O título acima foi inspirado numa fala de Einstein. Dentre seus muitos pensamentos, existe um em que ele diz:
Two things are infinite: the universe and human stupidity; and I'm not sure about the universe.
que nós traduzimos assim:
"[Existem] duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana; e eu não estou [absolutamente] certo sobre o universo." Pois bem, ficou meio literal mas, na essência, é isso aí. Na visão do gênio, a estupidez consegue ser ainda maior que o universo. Acho que agora entendo melhor o
Dr. Jatene.
Eu fiz este preâmbulo porque acabo de ler uma matéria na
Deutsche Welle que reporta a vitória do Partido Pirata (Piraten Partei) para a Câmara Estadual de Berlim, algo como nossa Assembleia Distrital do DF. Com 9,8% dos votos, o Partido Pirata Alemão certamente terá bom número de representantes. A eleição, entretanto [ainda bem], foi vencida pelo Partido Social Democrata (28,3%) enquanto que o partido da Chanceler Merkel, a Democracia Cristã, fez 23,4%. É necessário um mínimo de 5% dos votos para obter direito a assento no parlamento, então os 9,8% dos Piratas deve render duas cadeiras lá, ou mais.
A Europa tem dessas coisas. Vez por outra surge um movimento com novas ideias e nasce mais um partido "progressista". Deve ser o tédio. Foi assim com os Verdes, assim será com os Piratas. Enquanto os Verdes defendem a ecologia, o meio ambiente, a exploração sustentável de recursos naturais, combatem o aquecimento global, e que tais, qual é a proposta dos Piratas? Ora, a pirataria!, o que mais?
Lendo a entrevista que Sebastian Nerz — o grande vencedor da eleição — deu a Silvia Engels da Deutschlandfunk, é para ficar pensando seriamente naquilo que Einstein falou. Cito partes (minha tradução):
Deutschlandfunk: Transparência, isto é, tornar toda a informação pública e dar acesso livre e gratuito à Internet são as principais bandeiras dos Piratas. O que mais vocês têm a oferecer?
Sebastian Nerz: Primeiro, e mais importante, o Partido Pirata é pelos direitos fundamentais. Nós nos focamos nos direitos civis porque é uma área negligenciada pelos políticos.
DF: Isso é um tanto vago — todo partido democrático está comprometido com direitos fundamentais. Onde você acha que eles são negligentes?
SN: Em tudo! Nos últimos anos [pós 11/Set/2001] novas leis de segurança e vigilância foram aprovadas à custa dos direitos individuais; algumas aprovadas sem discussão real ou debate. A pergunta é, as leis atuais são razoáveis. O debate atual é sobre retenção de dados, com aprovação da maioria dos parlamentares do Bundestag [Parlamento Nacional Alemão] — sem se perguntarem se é uma boa ideia.
DF: Existem demandas que não estão no programa nacional do partido, por exemplo o transporte público gratuito em Berlim, a garantia incondicional de uma renda mínima [e.g. Bolsa Família] e a liberação do consumo de maconha. Como os Piratas planejam levar tais propostas para o plano nacional?
SN: É [será] um grande desafio. No plano nacional já concordamos com o ReSET, ou a garantia incondicional de uma renda mínima para todos. O transporte público gratuito também pode ser parte disso. Poder se locomover livremente pela Alemanha é um direito básico, mesmo quando é limitado por tarifas extorsivas. Se você vir quanto dinheiro é gasto no controle de bilhetes de transporte, verá que transporte público não é assim tão mau.
DF: Não, isso não soa mau, mas em vista do déficit orçamentário de Berlim, é bem ingênuo.
SN: Certamente o transporte público gratuito seria relativamente caro no início. Mas veja quanto o Estado joga no transporte individual, por exemplo quando constrói estradas, e se você considerar que as pessoas já estão pagando pelo transporte público — comprando passagens e pagando impostos — eu não acho que nossa proposta seja fora de propósito.
DF: Vários partidos de protesto se tornaram grandes decepções quando confrontados com a realidade. Como vocês pretendem evitar isso?
SN: Nós vamos continuar fazendo o que sempre fizemos. Nós tentamos criar estruturas abertas e transparentes e, nas reuniões do partido, nós discutimos intensamente sobre aquilo que fazemos. Agora mesmo estamos lutando para não sermos varridos. Se conseguirmos, não vejo porque não possamos ser um sucesso.
