quarta-feira, 27 de maio de 2015

Contrapondo Reinaldo, ou: Nem só de pingos vivem os is


Há pessoas inteligentes neste país e Reinaldo Azevedo é certamente uma delas. Mente aguda, raciocínio rápido, vasta cultura; são muitos os adjetivos a elogiá-lo. Não por outra razão ele é sucesso em várias mídias: Veja Online, Rádio Jovem Pan e Folha de São Paulo que muitos chamam apenas de Folha, outros de Falha. Como se vê, não é por falta de emprego que Reinaldo abdicará de seus gostos ou opiniões.

Não é também por outra razão que o acompanho de perto e há bastante tempo. Não sei se posso ser rotulado de "fã", mas a despeito da minha admiração quero discordar dele hoje publicamente. Ao criticar com veemência a proposta petista de financiamento público exclusivo de campanhas políticas, Reinaldo abraçou, por assim dizer, o lado errado da ideia. Ele se tornou um ferrenho defensor não apenas do financiamento privado de campanhas e partidos por pessoas físicas — eleitores, em última análise —, mas também do financiamento por empresas. Ele está ERRADO! Na minha imodesta opinião, quem não vota não deveria interferir numa eleição. Ponto.

A sua justificativa para que o Congresso vote uma emenda à Constituição tornando "constitucional as doações de empresas a partidos políticos e candidatos" é, não encontro outro paralelo, digna de Dilma Vana Rousseff, de tão idiota. Segundo ele, "quando as pessoas jurídicas estavam proibidas de doar, até as pedras sabiam que essa proibição era burlada por meio do caixa dois. E que se note: mesmo com a legalização das doações, parte delas continuou na clandestinidade." A alegação per si é tão estupefaciente (palavra cara ao repórter) que nem dele parece ser. Tamanho foi meu espanto que disponibilizarei o áudio (link abaixo) como tira-teima.

Seguindo a lógica que lhe é tão cara, constitucionalizar a doação de empresas acabaria com o caixa-2, ou o minimizaria a índices suportáveis. Ora, até o entulho de uma construção vizinha que emporcalha minha porta sabe que não! Mas façamos de conta que sim. Tudo seria feito pelo caixa-1, o legal, o declarável e dedutível, certo? ERRADO! As doações legais a partidos políticos foram usadas — vide o caso Petrolão — para LAVAR DINHEIRO DE CORRUPÇÃO! E aí, Reinaldo? O que fazer dessa sua lógica? Nós sabemos que o crime não deixa de ser perpetrado APENAS PORQUE HÁ LEIS. Os crimes cessam ou reduzem-se pela APLICAÇÃO DA LEI, e leis já temos de sobra. Falta polícia, investigação, celeridade e juízes como Sérgio Moro.

Eu insisto: quem não tem direito a voto NÃO deve intervir no voto. Ponto. "Mas e o caixa-2?", perguntar-se-ia. Ora, caixa-2 é crime, já disse a juíza Cármen Lúcia (que muitos chamam "Lúcida") ao julgar o Mensalão. Fez caixa-2? Cadeia! Cassem-se mandatos e mesmo registros de partidos, mas não me venham criar uma licenciosidade jurídica para acobertar ou minimizar práticas criminosas. Reinaldo Azevedo, neste quesito, errou grosseiramente.

Outros ainda poderão bradar: "As campanhas são muito caras! Como financiá-las?" Ora, não poderá ser com caixa-2, nem corrupção, nem via qualquer método ilegal. Também não pode ser com mais impostos. Se as campanhas estão caras, cabem a vocês políticos, encontrar meios de barateá-las. Por que as campanhas no Reino Unido não são caras como aqui? Nem mesmo nos Estados Unidos da América custam tanto! Uma forma de barateá-las, através do voto distrital, foi rechaçada ontem pelo plenário da Câmara. Financiamento público nem pensar! Não há dinheiro sequer para custear o mínimo dos mínimos que cabe ao Estado e vocês ainda querem imprimir santinhos às nossas custas? Vão se catar! Se está assim tão caro, PROCUREM OUTRA COISA PARA FAZER! RUA!

E de volta a Reinaldo, sei que o que você disse é o que acha ser certo, os seus pingos nos is. Destes eu discordo. Tomo de empréstimo uma frase de Ayres de Brito que repetirei invertida: "Não é pelo temor do uso [do caixa-2] que se vai permitir o abuso [da doação de empresas]." (*)

É isso aí!


Links:

(*)     A frase correta é: "Não é pelo temor do abuso que se vai proibir o uso."

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