segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Onde nasce a corrupção?

Como tudo que há de bom e ruim no mundo ela nasce de nós. Não adianta muito apontar um dedo, sempre haverão outros três apontados para nós mesmos. Resumindo: nós somos os culpados. E já que os somos, cabe a nós encontrar soluções. Vejamos alguns exemplos de causas e efeitos:

Obras no Maracanã pagariam três Itaquerões (Cláudio Humberto - 19/Set/2011)
Os sucessivos governos do Rio descobriram um campo fértil para torrar o dinheiro público em obras para empreiteiras amigas. O Maracanã passa pela terceira reforma geral em apenas dez anos, com custos que já somam R$ 1,1 bilhão, suficientes para construir três estádios novos do Corinthians (R$ 470 milhões cada), o Itaquerão. A Odebrecht papou duas reformas nesse jogo, nos governos Rosinha e Cabral.

Hum, a Odebrecht que "papou" duas reformas do Maracanã, é também a empreiteira que constrói o Itaquerão. Voltaremos a ela mais tarde. Agora faremos algumas comparações por ordem de grandeza:
  • Só esta reforma do Maracanã daria para construir mas de uma Alianz Arena (1,37 para ser mais exato), talvez o mais belo estádio do mundo. Se somássemos com as outras duas reformas já feitas — e que não serviram para nada —, além do custo de construção do Engenhão, acho que poderíamos fazer todos os jogos da Copa no Rio de Janeiro mesmo.
  • O Itaquerão, orçado acima por "módicos" meio-bilhão de reais, já é dado como inadequado pela FIFA. É que o projeto orçado foi para um estádio para 45 mil torcedores (para serem chamados espectadores eu exijo antes um teste de conforto) e a FIFA exige o mínimo de 65 mil. Ôpa! Para fazer esse puxadinho a Odebrecht quer um adicional e a obra vai aí para o 1 bilhão de reais. São só mais 530 milhões. O puxadinho é mais caro que a obra toda! Bestial, pá!
  • Outro exemplo, o Engenhão, também construído pela Odebrecht, custou a ninharia de R$ 380 milhões — 6 (seis!) vezes mais que o valor original orçado — para uma plateia de 46 mil torcedores. Dizem que será reformado para comportar 60 mil até as Olimpíadas. Alguém arrisca o nome da empreiteira?
  • E pensar que aqueles alemães primeiro-mundistas gastaram só 802 milhões de reais para fazer a Allianz Arena... E não fizeram em Itaquera não! É preciso voar por sobre aquele estádio para se ter uma real noção do que estou falando.
Bom, acho que deu para passar a ideia por trás dessas obras, nossas e deles. A questão é, por que elas são tão mais caras aqui? Note que eu "nem mencionei que elas são de pior qualidade também, só disse "mais caras". Se você disse "corrupção", acertou. Corrupção custa caro. Boa parte daqueles custos é dinheiro que foi, é ou será desviado para outras funções menos nobres como, por exemplo, financiamento de campanhas políticas e pagamento de palestras de ex-presidentes. Nossa Odebrecht, por exemplo, é a maior contratante das milionárias palestras de um tal de Luíz Inácio. Tem uma orelha minha à frente dessa pulga...

Mas Lula não é o único culpado; é só mais um. As campanhas políticas, por exemplo, são absurdamente caras aqui no Brasil, um país de dimensões continentais. Grandes também são os estados. Minas Gerais, por exemplo, tem aproximadamente o mesmo tamanho da França, o que não dizer de outros ainda maiores. É aí que o voto distrital pode ajudar e muito. Abaixo eu cito trecho de um artigo do Reinaldo Azevedo.

Voto distrital
A única — ÚNICA!!!—- maneira de baratear a eleição e, de fato, diminuir o peso do dinheiro (e, pois, as chances de corrupção) é o voto distrital. Por quê? Cada partido escolheria UM ÚNICO candidato em cada distrito. O país tem 513 deputados e, creio, terá em 2014 uns 127 milhões de eleitores. Grosso modo, cada distrito teria pouco mais de 247 mil eleitores. Em vez de ter de disputar eleição no estado inteiro, o candidato se concentraria naquela que é a sua área. A campanha ficaria mais barata, necessariamente — corrupção a menos. Não só isso: ele faria uma espécie de campanha majoritária; teria de convencer os eleitores e de ter efetiva representação numa determinada área. Cai a chance de um mero porta-voz de uma corporação ou de um lobby sair vencedor.

Outra medida saneadora — e que só vi citada aqui neste blog — é a proibição de doações para campanhas ou partidos políticos oriundas de pessoas jurídicas (i.e. empresas). Empresas, instituições, fundações e que tais NÃO VOTAM, então não há porque interferirem numa eleição com seu vultoso financiamento. E nós sabemos que as empresas, como a empreiteira mencionada acima (todas as empresas fazem o mesmo — só não as citei para economizar espaço e tempo), não jogam para perder. "Doam" para todos, à direita, à esquerda e ao centro, sem distinção. Não importa quem venha a ganhar, a "gentil doadora" saberá que tem como e onde cobrar. Nós, os contribuintes, pagaremos a conta no final.

Façamos assim então: removemos do processo de financiamento todos os intermediários, isto é, quaisquer formas de pessoas jurídicas. Também não é preciso qualquer Financiamento Público, como defende o PT. É só mais um intermediário para o nosso bolso. Retirados os middlemen, faríamos doações a quem nos aprouvesse, por sua simpatia, lábia ou, em última análise, por suas propostas. Erros e acertos por nossa conta, tudo ficaria bem mais barato. Nos EUA empresas não podem contribuir e mesmo as pessoas físicas têm um teto de contribuição. Se com todo esse cuidado eles ainda têm corrupção, imaginem se lá fosse como aqui. Deu até medo...

Olhando a coisa assim, não é de se admirar que paguemos tanto e obtemos tão pouco. Cada vez mais, ano após ano, campanha após campanha, a corrupção suga nossos recursos e nossas esperanças. Não é à toa que Millôr Fernandes disse uma vez "O Brasil é uma sucessão de governos médios; o atual pior que o que passou, mas ainda melhor que aquele que está por vir."

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