quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Costura grosseira em tecido difícil

Há quem diga que o PSDB não nasceu para ser oposição. Balela! Apesar de exercer o poder desde a sua fundação, qualquer partido que se preze precisa exercitar o contraditório, razão da Política. Em outras palavras —até mesmo quando está no poder— um partido exerce a oposição; ou faz isso ou desaparece de cena num piscar de olhos. Então, essa conversa de que este ou aquele político (ou partido) "nunca exerceu a oposição" não passa de retórica.

O que existe de fato no Brasil são conflitos de interesse. Aqui, todos os partidos são "de esquerda", no nome, na sigla e até no discurso, apesar de serem conservadores no comportamento e na ação. A título de exemplo, o PSDB fez um dos governos mais liberais que se tem notícia. Promoveu privatizações, incentivou a livre-iniciativa, fez investimentos em infraestrutura, modernizou e enxugou o Estado (poderia ter feito ainda mais), etc. Na área social, talvez tenha sido o governo que melhor tenha cuidado da Saúde e da Educação, com propostas e ações que refletem positivamente até hoje, passados mais de uma década. E se assim foi, por que não continuou?

Bom, esta é a tal da "pergunta incômoda", aquela que não quer calar, para a qual só encontro uma resposta: FHC errou ao indicar seu sucessor. Melhor ainda, ele nunca deveria tê-lo feito. FHC deveria ter entregue ao seu partido a tarefa de indicar o melhor sucessor para mais oito anos de mandato. Infelizmente, o "S" do partido falou mais alto e escolheram a pessoa errada. Candidato da "Executiva", Serra não era a pessoa certa para o bom momento Lula. Em que pese suas excelentes qualificações, ele não era (nem nunca foi) páreo para o discurso ufanista (e mentiroso) do seu oponente. Falta-lhe "jogo-de-cintura", ginga, malícia; tudo o que sobra no outro oponente. Foi um massacre, guardadas as proporções.

Resumindo a curta história, o PSDB se notabilizou por fazer um belo governo conservador, queira você chamá-lo de direita, liberal ou mesmo neoliberal, embora eu não saiba bem o que as pessoas entendem por neoliberal. Para mim, será sempre conservador. Pode não ter sido um belo governo para muitos, mas foi muito bom para o País, que é o que conta. Os resultados estão aí para quem quiser ver e comparar, tão eloquentes que Lula não se atreveu a mudar uma palha sequer de seu lugar; apenas e tão somente mudou o discurso, que é o que a patuleia compra. É nisso que o PT é muito melhor que o PSDB: na retórica. Obras e realizações são para eles apenas detalhes menores, afinal, o que são promessas não cumpridas depois de apuradas as urnas?

O lulo-petismo turvou nossa realidade de tal maneira que ficou difícil entender o momento atual. Quando um partido como o PSD (de Kassab) é criado, aquele que diz "não ser de direita, de esquerda ou de centro", então fica claro que baixou um Exu na política, porque Exu "é a bagunça generalizada e o silêncio completo. Diz-se que Exu é a contradição. É o sim e o não; o ser e o não ser. Exu é a confusão de ideias que temos. É a invenção, descoberta. Exu é o namoro, é o desejo, é o sentimento de paixão desenfreadas e é também o desprezo. Exu é a voz, o grito, a comunicação. É a indignação e a resignação. É a confusão dos conceitos básicos. Aquele que ludibria, engana e confunde; mas também ajuda, dá caminhos, soluciona. É aquele que traz dor e a felicidade." Deus nos livre de Exu! —ao menos desse Exu-Kassab—, a "nova" noiva do lulo-petismo, a "arma secreta" para se vencer as eleições em São Paulo.

Isso sim é um Exu com pedigree!
Kassab se faz de esfinge: oferece seu partido e a si próprio ao PT paulista, diz ser da "base aliada" e, ato contínuo, jura amores a Serra. Como se pode acreditar em tal "rameira". Serra, por sua vez, não está muito bem com o eleitorado de São Paulo, embora custa-me acreditar que o são-paulino vá votar em Haddad ao invés de num Matarazzo ou num Covas. Sei lá, mas como disse antes, o Exu veio para confundir e avacalhar. Vejam o caso de Serra, certamente um dos melhores nomes do PSDB para concorrer à Prefeitura de São Paulo:
  1. Já foi prefeito uma vez. Jurou que cumpriria o mandato integralmente; registrou a "promessa" em cartório e descumpriu o acordo, fato que será muito bem lembrado se for ele o candidato.
  2. Se for ele o candidato, desarma a parceria Exu-Kassab/PT, mas só se for já. Se demorar muito, como nas outras vezes, o Exu-Kassab pode se eximir da sua "fidelidade canina" ao mentor, nenhum problema em se tratando da fidelidade de um Exu.
  3. Se for ele o candidato, como bem lembrou Merval Pereira no seu podcast na CBN, ele terá que se comprometer, desde já, com a candidatura Aécio em 2014. Ai! Essa vai doer e não só nos calos de Serra. Mas, pensando bem, não existe outra forma dele sinalizar ao eleitorado são-paulino, que ele não roerá novamente a corda passados mais dois anos. Não mesmo...
  4. Por fim, restam as famigeradas prévias. Serra as detesta de coração. Ele não se permite confrontar com tucanos de plumagem inferior, não mesmo. É pena (desculpem o trocadilho), mas isso mostra que, bem lá no fundo, Serra não é um democrata, muito menos um liberal.
Esta é a razão dele ter perdido para Lula e, pasmem, perdido também para Dilma! Pode-se até pensar que o eleitorado é burro, mas não é. Ele pode ser ignorante —e o é em sua maioria— mas não é burro; sabe que Serra soa falso quando se apresenta como liberal, porque ele sempre foi da esquerda. Foi aí que FHC se enganou (ou quis se enganar) e perdeu. E como já disse noutros artigos, o povo quer uma alternativa para Lula/Dilma —um antípoda, se preferir—, até porque se lhes oferecerem um falso-Lula para tal, eles, sabiamente, ficarão com o original.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todos os comentários são bem-vindos — inclusive anônimos —, sejam para criticar, corrigir, aplaudir etc. Peço apenas que sejam polidos, pertinentes à postagem e que não contenham agressões ou ofensas.