domingo, 12 de março de 2017

Da desinformação e da malversação


Começo com este título pseudo Steinbeck para outro longo artigo desta minha atual fase Kanitziana. Nela, tenho me questionado pelo tremendo descaso nosso para as coisas simples, porém essenciais, para o gozo pleno da vida. Além do provimento das nossas necessidades básicas, o ser humano precisa fazer o esforço adicional da auto-defesa e aqui me refiro especificamente à defesa econômico-financeira. Não fosse o bastante lutar à extenuação para obter seus ganhos, o brasileiro precisa se defender da inflação que julgava dominada, da sanha tributária do Estado e da ganância dos bancos.
Não fosse tudo isso sofrimento bastante, o brasileiro conta ainda com a desinformação da mídia. Televisões, rádios, jornais e revistas, pelas figuras impolutas de comentaristas de economia, vez por outra algum scholar, ministro ou bem-sucedido banqueiro, vêm dar sua particular visão de Alice de que tudo vai bem no País das Maravilhas, ou agindo como Winston no Ministério da Verdade . Nunca é demais repetir, até porque muitos ainda confundem o termo, desinformação NÃO É falta de informação ou informação errada. Desinformação é informação falsa, dada no propósito de confundir ou induzir a erro, e pior, por pessoa ou veículo de mídia de boa reputação. Esta última oração, frequentemente omitida pelos dicionários, é a pedra angular do objetivo maléfico de desinformar.
Feito o preâmbulo, transcrevo um texto de 2004 do Stephen Kanitz e volto em seguida para arrematar com meu pitaco. Advirto, entretanto, que é um tanto longo e com tecnicalidades que podem afugentar leigos. Evitem! Leiam com vagar e atenção. Ele explica muito bem como boa parte do seu dinheiro é tungado debaixo do seu nariz. Grifos meus.
Perdoem Meu Desabafo
No meu artigo “Perdoem o meu Desabafo”, publicado na Revista Veja de 14 de janeiro de 2004, eu questionava mais uma vez, a informação amplamente divulgada por economistas nominalistas, jornalistas econômicos, pelo próprio Presidente do Banco Central e pelo Vice-Presidente da República, que o governo brasileiro pagou de juros em 2003, nada menos do que 9% do PIB, ou 1/3 do orçamento público.
Todos citam a cifra monstruosa de R$ 150 bilhões de juros que alegam terem sido pagos pelo governo, o que obviamente inviabiliza o crescimento econômico, os gastos públicos no social, sugere que a dívida interna é insustentável, e impede a redução da taxa de juros.
Resumindo minha argumentação para quem não leu o artigo.
R$ 30 bilhões destes juros sequer são pagos pelo governo, pois R$ 30 bilhões são automaticamente retidos como Imposto de Renda na fonte.
O desembolso para o governo é de R$ 120 bilhões, e não R$ 150 bilhões como publicado, isto não dá para contestar.
Vou fazer uma analogia.
Seu dinheiro não dá para comprar um carro, até o dia em que a sua esposa é contratada por uma concessionária com direito a uma comissão de 20%.
O carro agora vai ser seu.
Aí sua esposa, como os Ministros de Lula, lhe informa que ela pretende gastar os 20% da comissão em roupas, e você fica sem carro e ela sem a comissão.
Nós ficamos sem juros baixos e os ministros sem crescimento.
Temos um governo unido ou somos um grupo de ministros defendendo seus próprios interesses?
Minha solução, que já escrevi na Veja por umas quatro vezes, tal meu desespero com a ignorância contábil dos nossos intelectuais, seria criar o equivalente aos bônus municipais americanos , títulos das prefeituras que pagam 30% a menos de juros por serem isentos de imposto de renda.
Isto reduziria os juros para níveis mais tranquilos, reduziria as greves e pressões para gastar este superavit que no fundo não existe.
O segundo ponto do artigo era que dos R$ 120 bilhões de juros nominais líquidos, só R$ 40 bilhões são juros reais, algo que todo administrador e contador sabe, mas nossos economistas nominalistas insistem em ignorar.
