domingo, 24 de abril de 2016

Desculpem-me sumidades, mas política não é um jogo


Começo a manhã de Domingo na TV. Assisti à vitória do Valentino na MotoGP e agora faço uma leitura diagonal nos temas do dia. Nada muito diferente de ontem a não ser o texto do Carlos Melo no Estadão. Repasso alguns trechos para vocês (grifos meus):

Uma cilada para Michel Temer
| 09:19 | Carlos Melo |
Publicado pelo Caderno “Aliás,” de domingo, 24 de Abril, com o título “Aura de vice”
Embora o senso comum, travestido de crença, afirme que impeachments são festas da democracia, o quadro nacional está longe da animação. Nesta quadra da história, por falta de um presidente, o país convive com dois: Dilma Rousseff, de direito, de fato e por enquanto; e Michel Temer, na expectativa. Este já discute o ministério, seus desafios e seu labirinto. A situação é esdrúxula: quem tem dois, não tem nenhum. O país permanecerá neste quadro de esquizofrenia por mais algum tempo; meses, talvez.
Não se trata de “duplicidade de comando”. A soma, ao final, resulta em zero. O vazio é evidente. Dilma deixou de ser presidente há algum tempo, quando não conseguiu nomear ministros da Justiça, quanto mais dar abrigo ao ex-presidente Lula; hoje, Dilma diz “faça” e ninguém faz. Mas, tampouco, Temer preenche o vácuo a sua frente.
[…] bem ou mal, Dilma tem o apoio de 20% dos brasileiros e possíveis 80% contra si. É pouco, mas com quanto de apoio popular Michel Temer poderá contar? De saída, com 20% negativos, sem que possa se fiar nos 80% restantes porque lhe falta a robustez da representação, a solidariedade da tragédia ou a aura da fortuna.
Ninguém foi às ruas por seu nome e não há drama que o justifique. […] Mas, a troca do PT pelo PMDB não traz ganho moral, nem implica mudança de métodos; não traz a renovação pedida pelas ruas.
[…] De modo que Michel Temer é ainda e tão somente aposta de que a substituição de Dilma possa significar a emergência de mais eficazes operadores do sistema – o mesmo sistema -, capazes de aprovar uma agenda e reverter expectativas.
Ao agir nos bastidores e explicitamente fora deles, o vice permitiu que a brisa da suspeita o abraçasse. Seria como se Sarney anunciasse ir à missa rezar pela morte de Tancredo. O real ou suposto bafo da conspiração retirou do virtual presidente a aura tanto da isenção quanto da predestinação, deixando-o vulnerável à mais críticas do que seria comum a “o eleito pela sorte”, o presidente incidental.
[…] Os tempos são de maior crise econômica e os humores mais ácidos e corrosivos.
Será instigado a mudar a lógica do sistema político – fisiológico, paroquial e constrangedor – e, ao mesmo tempo, pressionado para que nada altere, pois foi o próprio sistema que o carregou ao poder — não as ruas.
[…] Nada, porém, será indolor: o ajuste é, simultaneamente, tão inevitável quanto impopular. Se mais profundo, mais rápido sairá dele. Mas, o aprofundamento da recessão será ao mesmo tempo música para o PT. Em até 180 dias, o desgaste do vice será a vitamina, o mingau da vingança, da presidente eleita. A ousadia pode salvar Michel Temer, mas, ao mesmo tempo, ser sua ruína. É uma cilada lógica e política. A tensão e a esquizofrenia tendem a continuar.
Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.
 
Meu pitaco:
Tenho grande respeito pelo Carlos Melo mas acredito que ele se deixou empolgar na "análise política". Minhas aspas têm uma razão: não acredito que existam cientistas políticos aqui. Temos curiosos e palpiteiros, como este que vos escreve, mas cientistas aqui? Nenhum!
O texto foi coerente até o segundo parágrafo. Daí em diante foi preciso cortar tergiversações que obscureciam seu sentido. Por exemplo, a afirmação de que Dilma tem apoio de 20% da população é FALSO. Excluindo-se a militância comuno-esquerdista, isto é, a militância ideológica, o populacho que hoje diz apoiar Dilma muda de lado tão logo haja a queda de alguns centavos no preço do tomate. Está aí um dos males dos nossos "cientistas" que pensam ainda estar em Harvard, Oxford, Yale, Freie Berlin e Cambridge quando fazem suas análises. O Brasil é mais embaixo.
Não é "a troca do PT pelo PMDB" a resposta ao cerne da questão. É a troca da Dilma por qualquer outra coisa!, no presente caso — o Temer —, que é do PMDB etc. Mas isto é irrelevante. Qualquer outro em seu lugar não teria outra alternativa a não ser fazer um governo de NEGAÇÃO ao do da Dilma, e porque não dizer também, do governo do seu antecessor, o Lula — este sim! — UM CONSPIRADOR.
A imagem do Brasil "apostando" em Temer é ridícula. O que salta aos olhos é a ESPERANÇA de algo que funcione ainda que minimamente. O que se sente do lado de fora da política é o DESESPERO. Tivéssemos um sistema parlamentarista — e não estou com isto defendendo a adoção do sistema — poderíamos fazer jogadas com este ou aquele gabinete. No presidencialismo não há "jogadas", tudo nele é previsível. Há uma linha de sucessão pré-estabelecida que vai do Temer até o Lewandowski (no momento). Assim, espera-se que qualquer deles ofereça a alternativa à premissa Dilma, o que não é difícil.
Há também a falsa alegação de um "vice conspirador". Nada mais falso. No caso Collor-Itamar, este já rompera com o titular bem antes e recolheu-se ao ostracismo do Torto. No atual, Temer foi um ativo auxiliar da incompetente Dilma. Não fosse ele e nenhuma lei ou reforma do interesse do governo teria passado no Congresso.
Por fim, a "análise" mostra seu ponto de apoio: "o sistema carregará Temer ao poder — não as ruas.", como se a totalidade da população fosse formada de completos idiotas. Ora, mesmo condescendendo com os mais jovens, submetidos à bestificação do marxismo cultural das nossas escolas (independente de nível), existe um "traço cultural", quiçá subliminar, de que o vice é o sucessor de plantão. Ao pedir a saída da Dilma, as ruas verdadeiramente aspiravam um novo Itamar. Não é pouca coisa. Em dois anos e três meses Itamar resolveu décadas de hiperinflação e outros desajustes da economia. Atrevo-me a dizer: todos os governos, de Sarney a Dilma, não somam um Itamar.
 
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