sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Inflação, decepção: a volta depois do oba-oba

Diz o dito popular que "alegria de pobre dura pouco". Isto é uma meia-verdade ou meia-mentira, como queiram, mas pobreza não tem nada a ver com isso. Irresponsabilidade e ignorância, sim.

O país fez um esforço imenso, por várias vezes, e finalmente venceu a inflação. Onde todos os outros fracassaram, o Plano Real vingou. Não foi barato nem fácil, mas deu certo. Saímos daquele círculo vicioso, paramos de correr atrás do próprio rabo. Começamos um novo ciclo de crescimento econômico, agora com moeda de verdade. Os resultados conquistados eram palpáveis, não mais o lucro fátuo de antigamente. O dinheiro podia voltar a ficar na carteira ao invés do overnight. No início, foi com surpresa que notamos que os preços das compras não mais subiam a cada dia, cada semana. E pasmem, os preços estavam (e estão) livres! Não havia nenhuma lei proibindo a remarcação — vivíamos a "utopia" do livre mercado, da estabilidade.

Dentre as muitas distorções causadas pela inflação, a principal e mais evidente é na distribuição de renda, já que assalariados não têm a mesma facilidade para repassar seus "aumentos de custos" como o empresariado e os governos. Para quem podia "jogar o jogo", especialmente os bancos, um bom negócio. O ônus do festim ia para os burros de carga da sociedade, geralmente os trabalhadores de baixa qualificação e os pobres. Acabar com a inflação foi o maior ato de justiça para com a classe operária e para com os pobres nestepaiz. Ponto. Estranhamente, havia gente contra. Muitos dos chamados "partidos progressistas" — PT à frente — repudiaram a novidade. Alguns petistas foram sumariamente expulsos do partido por se alinhar com Itamar ou FHC.

Moeda forte e inflação controlada, o país precisou se ajustar. Lei de Responsabilidade Fiscal, Regime de Metas de Inflação e Câmbio Flutuante foram alguns ajustes. Novamente, PT e "progressistas" foram contra. Como no chavão anarquista: "Si hay gobierno, soy contra!". Por anos rimos deles, até Lula chegar ao poder. Estranhamente, e contrário ao que dizia na sua "Carta ao Povo Brasileiro", o governo Lula foi bastante conservador. Para lhe fazer justiça, nada é mais conservador que Henrique Meirelles — um tucano — na presidência do Banco Central. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, conseguiu ser mais conservador que seu antecessor, Pedro Malan. Mas eu os desafio a ler a carta novamente para constatar o que foi cumprido daquilo que foi dito. Lula dizia na "carta" que no governo FHC:
  1. "economia não cresceu" — verdade, cresceu pouco, especialmente por enfrentar várias crises internacionais, inclusive aquelas especulativas contra a moeda.
  2. "corrupção em alta" — brincadeira, quando se compara com os níveis que a corrupção atingiu nestepaiz; primor de eficiência do lolupetismo.
  3. "crise social e a insegurança tornaram-se assustadoras" — outra brincadeira, já que agora se matam juízes na rua e explodem ATMs de bancos aos montes.
  4. "fracasso do atual modelo" — modelo este mantido por Lula e sua equipe; onde enfiaram o tal "alternativo"?
  5. "o enorme endividamento público acumulado no governo FHC" — uma pérola; trocamos dívida externa (R$295 bilhões) a juros de 5% a.a. por uma dívida interna (R$892,4 bilhões para R$1,5 trilhões) a uma taxa média de 15 a.a. (26,5 a 11,25) nos seus 8 anos — explicando: comprou-se uma dívida de 295 bi, que pagava 14,8 bi de serviço, por um adicional de 607,6 bi na dívida interna que pagava 91 bi de serviço — negoção!
  6. "reforma tributária que banisse o caráter regressivo e cumulativo dos impostos" — será que eu preciso comentar a maior carga tributária da história destepaiz?
  7. "Compromisso pela Produção, pelo emprego e por justiça social" — ele ainda está devendo parte dos 10 milhões de empregos dos primeiros 4 anos e todos os 10 do segundo mandato; a produção cresceu porque o mercado mundial cresceu (i.e. cresceu para todos e até para nós, apesar de Lula) e fez justiça social comprando votos com o Bolsa Família, criando uma nova classe de párias da sociedade.

Passado o oba-oba, vem a cobrança implacável. Nossa indústria se mostra incapaz de competir com o mercado externo, ao ponto de precisar de uma ajudinha (i.e. sobretaxa) de 30% sobre produtos de alguns concorrentes asiáticos. A inflação retorna, já teria explodido em nossa cara não fosse o governo manter o preço da gasolina artificialmente baixo — a Petrobrás chega a perder 30 centavos em cada litro de gasolina importada —, dentre outras chicanas. Sucesso mesmo, só na corrupção e no aparelhamento do estado. A canalha, encastelada em todas as esferas do poder, não dá sinais de cansaço. Se deixarmos eles vão ficando, ficando, ficando...

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