O governo teve no ano passado um ganho de capital de R$ 80 bilhões de reais, devido à inflação, que o governo simplesmente não contabiliza.
Portanto, quando o Banco Central abaixa os juros em 0,25% e nada acontece, é porque na realidade eles só abaixaram 0,09% do juro real. Simples!
Tem mais.
Outro leitor me informou que o Banco Central apresentou um lucro em 2003 de R$ 32 bilhões, vendendo futuro de câmbio a R$ 3,60 e recomprando um ano depois a R$ 2,89.
Os idiotas dos especuladores que apostaram contra o governo Lula tiveram um tremendo prejuízo, e quem lucrou foi o governo.
Ou seja, dos R$ 40 bilhões de juros reais que os bancos e especuladores receberam do governo, R$ 32 bilhões voltaram para o Banco Central.
O total de juros que o governo pagou para o setor financeiro como um todo não foi de R$ 150 bilhões, mas somente de 8 bilhões, uma tremenda diferença.
Como é possível a todos os jornalistas e economistas ignorarem esta notícia?
Em fevereiro, março e abril de 2004, com o repique da inflação, o fenômeno se repete.
O governo pagou quase nada de juro real descontado o imposto de renda e a inflação, e nenhum economista e jornalista comenta?
Novamente a tal cegueira causada pelo nominalismo econômico.
Não é à toa que está começando a haver uma saída de capital do Brasil, ninguém quer receber zero ou quase zero de juros reais.
Em vez de 9% do PIB, como afirmaram Meirelles, Alencar, Sayad, Ivoncy Iochpe, Gilberto Dupas e Celso Ming, e outros nominalistas, para citar artigos publicados nestes últimos meses, pagamos em 2003 somente 0,5% do PIB, uma ninharia.
Em vez de 16,5% ao ano, o juro real pago em 2003 cai para 0,5% ao ano, melhor investir nos Estados Unidos.
Em suma, a origem da estagnação é esta.
Ninguém sabe qual vai ser o juro real antes de comprar um título do governo.
Por isto eu nunca compro, não sou um especulador, isto deixo para os economistas.
Abra o caderno de Economia de qualquer jornal brasileiro e procure qual é a taxa real oferecida pelo governo para os próximos 6 a 12 meses. VOCÊ NÃO ENCONTRARÁ ESTE VALOR.
Ninguém sabe, por isto nem aplica em títulos, só especula.
O governo brasileiro paga quatro riscos à toa:
  1. O risco de não saber o juro real antes da aplicação, o que aumenta os juros em 2 a 3 pontos percentuais.
  2. O risco de não saber a efetiva taxação, que é calculada sobre o valor nominal e não sobre o juro real, mais 1% de risco.
  3. O risco dos índices de inflação serem manipulados, porque no Brasil eles não são auditados por auditores independentes, e aí o investidor coloca mais 1% para se garantir.
  4. O risco do índice IGP-M não espelhar a inflação do investidor, e aí o investidor coloca 1% extra só para se garantir, agravado pelo amadorismo das ponderações do IGP e IGP-M.
Bastaria lançar um título com juros reais fixos, taxar somente o juro real, auditar os índices de inflação para não serem manipulados como no passado e criar índices de inflação confiáveis, que reduziríamos em 4 a 5 pontos percentuais os juros deste país.
Um outro leitor me sugeriu que toda esta desinformação econômica é deliberada, faz parte de uma conspiração nominalista. A maioria dos economistas brasileiros é ou quer trabalhar num banco, e adora especular com as incertezas geradas pelo nominalismo.
Se for assim, então não me resta nada além de aderir.
Portanto, esqueçam tudo que eu escrevi acima.
O GOVERNO NÃO ARRECADA IMPOSTO DE RENDA SOBRE OS JUROS QUE PAGA, NEM A DÍVIDA INTERNA É CORROÍDA PELA INFLAÇÃO.