Resumindo o pensamento do pirata, uma colossal bobagem, um besteirol. Proselitismo barato e sem sentido, nonsense. Notem que o discurso é "tudo de bom para vocês". "Nós abriremos o cofre e repartiremos as riquezas entre os povos". Palmas, palmas, palmas! Quando o dinheiro acabar, acontece aquilo que a repórter da Deutschlandfunk bem salientou: "tornam-se uma grande decepção". O sujeito diz que "estradas são feitas para transporte individual" e quero crer que ele estava sob o efeito do último baseado para proferir tamanha estultice. E mais, cabe uma palavra sobre "tarifas de transporte extorsivas e controle de bilhetes": a tarifa é bastante módica e cobre todos os quatro sistemas de transporte. O tempo de espera médio é de 10 minutos e a tarifa mais barata cobre uma área equivalente à Grande BH. E mais, não há roleta! Você entra nos transportes e espera-se que esteja com o bilhete. Se um fiscal te pedir e ele não estiver, bem... você será preso! Nos mais de 20 dias que passei por lá, nunca me pediram, mas sempre o tive comigo. Cidadania começa nas pequenas coisas.
Eu não quero forçar a barra — reparem que nem mesmo grifei trechos da entrevista — mas parece que já ouvi essa história noutros lugares e noutras épocas. Nem vou citar nosso próprio balacobaco, mas notem como "certas propostas" dessas já foram ouvidas em Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador... Os primeiros da lista já estão na fase da "grande decepção", os demais logo seguirão. Não há progresso possível com os "progressistas" pelo simples fato de que o maná não cai dos céus. Eles sempre falam em "distribuir riquezas", nunca em produzi-las antes de distribuí-las.
Para fechar, algumas palavras sobre o nosso próprio quintal: esse tipo de retórica também existe aqui. Por oito anos o lulopetismo surfou alegremente num Brasil com inflação debelada, um estado razoavelmente saneado — mas com muito ainda por fazer —, estatais privatizadas que pagam impostos e geram empregos ao invés de sacar fundos do Tesouro e fabricar "cabides", e um imenso potencial para crescer. É bom dizer que tudo isso foi conseguido em meio a quatro grandes crises internacionais no período entre os governos Collor-Itamar e FHC, período este em que o PT foi sempre CONTRA.
Pois bem, Lula teve oito anos com céu de brigadeiro, a economia mundial a pleno vapor, cofres cheios e tal. O país cresceu. Mas cresceu também a corrupção, o clientelismo, o roubo descarado do estado, o completo escárnio para com a opinião pública. Tal e qual um
Rei Aúgias, ele criou seus bois imortais sem se preocupar com o acúmulo de excremento nos
estábulos.
Na bonança, Lula só produziu esterco, e o pior, não existe no Planalto um rio que possa ser desviado para limpá-los. Troque bois por votos, troque estábulos por curral eleitoral; o cheiro e a sujeira são iguais.
Contrário ao common sense, pouco ou nada foi feito em infraestrutura. As cidades estão atulhadas de carros e engarrafadas, o transporte público piorou, não há metrôs nem trens. Faltam-nos também estradas, ferrovias, portos, aeroportos... As obras do PAC ficaram no papel ou por terminar; de fato mesmo só o Bolsa Família, programa criado por FHC e desvirtuado por Lula para comprar votos e que o pirata alemão quer copiar.
Berlim, a cidade do pirata Nerz, tem dois sistemas de metrô independentes (um deles é privado), ônibus double-deckers e bondes, todos moderníssimos. São quatro sistemas de transporte público numa única cidade, tudo interligado e com bilhete único! É tão bom que é raro ver táxis nas suas ruas. A infraestrutura de transportes na Alemanha é exemplo para o mundo, nada que um pirata com discurso manco não possa destruir. Felizmente para os alemães, excrescências como esse Partido Pirata são como voos de galinha — feéricos e curtos — logo sobrevêm queda e decepção. Para mim, o PT é uma grande decepção e já deveria ter caído, mas Lula comprou todos os votos de que precisa.
O PT — como os piratas de lá — não construíram nada, estão destruindo o pouco que temos. Na Europa se elegem "Tiriricas" por bazófia ou tédio; nós por credo. Pois bem, saudemos nosso Pirata Lula, você não está só. Por todo esse universo há espertalhões como você e idiotas como nós. A estupidez humana é mesmo a maior grandeza do Universo.