sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Pitacos nas Eleições 2018 #09


O Debate na Band

Eu vou iniciar criticando a emissora pela escolha do horário. Dez horas da noite de uma Quinta, só pode ser brincadeira. Parece que esse pessoal acha que o brasileiro responsável não trabalha cedo na Sexta, ou que ele só pensa em novela e não pode perder um único capítulo mesmo que a efeméride aconteça de quatro em quatro anos. Como não sou de ferro e havia farta distribuição de Mogadon pela telinha, não aguentei até o final e fui dormir. Acho que saí ganhando.

Curiosamente, lembrei-me das eleições americanas. Assisti a todos os debates das primárias e a todos os debates entre os candidatos. Que diferença. Aqui, não. É quase impossível. Um sistema engessado, anacrônico e boçal nos obriga a assistir imbecis como o Guilherme Boulos e o Cabo Daciolo — Mamma mia! — somente porque os seus partidos ou suas coligações têm um mínimo de cinco representantes na Câmara dos Deputados. Meu Deus! isso é um debate eleitoral, não uma escolha de um líder de bancada.

O critério mais justo seria o de popularidade, ou seja, aqueles que estivessem à frente nas pesquisas de opinião seriam convidados, o resto não. Isto limitaria o debate entre uns quatro candidatos e aí, sim, poderíamos ter a chance de ver um debate de propostas em vez daquela pantomima bizarra, pura perda de tempo que não deu qualquer subsídio ao eleitor indeciso que será o fiel da balança nesta eleição.

Candidatos relevantes

Para mim seriam quatro os candidatos dignos de se comentar. Em ordem alfabética: Álvaro Dias, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Jair Bolsonaro. Seguem minhas impressões sobre eles.

Álvaro Dias esteve morno em todo o debate. Perdido, confuso, gaguejante, não conseguiu defender qualquer ponto da sua pauta. Parecia a Marina que fala, fala, fala e ninguém entende nada do que ela diz, quer ou passa pela sua cabeça. Sua "proposta de peso" foi a nomeação de Sérgio Moro para Ministro da Justiça, que é o mesmo que enterrar a Lava-Jato. Se Álvaro pretendia crescer nas pesquisas começou mal.

 

Ciro Gomes começou bem e fiel ao seu estilo. Articulado e com boa retórica, ele consegue enganar bem a plateia. É um mistificador nato, um enganador, mas dificilmente soa inverossímil. Criticou a reforma trabalhista e propõe uma reforma previdenciária baseada na capitalização da poupança individual do trabalhador (i.e. Fundos de Pensão), o que está correto. Esqueceu-se de dizer, entretanto, o que ele vai fazer com os atuais aposentados e aqueles por aposentar. Assim é o mistificador; chama a atenção para uma outra coisa para desviar o foco daquilo que interessa.

"Ponto alto" das propostas cirenses foi o perdão aos caloteiros. Ciro quer que o Tesouro assuma as dívidas de centenas de milhares de brasileiros que compraram bens durante o festival de consumo dos governos Lula e Dilma e não pagaram, estando pois inscritos como maus pagadores no SPC como párias do crédito. Ciro quer que nossos impostos sirvam para quitar essas dívidas de forma que eles possam a voltar a consumir com a mesma irresponsabilidade de antanho. Bestial! Esta é a confirmação daquela frase que diz "Para todo problema complexo há sempre uma solução simples e errada."

Não é por outra razão que eu sempre disse que Ciro é o mais perigoso dos candidatos.

 

Geraldo Alckmin, para mim, foi o vencedor do debate. No 1º bloco foi o único a apresentar propostas concretas. Falou de salário e reforma tributária com substituição de vários tributos pelo IVA. No 2º falou de segurança, porém de modelo centralizador, o que considero um equívoco.

Outro assunto por ele tratado foi a reforma política. Alckmin defende o Voto Distrital Misto como existe na Alemanha. Em que pese ser um sistema melhor que o nosso atual, trata-se de um modelo afeito a um regime parlamentarista onde o Executivo é exercido por um gabinete formado por membros de Legislativo. O povo brasileiro já rejeitou o parlamentarismo por duas vezes, não vejo uma terceira tentativa vingando. Voto Distrital (Puro), como nos Estados Unidos da América, é o que nos convém, inclusive com eleições a cada dois anos como lá e nós já temos eleições bi-anuais.

 

Jair Bolsonaro, ao contrário do esperado, não a foi tábua de tiro ao alvo do debate. Com a exceção de uma admoestação do Boulos, logo de saída, à qual ele despachou como quando enxotamos uma mosca importuna, todos os demais foram cuidadosos com ele. E foi intencional, já que suas cortadas têm rendido muitos admiradores e votos. Sem ser provocado, Bolsonaro não apareceu tanto quanto gostaria ou poderia. Foi apático na maior parte, já que é melhor retrucando que propondo, não por sua culpa, mas pelo modelo do debate e pelo número de contendores.

Sua maior bandeira — a Segurança Pública — se perdeu nas picuinhas de Marinas, Boulos, Daciolos — e pasmem! — até o Meirelles de quem eu esperava muito mais que a "ampliação do Bolsa Família e do assistencialismo estatal" como programa de governo. Como nos lembrou Ronald Reagan, "Mede-se o sucesso de um programa assistencial pelo número de pessoas que dele saem e não pelo das que nele entram." Toda vez que alguém propuser aumentar um programa assistencial é porque ele não se presta para aquilo a que se propôs e o proponente é só mais um enganador. Ponto.

Conclusão

O debate foi aquilo que já se prenunciava — uma completa perda de tempo que nada contribuiu para o processo eleitoral. Espero que os demais veículos de mídia ajustem seus modelos e horários porque eu não estou propenso a outra Sessão Mogadon como esta.

Pesquisa XP/Inspe

Para finalizar, a pesquisa XP/Iespe saiu com o seguinte resultado:

  • Jair Bolsonaro – 23%
  • Marina Silva – 12%
  • Geraldo Alckmin – 10%
  • Ciro Gomes – 9%
  • Alvaro Dias – 5%
  • Manuela D’Ávila – 3%
  • Henrique Meirelles – 3%
  • Guilherme Boulos – 1%.

No 2º turno, o cenário desta pesquisa aponta para três empates técnicos, um deles inverso, e apenas uma certeza de vitória; todos os cenários com Bolsonaro:

  • Jair Bolsonaro – 33%
  • Geraldo Alckmin – 33%

 

  • Jair Bolsonaro – 32%
  • Ciro Gomes – 30%

 

  • Marina Silva – 38%
  • Jair Bolsonaro – 32%

 

  • Jair Bolsonaro — 37%
  • Fernando Haddad — 29%

A melhor chance para o Capitão ainda é vencer no 1º turno, porém ele vai precisar ganhar o voto aqui em Minas e isto não me parece ser muito fácil.


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