quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O DNA da corrupção

Por que não estou surpreso com mais este escândalo?

Porque não há nada de novo no que fez Pedro Novais. Ele, e muitos outros antes dele, fizeram, fazem e farão. Vai muito além das suas forças (deles), está no DNA. Mas o que fez Pedro? Segundo matéria da Folha de terça-feira (13), o ministro foi denunciado por suposto uso indevido de dinheiro público. Novais pagou uma governanta com recursos da Câmara dos Deputados (i.e. nossos dinheiros) durante sete anos! O mesmo informativo publica hoje que a mulher de Novais usaria como motorista particular um funcionário lotado no gabinete de um aliado de Novais, o deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA), sabe-se lá por quanto tempo. Doeu?!

O ministro do Turismo, Pedro Novais: fim da linha ( Roberto Stuckert Filho/PR)

Mas "fim da linha" só?! Devia-se mandar prender o pilantra, sua mulher, o motorista e aquele deputado "aliado", todos por peculato. E isso só para começar, porque se olharem com cuidado, vão encontrar muito mais sujeira sob aquele tapete.

Vida de deputado não deve ser muito fácil. Uma pesquisa rápida pela Internet me revelou o quanto custa por mês ao erário, que é como chamam nosso bolso, uma figura abjeta dessas:
  1. Salários (último reajuste foi de 61,7%): R$ 26.700,00
  2. 13º, 14º e 15º salários (3 × 26.700,00 ÷ 12): R$ 6.675,00
  3. Auxílio moradia (deputado = sem teto): R$ 3.000,00
  4. Cota telefônica: R$ 4.000,00
  5. Passagens: R$ 9.000,00
  6. Jornais e revistas: R$ 1.000,00
  7. Assistência médica: R$ 8.000,00
  8. Verba indenizatória: R$ 15.000,00
  9. Verba de gabinete (i.e. aquela que pagou a doméstica e o motorista): R$ 60.000,00
In totum, sai por módicos R$ 133.375,00 e os ilustres representantes (Ha! Ha! Ha!) só pagam imposto de renda sobre o "salário". É bom deixar claro que nem todos os valores acima são exatos, mas são suficientemente próximos para lhes passar a ideia.

Então, se é este o custo mensal de cada um dos 513 "ilustres", somente a Câmara Baixa consome R$ 68.421.375,00 por mês. Notem, este custo é apenas o dos ilustres deputados. Anualizado, o saque ao Tesouro monta a estratosféricos R$ 821.056.500,00. Mas quanto nos custaria o Congresso? Um estudo da ONG Transparência Brasil, com dados de 2007 (estranhamente não se encontra nada mais recente) diz que o Congresso consumiu R$ 6.068.072.181,00 naquele ano. Ora, isso são valores bem antes do aumento de 61,7% — que é bom dizer — aplica-se aos parlamentares e aos funcionários daquelas Casas. Deixo a matemática com vocês, mas uma cifra dessas é tão alta que deve ser expressa como percentagem do PIB.

Eu não quero ficar com picuinhas. Deputado, Senador — não importa —, merecem receber justo pagamento pelo seu tempo. Todo trabalho merece paga. Ponto. O que incomoda a todos nós, estou bem certo disso, são os adereços do salário que cada um deles leva. Se os ilustríssimos precisam de todos aqueles badulaques, COMPREM-NOS COM SEU PRÓPRIO DINHEIRO, não com o nosso. O nosso, senhores, custa muito para ser ganho.

É justo que um parlamentar receba seu salário de R$ 26,7 mil mais o 13º e as férias. Um bom plano de saúde também é lícito, mas não precisa ser um que custe R$ 8 mil por mês. Se quiser UTI aérea que pague do seu bolso. Digamos que cubra o atendimento em Brasília, que é onde o ilustríssimo é esperado para trabalhar. Para outras praças, use o próprio bolso. Resumindo, uns R$ 30 mil por mês cobriria TUDO muito bem. Se Vossas Excelências acham pouco, largue para lá essa coisa de ser parlamentar e abram uma consultoria — o Palocci pode dar dicas. Ficou bem melhor assim, bem mais republicano. Dos atuais R$ 133.375,00 mensais para "módicos" R$ 30 mil, uma economia de 77,51%. Belo exemplo!

Mas o que estou dizendo? Tudo isso aí são conjecturas. O cerne da questão não é nem o custo absurdo daquela casa. O real problema é a CONIVÊNCIA de todos que a habitam quando o negócio é roubá-la. São TODOS cúmplices — sem exceção — ou querem que eu acredite que o "colega deputado", o garçom do cafezinho, a moça do xerox e o ascensorista daquela casa, não sabiam que a "doméstica" do Novais e o motorista da mulher do Novais estavam na mesma folha de pagamento deles. Muitos sabiam e se calaram. A começar pela "doméstica" e pelo motorista, muitos se calaram para manter a conveniência das migalhas que caíam — por sete anos ou mais — do cocho dos Novais.

O crime é tanto por ação ou omissão. Somos um país de criminosos, ou de omissos quando muito. Ou isto muda ou está em nosso DNA.

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