sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O que foi que mudou?

Vivo a política desde criança. É interessante dizer isso assim mas é a pura verdade. Nossos pais levavam os filhos a participar da vida política desde muito cedo. Vocês, que eram "gente" antes da ditadura militar, devem se lembrar dos comícios em praça pública, do corpo a corpo pelo voto do eleitor, ou apenas das conversas em praças e bares. O extinto Café Pérola, na Praça Sete de Setembro em Belo Horizonte, era um desses points. Político em campanha tinha que passar no Pérola para um café — obrigatório —, fora de campanha também. Eram outros tempos...

Eu digo isso com certa mágoa porque eu vi um dia um helicóptero pousar na Praça Barão do Rio Branco, aqui na minha cidade, então apenas uma grande área de terra vermelha batida. Lá tinha apenas o prédio novo da Prefeitura,  da Câmara, as oficinas e a administração da Auto Mecânica e algumas residências. Perto ficavam a Cia. Telefônica e o Mercado Municipal. Naquele dia a praça estava cheia, era dia de comício do PSD (não, não era o PSD do Kassab) para as eleições municipais. Baixada a poeira, surge o personagem esperado: JK em carne e osso. Nada menos que Juscelino Kubitschek vinha dar seu apoio ao candidato local do seu partido. Comício feito, uma fila enorme de populares se formou para cumprimentar o ex-Presidente — nós lá no meio. JK cumprimentava a todos com sorrisos; pedia votos, dava e recebia abraços. A muitos chamava pelo primeiro nome, perguntava pela família. Este era JK, de infinito carisma e proverbial memória.

Findo os cumprimentos, JK embarcou no helicóptero e decolou rumo a outras cidades, outros comícios, até a escala final em BH. Naquele dia, ainda muito menino, dei meu primeiro aperto de mão num Grande Homem. O candidato apoiado por ele não venceu as eleições. Ganhou um outro — outsider —, pela extinta UDN. Eram aqueles ventos loucos de Jânio e da vassourinha (Varre, varre, varre vassourinha...) que todos sabemos no que foi dar.

Eu me encontraria com JK uma outra vez apenas, já nos meus dezesseis anos, numa das suas andanças por essas bandas. Foi numa fazenda aqui, onde passava alguns dias para descansar. A família toda foi até lá. Naquela ocasião hospedávamos uma estudante estadunidense que também foi ao encontro. Após os cumprimentos, abraços e mesmo algumas lágrimas (JK fora — e ainda estava — cassado pelos militares), ele falou conosco e com a estudante estrangeira por vários minutos. O porquê da construção de Brasília, diferenças e semelhanças com Washington/DC, crescimento demográfico, industrialização, etc. Deu uma aula de política e administração pública, assim, assim... de graça! Falou dos seus projetos futuros — ele se preparava para voltar. Só não contava com a "má sorte" no futuro próximo.

Algum tempo depois, recebemos da família daquela estudante estrangeira efusivos agradecimentos pela oportunidade única proporcionada a sua filha — aquele encontro com JK. Nós, acostumados a sermos reconhecidos no exterior apenas por Pelé, encontramos povos que reconheciam a grandeza e a importância de Juscelino Kubitschek, antes de nós mesmos. Incompreendido até hoje por muitos, JK será sempre um marco na nossa História. E hoje, vendo a choldra que transformou Brasília num esgoto a céu aberto, sinto saudades de JK e lamento que ele não tenha podido voltar à Presidência nos braços do povo.

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