REPITO, NÃO EXISTE IMPOSTO DE RENDA NA FONTE NESTE PAÍS, NEM INFLAÇÃO. O BANCO CENTRAL SEMPRE PERDE DOS ESPECULADORES NUNCA GANHA. REPITO, NUNCA GANHA.
E OS INVESTIDORES CONHECEM O JURO REAL QUE RECEBERÃO E FAZEM AS DECISÕES MONETÁRIAS CORRETAS ENTRE POUPAR OU CONSUMIR, COMO REZA A CARTILHA DO MONETARISMO ECONÔMICO.
O que ainda não entendo, e me pergunto: o que os nominalistas pretendem com toda esta desinformação?
 
Meu Pitaco
Como disse acima, é assim que boa parte do nosso dinheiro é tungado bem debaixo dos nossos narizes, e para isso concorreram os gatunos do Estado, a rapinagem dos banqueiros e a nossa desinformação.
Não importa se você é leitor de jornais especializados, revistas de negócios ou simples espectador da Rede Globo — as outras TVs são igualmente culpadas, mas causam menos mal por não terem os 80% de IBOPE da auto-denominada Vênus Platinada —, rádios e que tais. Qualquer que seja sua fonte de informação, chances há que você seja invariavelmente enganado.
E nem é preciso ser um gênio das finanças. Compare o rendimento das suas economias e se dará satisfeito caso esteja conseguindo empatar com a inflação. Notem que NUNCA te informam as taxas reais , apenas as taxas nominais. É assim que eles te dão a falsa sensação de ganho, quando na realidade, e na grande maioria das vezes, você está acumulando perdas. É a isto que o Kanitz denominou "nominalismo".
Eu vim a descobrir pela forma mais elementar de controle que é a Contabilidade. Vocês já notaram a grande ênfase que o Kanitz dá ao rigor contábil e à auditoria? É porque a fiel transcrição cronológica dos eventos financeiros, devidamente categorizados, ser condição essencial para a administração e a análise.
Tenho experiência própria com isto; faço minha contabilidade pessoal há mais de 30 anos! Não sei o que seria de minha vida se não agisse assim, muito possivelmente um irremediável desastre. E não se iludam vocês que gozam de uma confortável situação sem nunca terem se dado ao trabalho de uma "vida escriturada". Sua vida poderia ser ainda melhor, mais farta e mais tranquila, ainda que você precisasse dedicar alguns minutos da sua folga para isso.
Estamos falando de taxas de juros nominais e reais e não posso me furtar de comentar sobre tributação. Você já pensou no IRRF, o infame Imposto de Renda Retido na Fonte? Durante todo o ano o Leão antecipa aquilo que ele determina ser sua "fatia" nos seus proventos. Nem quero mencionar gatunagens como a não atualização da tabela do IR, mas apenas e tão somente a antecipação . Por ser uma antecipação, seria lícita, desejável e honesta a remuneração das somas antecipadas. A Selic média anual está aí pelos 13,90% e a inflação na faixa de 4,76%. São nada desprezíveis 1,45% ao mês. Uma pessoa com salário de R$10 mil e 2 dependentes pagará R$1.609,04 por mês de IRRF, que somarão R$19.308,48. Se fosse compensado pela antecipação R$20.925,24 de crédito. Vocês já ouviram isso da boca da Míriam, da Witte Fibe, da Denise, do Ming ou do Halfeld? Nunquinha, não é?
Eu até me sinto confortável em responder à indagação final do texto, aliás, uma pergunta para a qual o autor certamente conhece a resposta e apenas nos provoca a raciocinar: os nominalistas apenas desejam que permaneçamos dóceis. Só assim o Estado poderá continuar a reter o IR na fonte (conhece violência maior?), os bancos poderão cobrar spreads cada vez maiores, taxas de administração daquilo que nunca administraram e taxas de sucesso sobre ganhos inexistentes ou pífios, enquanto nos alegramos com ganhos nominais que nunca complementarão nossa sonhada aposentadoria.

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