sábado, 10 de setembro de 2011

Muito dinheiro no bolso

Gostei muito desse texto que li no blog do Reinaldo Azevedo, tanto que ele me inspirou um outro próprio que publicarei a seguir. A imagem é emblemática; o texto também. Vale conferir...

Cidadãos indignados, de todas as idades, protestam em Brasília.
Foto de Eraldo Peres, da AP


No dia em que milhares de brasileiros saíram às ruas para protestar contra a corrupção, a UNE não saiu, não!
É que a UNE estava contando dinheiro.
O governo petista já repassou aos pelegos mais de R$ 10 milhões e vai dar outros R$ 40 milhões para eles construírem uma sede de 13 andares, que serão ocupados pelo seu vazio de idéias, pelo seu vazio moral, pelo seu vazio ético.

No dia em que milhares de brasileiros saíram às ruas para protestar contra a corrupção, a CUT não saiu, não!
É que a CUT estava contando dinheiro.
O governo petista decidiu repassar para as centrais sindicais uma parte do indecoroso imposto cobrado mesmo de trabalhadores não-sindicalizados. Além disso, boa parte dos quadros das centrais exerce cargos de confiança na máquina federal.

No dia em que milhares de brasileiros saíram às ruas para protestar contra a corrupção, o MST não saiu, não!
É que o MST estava contando dinheiro.
O movimento só existe porque o governo o mantém com recursos públicos. Preferiu fazer protestos contra a modernização da agricultura.

No dia em que milhares de brasileiros saíram às ruas para protestar contra a corrupção, os ditos movimentos sociais não saíram, não!
É que os ditos movimentos sociais estavam contando dinheiro.
Preferiram insistir no seu estranho protesto a favor, chamado “Grito dos Excluídos”. Na verdade, são os “incluídos” da ordem petista.

Os milhares que saíram às ruas, com raras exceções, não têm partido, não pertencem a grupos, não reconhecem um líder, não seguem a manada, não se comportam como bando, não brandem bandeiras vermelhas, não cultuam cadáveres de falsos mártires nem se encantam com profetas pés-de-chinelo.

Os milhares que saíram às ruas estudam, trabalham, pagam impostos, têm sonhos, querem um país melhor, estão enfarados da roubalheira, repudiam a ignorância, a pilantragem, lutam por uma vida melhor e sabem que a verdadeira conquista é a que se dá pelo esforço.

Os milhares que saíram às ruas não agüentam mais o conchavo, têm asco dos vigaristas que tomaram de assalto o país, não acreditam mais na propaganda oficial, repudiam a política como exercício da mentira, chamam de farsantes os que, em nome do combate à pobreza, pilham o país, dedicam-se a negociatas, metem-se em maquinações políticas que passam longe do interesse público.


Uma parte parte da minha infância, toda a minha adolescência e início da minha vida adulta passou-se na ditadura. É bom que se diga que sofríamos restrições como a censura prévia, vigilância oficial a órgãos como UNE, DAs e DCEs, a deduramento eventual de infiltrados e coisas assim, mas tocava-se a vida com normalidade, isto é, estudávamos, divertíamos, praticávamos esportes, íamos a teatros, shows, cinema... Havia os festivais de música e a MPB bombava a 1000. Posso confessar, era demais!

Ser "rebelde" ou "subversivo" — que era como os militares se referiam a qualquer um não conforme — era uma arte. Na verdade, era tudo muito romântico. O negócio era criar um ar de rebeldia — muito eficiente para os namoros — e ficar naquela de falar mal do governo, cantar músicas, tocar violão e namorar. Passávamos o tempo entre cantorias, bebedeiras, bitocas e amassos; um misto de mise en scène e de joie de vivre.

Os subversivos mesmo eram uns porra-loucas que invadiam quartéis e delegacias para roubar armas, praticavam assaltos a bancos e sequestros, jogavam bombas em quartéis, matavam e morriam; geralmente açodados por um porra-louca-esperto que nunca punha a cara de fora para não queimar os bigodes. Não me pergunte sobre essa gente porque nunca fui dessa turma.


O nosso negócio mesmo era cantar "músicas de protesto", a forma como disseminávamos nossa inconformidade e formávamos opiniões. Como eram geniais as composições de Chico, Vandré, Elis, MPB4, Milton, Capinam, Edu Lobo, Caetano e Gil... Ah, saudades do Gil daqueles tempos, porque o Gil de hoje devia estar contando dinheiro.

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