terça-feira, 12 de abril de 2016

Deslize estratégico

Tenho lido bastante sobre o áudio do vice-presidente Temer que vazou para um grupo do WhatsApp e de lá viralizou na Internet. Sua assessoria disse, "não ter sido intencional, mas fruto da sua inabilidade com gadgets da modernidade", isto é, explicou mas não convenceu.

Não de todo surpreendente, a mídia mainstream engoliu o vazamento e a explicação que se seguiu com ânsia de um esfomeado. Na imprensa escrita, falada e televisada, muitos foram os comentários e críticas. De "fogo amigo" a "pisão no tomate", ninguém sequer chegou perto da realidade. Bom, ao menos até agora.

O periódico espanhol El País saiu com outra visão do ocorrido, a meu ver mais coerente com as reais injunções por trás dos fatos. Segue um trecho da matéria (grifos meus):

 

Temer faz ‘ensaio presidencial’ e ganha críticas até da oposição

Ministro de Dilma defende que vice-presidente renuncie, caso impeachment seja barrado

Afonso Benites
Brasília 12 ABR 2016 - 16:31 CEST

Depois da carta vazada, o áudio vazado. Com a divulgação "por acidente" de um áudio em que fala praticamente como presidente, Michel Temer (PMDB) implodiu nesta segunda-feira qualquer possibilidade de relacionamento com a presidenta Dilma Rousseff (PT) e angariou críticas até da oposição que trabalha pela queda da petista. O vice-presidente voltou a protagonizar momentos que talvez nem os melhores roteiristas fossem capazes de elaborar e instalou mais uma vez a dúvida sobre acidentes e intencionalidades estratégicas em seus gestos públicos.

O primeiro capítulo desta novela ocorreu em dezembro passado, com uma carta enviada àmandatária dizendo que ele se sentia um "vice decorativo". Naquela época, o PMDB ainda estava no Governo e o processo de impeachment tinha começado a tramitar na Câmara dos Deputados havia apenas cinco dias. Nesta segunda-feira, a quatro dias do início da votação da destituição da presidenta, com parte dos peemedebistas agindo na bancada oposicionista e o placar do impeachment ainda indefinido, veio a nova entrega. Desta vez foi uma gravação que circulou entre um grupo de WhatsApp de deputados do PMDB em que Temer falava de seus planos e desafios futuros como possível líder da nação.

 

Meu pitaco:

Temer é muito velho e muito experiente para "vazar" coisas que não sejam absolutamente intencionais. Ele é o diabo em pessoa, ou não estaria à frente do PMDB — a maior agremiação de raposas felpudas da política nacional.

Diz um dito popular que "Mais sabe o diabo por ser velho que por ser diabo." que se e entende assim: "O diabo sabe das coisas porque é velho, não porque édiabo." Assim éTemer. Chegando aos 80 ele só encontra rival em Sarney e ainda tem a finesse que falta ao outro.

Ao contrário do que viu a mídia nacional e opositores do impeachment como Álvaro Dias (PV-PR) e Júlio Delgado (PSB-MG) citados na reportagem, acredito que Temer quis sim enquadrar a banda rebelde do PMDB do Rio de Janeiro — capitaneada pelos Picciani e pelo prefeito Paes —, assim como balançar o muro onde se empoleiraram indecisos. Foi um gesto ousado, quase um gambetto, mas no xadrez como na política, não há gambito do Rei .

 

Links:

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todos os comentários são bem-vindos — inclusive anônimos —, sejam para criticar, corrigir, aplaudir etc. Peço apenas que sejam polidos, pertinentes à postagem e que não contenham agressões ou ofensas.