Brasil lá fora. Já o mercado interno… Se fosse escrever o mesmo em Inglês e para anglófonos eu diria simplesmente "Wishful thinking."
A verdade que salta das manchetes de hoje é que DE FATO há algo de muito errado com nossos frigoríficos, o que não quer dizer que o problema se dê nos setores desses destinados à exportação. Sabemos bem como funciona o duplo grau da moralidade brasileira. O fato das autoridades de Hong Kong não terem encontrado "nada que nos desabone", não quer dizer, em absoluto, que o pior não esteja acontecendo aqui!
Notem também que a preocupação com "a corrupção de entidades fiscalizadoras e de seus prepostos possa resultar em um risco sanitário AQUI, assim como na Europa ", são palavras da autoridade responsável DA EUROPA! Nós, os brasileiros, precisamos da intervenção de um estrangeiro para fazer o papel do SIF ao qual pagamos, entenderam?
Na minha modesta visão, a PF agiu em nossa defesa, nada mais. Os problemas sanitários e de más-práticas são evidentes e abundantes. O fato da JBS fechar dez de seus frigoríficos e por centenas de funcionários em casa é medida defensiva para dificultar a comprovação de mais irregularidades, inclusive de compradores estrangeiros. Se a divulgação da porcaria afetou o mercado internacional é por falta de informação: nosso governo é célere em mostrar a todos os estrangeiros que a podriqueira é reservada para o nosso consumo interno e que eles nada têm a temer.
É isso mesmo: um peso, duas medidas. As regras sanitárias para os de fora não se aplicam aqui e é pelo que se fez aqui que a PF está agindo. Quem se contrapõe a isto o faz por desonestidade intelectual ou simples má-fé. Duvida? Escute ao áudio (apócrifo), último dos links abaixo. Há quem afirme ser apenas boato, mas a mim pareceu-me bastante verossímil.
 
Links

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