Removendo o véu

Preâmbulo

Uma das coisas que gosto de fazer é dar tratos à bola e daí meu gosto pela análise política. Nada é tão fátuo quanto a política, especialmente aqui.

Ao contrário dos "profissionais", não tenho fontes. Não gozo da amizade de deputados, senadores, juízes e que tais. Nem aqui na minha cidade. Apesar de ter um ex-prefeito como vizinho, faz mais de ano que troquei algumas palavras com ele, e sobre trivialidades. Isto posto, não tenho inside information alguma, nem do homem do cafezinho, nem da faxineira.

A informação com que trabalho quase sempre vem conspurcada por opiniões equivocadas de mais de uma pessoa. Eu preciso remover o véu para ver o que eles viram e não entenderam, e mais: o que NÃO viram.

Através de meu feeder, recebo material de jornais, revistas, blogs, vídeos — nacionais e estrangeiros —, e deles vou tirando minhas conclusões. Material enviado por e-mail e WhatsApp também ajuda. É com a soma de várias fontes que consigo preencher as lacunas para poder fazer uma análise minimamente verossímil.

Impeachment: Vai ou não vai?

Apesar da torcida a favor, estou cético quanto às possibilidades do atual pedido de impeachment de Dilma passar pela Câmara. Ou melhor: estava!

Convenhamos, nosso processo de impeachment de um Presidente foi feito para NÃO ACONTECER. Vamos enumerar os passos sem entrar em minudências:

1. Caracterização do crime: O presidente da República precisa ter cometido um ou mais crimes como aqueles arrolados no art. 4º da Lei 1.079/50 e seus incisos, ou os do Código Penal.
2. Admissão do pedido: Aqui, a maior parte dos pedidos é arquivada. O presidente da Câmara aceita ou recusa o pedido discricionariamente. Na verdade é até pior — ele pode nem se manifestar a respeito (diz-se que "sentou" em cima), como fez o Cunha recentemente, e não há prazo para deliberar. Há várias etapas aqui, mas a importante mesmo é a admissão por um mínimo de dois terços dos deputados (342 dos 512) de que o presidente deve ser julgado: crimes comuns pelo STF, crimes de responsabilidade pelo Senado presidido pelo Presidente do STF. O presidente será então afastado do cargo por até seis meses, mas o STF resolveu inovar: agora vai depender também da aceitação pelo Senado.
3. Julgamento: No Senado, ouvidas a acusação e defesa do réu, este é condenado se obtiver a anuência — novamente — de dois terços dos senadores (54 dos 81).
4. Sentença: Se absolvido o presidente reassume automaticamente o cargo. Se condenado, será imediatamente destituído.

Como se vê, há um monte de cascas de banana onde o processo pode escorregar. É basta uma! Uma escorregadela e volta-se à estaca zero. Ainda assim, desde ontem, passei a flertar com o outro lado dessa história.

Otimista ou pessimista? Pragmático!

O divisor de águas foi a saída do PMDB da base governista. Um ou outro pode pensar que foram as manifestações — gigantescas todas elas —, mas não, foi o PMDB.

Pode parecer menosprezo cívico mas é pura análise dos fatos. Vá lá, façamos uma concessão: o PMDB saiu por causa das manifestações, mas não por civismo, amor à pátria ou pelo povo. Nada disso! Foi por amor ao poder. O PMDB existe a mais de meio século e está no poder há mais de trinta anos! Não se chega a uma marca dessas por sorte. Duas "qualidades" se destacam: não são ideológicos e têm um fino faro para o humor popular. Dizem que os animais fogem instintivamente para os locais mais altos antes de um tsunami; Assim é o PMDB com os governos.

Outro animal político é Maluf. Sua declaração de que mudaria o voto para "a favor do impeachment" é outro sinal inequívoco de que a maré virou. E ele ainda disse mais: "a vinda de Lula para o governo foi uma atitude estúpida". Claro! De uma vez mostrou-se que o governo Dilma era incompetente e fraco; um tiro na testa.

Conclusão:

Agora, ponha-se no lugar daqueles políticos venais que passam pelo Golden Tulip de Brasília para ouvir a proposta do quase-ministro Lula. Dizem que só de cargos de segundo e terceiro escalão o PMDB está abrindo mão de seiscentos (600!). Ministérios seriam seis ou sete. E por que? Estaria o PMDB fora do seu juízo perfeito em abrir mão de tal butim?

Ora, claro que não! Porque cargos e ministérios SEM DINHEIRO, sem verba orçamentária, não servem para nada. É só um título, nada mais. LEMBREM-SE: ESTE GOVERNO ESTÁ FALIDO! Não é exagero não. Faliu mesmo! Não há mais dinheiro. O caixa está zerado. Pior! Está negativo — há um imenso deficit a cobrir.

Voltemos aos venais. Vocês acham que algo que o PMDB desdenha serviria para eles? Também acho que não. Eles são venais, mas não são burros, nem ideológicos. Só se alinharão com o PT os imbecis e os de mesma ideologia porque quem votar com eles estará condenado nas próximas e futuras eleições.

E não é só. É dos municípios, das "bases" como dizem, que virão os votos para mais um mandato parlamentar, uma governança estadual — e porque não dizer — uma presidência.

Outro complicador: o pagamento da nojenta compra de votos (ou de ausências) é para depois do processo de impeachment. Quem entrar nessa o fará ZURRANDO de "satisfação". O PT, gordo dos dinheiros surrupiados da Petrobrás, de outras estatais e dos seus fundos de pensão, não poderá USAR O DIM-DIM já que Moro está de olho. Então, a proposta é votar pela Dilma à vista e receber a paga lá pelas calendas. Lula procura por 172 otários.

Tudo somado e subtraído, não há outra medida a tomar. O governo Dilma é tóxico, o PT é tóxico. Ficar junto a essa gente é puro suicídio e estamos num ano eleitoral. Muitos deputados serão candidatos a prefeito. Vocês acham que quem votar a favor de Dilma terá chances?

Os "heróis" de amanhã serão os cavaleiros que matarem o dragão hoje.

Dilma, o dragão